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Será que Deus existe?

Summary

Neste artigo, o doutor Craig apresenta oito razões por que ele pensa que Deus existe.

Philosophy Now (Nov./Dec. 2013) http://philosophynow.org Usado com permissão.

Em 8 de abril de 1966, a revista Time publicou sua matéria principal com a capa completamente preta, com exceção de três palavras ornadas com letras vermelhas brilhantes contra o fundo escuro: “DEUS ESTÁ MORTO?”. O artigo descrevia o chamado movimento da “morte de Deus”, então corrente na teologia americana. Mas, parafraseando Mark Twain, pareceu que a notícia do falecimento de Deus foi “muitíssimo exagerada”. Isso porque, ao mesmo tempo que teólogos escreviam o obituário de Deus, uma nova geração de jovens filósofos redescobria Sua vitalidade.

Lá pela década de 1940 e 1950, era comum entre filósofos crer que qualquer discussão acerca de Deus é sem sentido, por não ser verificável pelos cinco sentidos. O colapso desse verificacionismo foi talvez o evento filosófico mais importante do século XX. Sua derrocada acarretou o ressurgimento da metafísica, além de outros problemas tradicionais da filosofia que o verificacionismo suprimira. Acompanhando esse ressurgimento, veio algo totalmente inesperado: uma renascença da filosofia cristã.

O ponto decisivo provavelmente veio em 1967 com a publicação de God and Other Minds [Deus e outras mentes], de Alvin Plantinga, que aplicou as ferramentas da filosofia analítica a questões da filosofia da religião, com rigor e criatividade inéditos. No embalo de Plantinga, seguiu-se uma multidão de filósofos cristãos, escrevendo em periódicos especializados, participando de conferências especializadas e publicando nas melhores editoras acadêmicas. A situação da filosofia anglo-americana mudou, consequentemente. O ateísmo, embora talvez ainda o ponto de vista dominante em universidades ocidentais, é uma filosofia em retirada. Em artigo recente, o filósofo Quentin Smith, da Universidade do Oeste de Michigan, lamenta o que chama de “a dessecularização da academia que se expandiu em departamentos de filosofia desde o fim da década de 1960” (‘The Metaphilosophy of Naturalism’, Philo, vol. 4, n. 2, em philoonline.org). Ao queixar-se da passividade dos naturalistas diante da onda de “teístas inteligentes e talentosos ingressando na academia hoje em dia”, Smith conclui: “Deus não está ‘morto’ na academia; ele voltou à vida no fim da década de 1960 e agora está bem vivo em sua última fortaleza acadêmica, os departamentos de filosofia”.

A renascença da filosofia cristã veio acompanhada do ressurgimento de interesse na teologia natural, o ramo da teologia que busca provar a existência de Deus sem recorrer aos meios da revelação divina autorizada — por exemplo, por meio do argumento filosófico. Todos os argumentos filosóficos tradicionais para a existência de Deus, como os argumentos cosmológico, teleológico, moral e ontológico, sem contar novos argumentos criativos, encontram defensores inteligentes e articulados no cenário filosófico contemporâneo.

Mas o que dizer do chamado “neoateísmo” exemplificado por Richard Dawkins, Sam Harris e Christopher Hitchens? Ele não anunciaria uma inversão da tendência? Na verdade, não. Como fica evidente pelos autores com os quais interage — ou melhor, com os quais não interage — o neoateísmo é, de fato, um fenômeno da cultura popular desprovido de músculo intelectual e ditosamente ignorante da revolução que se passa na filosofia anglo-americana. Tende a refletir o cientismo de uma geração passada, e não o cenário intelectual contemporâneo.

Oito razões a favor da existência de Deus

Creio que a existência de Deus é o que melhor explica uma ampla gama de dados da experiência humana. Cito aqui rapidamente oito casos.

1. Deus é a melhor explicação do porquê algo existe.

Suponha que você estivesse caminhando pela floresta e topasse com uma bola largada no chão. Você naturalmente se perguntaria como ela foi parar ali. Se seu parceiro de caminhada lhe dissesse: “Esqueça! Essa bola apenas existe!”, você pensaria que ele estivesse brincando ou apenas quisesse que você continuasse a andar. Ninguém levaria a sério a ideia de que a bola apenas existe, sem nenhuma explicação. Pois bem, observe que simplesmente aumentar o tamanho da bola até que ela coincida em extensão com o universo nada faz para fornecer ou remover a necessidade de uma explicação para que ela exista.

Qual seria, então, a explicação da existência do universo (com “o universo”, quero dizer toda a realidade de espaço-tempo)? A explicação do universo pode estar somente numa realidade transcendente que vai além dele — além do espaço e tempo — e cuja existência é metafisicamente necessária (do contrário, sua existência também precisaria ser explicada). Ora, existe só um modo que consigo pensar em como obter uma entidade contingente como o universo a partir de uma causa necessariamente existente, isto é, se a causa é um agente capaz de escolher livremente criar a realidade contingente. Logo, segue que a melhor explicação para a existência do universo contingente é um ser pessoal transcendente, que é o que todos entendem por “Deus”.

Podemos resumir este raciocínio como segue:

1. Tudo que é contingente tem uma explicação para sua existência.

2. Se o universo tem uma explicação para sua existência, tal explicação se trata de um ser transcendente e pessoal.

3. O universo é contingente.

4. Logo, a explicação para o universo é um ser transcendente e pessoal.

— que é o que todos entendem por “Deus”.

2. Deus é a melhor explicação para a origem do universo.

Temos indícios muito fortes de que o universo não existiu eternamente no passado, mas teve um começo algum tempo finito atrás. Em 2003, o matemático Arvind Borde e os físicos Alan Guth e Alexander Vilenkin conseguiram provar que qualquer universo que, em média, expandiu-se por toda sua história não pode ser infinito no passado, mas deve ter um limite passado no espaço-tempo (isto é, um começo). O que torna a prova deles tão vigorosa é o fato de se manter desde que tempo e causalidade se mantenham, a despeito da descrição física do universo mais inicial. Como não temos ainda uma teoria quântica da gravidade, não conseguimos ainda fornecer uma descrição física da primeira fração de segundo do universo; o teorema de Borde-Guth-Vilenkin, porém, independe de qualquer teoria da gravitação. Por exemplo, seu teorema implica que o estado de vácuo quântico que talvez caracterizou o universo inicial não pode ter existido eternamente no passado, mas deve ter tido um começo. Mesmo se nosso universo é apenas uma minúscula parte do chamado “multiverso”, composto de diversos universos, seu teorema exige que o próprio multiverso tenha tido um começo.

Obviamente, cenários físicos muitíssimo especulativos, como modelos de gravidade quântica em laços, modelos de cordas, até mesmo curvas temporais fechadas, foram propostos na tentativa de evitar esse começo absoluto. Tais modelos estão repletos de problemas, mas a conclusão é que nenhuma dessas teorias, mesmo que verdadeiras, consegue restaurar um passado eterno para o universo. Ano passado, numa conferência em Cambridge em comemoração ao septuagésimo aniversário de Stephen Hawking, Vilenkin apresentou um artigo intitulado “Did the Universe Have a Beginning?” [O universo teve um começo?], que fez uma sondagem da cosmologia atual com relação à questão. Argumentou que “nenhum desses cenários pode ser eterno no passado”. Especificamente, Vilenkin fechou a porta para três modelos que buscam evitar a implicação do seu teorema: inflação eterna, universo cíclico e universo “emergente” que existe pela eternidade como uma semente estática antes de expandir-se. Vilenkin concluiu: “Todos os indícios que possuímos dizem que o universo teve um começo”.

Surge, então, a questão inevitável: por que o universo veio a existir? O que trouxe à existência o universo? Deve haver uma causa transcendente que trouxe à existência o universo — uma causa fora do próprio universo.

Podemos, portanto, resumir este argumento como segue:

1. O universo começou a existir.

2. Se o universo começou a existir, o universo tem uma causa transcendente.

3. Logo, o universo tem uma causa transcendente.

Pela própria natureza do caso, essa causa do universo físico deve se tratar de um ser imaterial (isto é, não-físico). Pois bem, existem somente dois tipos de coisas que possivelmente se enquadrariam nessa descrição: um objeto abstrato como um número ou uma mente/consciência incorpórea. Objetos abstratos, porém, não têm relações causais com coisas físicas. O número 7, por exemplo, não tem nenhum efeito em coisa alguma. Logo, a causa do universo é uma mente incorpórea. Mais uma vez chegamos, então, não simplesmente a uma causa transcendente do universo, mas a seu criador pessoal.

3. Deus é a melhor explicação para a aplicabilidade da matemática ao mundo físico

Filósofos e cientistas ficam perplexos com aquilo que o físico Eugene Wigner denominou “a eficácia desproporcional da matemática”. Como é que um teórico matemático como Peter Higgs pode sentar-se à sua escrivaninha e, ao encher seus rascunhos com equações matemáticas, prever a existência de uma partícula fundamental que, trinta anos mais tarde, depois de investimento de milhões de dólares e de milhares de horas de trabalho, experimentadores enfim consigam detectar? Matemática é a linguagem da natureza. Como, porém, deve ser explicada? Se objetos matemáticos como números e teoremas matemáticos são entidades abstratas isoladas causalmente do universo físico, a aplicabilidade da matemática é, nas palavras da filósofa da matemática Mary Leng, “uma feliz coincidência”. Por outro lado, se objetos matemáticos são apenas ficções úteis, como é que a natureza é escrita na linguagem destas ficções? O naturalista não tem nenhuma explicação para a fantástica aplicabilidade da matemática ao mundo físico. Em contrapartida, o teísta tem uma explicação pronta: quando Deus criou o universo físico, Ele o projetou conforme a estrutura matemática que tinha em mente.

Podemos resumir este argumento como segue:

1. Se Deus não existisse, a aplicabilidade da matemática seria apenas uma feliz coincidência.

2. A aplicabilidade da matemática não é apenas uma feliz coincidência.

3. Portanto, Deus existe.

4. Deus é a melhor explicação para o ajuste fino do universo para a vida inteligente.

Nas últimas décadas, os cientistas ficaram espantados com a descoberta de que as condições iniciais do Big Bang tiveram ajuste fino para a existência de vida inteligência com uma precisão e acuidade que literalmente desafiam a compreensão humana. Este ajuste fino é de dois tipos. Primeiro, quando as leis da natureza são expressas como equações, é possível notar que aparecem nelas certas constantes, como a constante gravitacional. Os valores destas constantes são independentes das leis da natureza. Segundo, além destas constantes, existem certas quantidades arbitrárias que definem as condições iniciais pelas quais as leis da natureza operam — por exemplo, a quantidade de entropia (desordem) no universo. Pois bem, estas constantes e quantidades se enquadram numa gama extraordinariamente estreita de valores propícios à vida. Se elas fossem alteradas em menos do que a largura de um fio de cabelo, o equilíbrio da natureza propício à vida seria destruído e a vida não existiria.

Existem três opções possíveis para tão extraordinário ajuste fino: necessidade física, acaso ou projeto.

Necessidade física não é, todavia, explicação plausível, pois as constantes e quantidades ajustadas finamente são independentes das leis da natureza. Logo, elas não são fisicamente necessárias.

Será que o ajuste fino poderia, então, ser devido ao acaso? O problema com esta explicação é que a chance para todas as constantes e quantidades se enquadrarem na inimaginavelmente estreita gama propícia à vida é tão infinitésima que não pode ser aceita razoavelmente. Assim, os proponentes da explicação pelo acaso são forçados a postular a existência de um “conjunto de mundos” de outros universos, preferencialmente de número infinito e de ordenação aleatória, de modo que universos propícios à vida, como é o nosso, apareçam por acaso em algum lugar do conjunto. Esta hipótese não é apenas, tomando emprestada a expressão de Richard Dawkins, “uma extravagância destemperada”, mas também encara uma objeção insuperável. De longe, os universos observáveis mais prováveis num conjunto de mundos seriam mundos em que um único cérebro se desloca, vindo à existência a partir do vácuo, e observa seu mundo que, de outro modo, estaria vazio. Portanto, se nosso mundo fosse apenas um membro aleatório do conjunto de mundos, com toda probabilidade deveríamos fazer observações desse tipo. Já que não o fazemos, refuta-se com veemência a hipótese do conjunto de mundos. O acaso, então, não é boa explicação. Assim,

1. O ajuste fino do universo é devido ou à necessidade física ou ao acaso ou ao projeto.

2. O ajuste fino do universo não é devido à necessidade física ou ao acaso.

3. Logo, o ajuste fino do universo é devido ao projeto.

O ajuste fino do universo, portanto, constitui-se como indício de um Arquiteto cósmico.

5. Deus é a melhor explicação para estados intencionais de consciência.

Filósofos ficam perplexos com estados de intencionalidade. Intencionalidade é a propriedade para ser acerca de algo ou para ser de algo. Significa a direção de nossos pensamentos para o objeto. Por exemplo, posso pensar acerca de minhas férias de verão ou posso pensar acerca de minha esposa. Nenhum objeto físico possui intencionalidade neste sentido. Uma cadeira ou uma pedra ou uma porção de tecido, como o cérebro, não são acerca de outra coisa nem são de outra coisa. Somente estados mentais ou estados de consciência são acerca de outras coisas. Em The Atheist’s Guide to Reality: Enjoying Life without Illusions [O guia do ateu à realidade: curtir a vida sem ilusões] (2011), o materialista Alex Rosenberg admite o fato e conclui que, para ateus, simplesmente não há estados intencionais. Rosenberg faz a ousada afirmação de que jamais, na verdade, pensamos acerca de algo. Mas isto é incrível! Obviamente estou pensando no argumento de Rosenberg — e você também está! Parece-me uma reductio ad absurdum do ateísmo. Em contrapartida, para ateus, por Deus ser uma mente, não é nenhuma surpresa que deva haver outras mentes, finitas e com estados intencionais. Assim, estados intencionais se enquadram facilmente na cosmovisão teísta.

Podemos, então, argumentar:

1. Se Deus não existisse, estados intencionais de consciência não existiriam.

2. Mas estados intencionais de consciência existem.

3. Logo, Deus existe.

6. Deus é a melhor explicação para valores e deveres morais objetivos.

Em nossa experiência, apreendemos valores e deveres morais que se nos impõem como objetivamente obrigatórios e verdadeiros. Por exemplo, reconhecemos que é errado entrar numa escola primária com uma metralhadora automática e atirar em garotinhos e garotinhas e em seus professores. Do ponto de vista naturalista, contudo, não há nada errado nisso: valores morais são apenas subprodutos subjetivos da evolução biológica e do condicionamento social, não tendo nenhuma validade objetiva.

Alex Rosenberg é brutalmente honesto sobre as implicações de seu ateísmo nesse caso também. Ele declara: “não há nada de... moralmente certo ou errado” (The Atheist’s Guide to Reality, p. 145); “a vida humana individual é sem sentido… e sem valor moral último” (p. 17); “precisamos encarar o fato de que o niilismo é verdadeiro” (p. 95). Em contrapartida, o teísta fundamenta valores morais objetivos em Deus e nossos deveres morais, em Seus mandamentos. O teísta possui, portanto, os meios explanatórios para fundamentar valores e deveres morais objetivos, algo que o ateísta não possui.

Podemos argumentar, portanto:

1. Valores e deveres morais objetivos existem.

2. Mas, se Deus não existisse, valores e deveres morais objetivos não existiriam.

3. Logo, Deus existe.

7. A própria possibilidade da existência de Deus implica que Deus existe.

Para entender este argumento, é preciso entender o que os filósofos entendem por “mundos possíveis”. Um mundo possível é simplesmente uma forma como o mundo poderia ter sido. É uma descrição de uma realidade possível. Assim, um mundo possível não é um planeta ou universo ou algum tipo de objeto concreto, mas uma descrição de um mundo. O mundo real é a descrição verdadeira. Outros mundos possíveis são descrições que não são, de fato, verdadeiras, mas poderiam ter sido verdadeiras. Dizer que algo existe em algum mundo possível é dizer que existe alguma descrição coerente da realidade que inclui tal entidade. Dizer que algo existe em todo mundo possível significa que, não importando qual descrição seja verdadeira, tal entidade será incluída na descrição. Por exemplo, unicórnios não existem de verdade, mas há alguns mundos possíveis em que unicórnios existem. Por outro lado, muitos matemáticos pensam que números existem em todo mundo possível.

Pois bem, com isso em mente, considere o argumento ontológico, que foi descoberto no ano de 1011 [1077/78] pelo monge Anselmo de Cantuária. Deus, segundo observa Anselmo, é por definição o maior ser que se pode conceber. Se fosse possível conceber algo maior do que Deus, esse algo seria Deus. Portanto, Deus é o maior ser que se pode conceber — um ser maximamente grande. Como seria um ser desse tipo? Ele seria onipotente, onisciente, totalmente bondoso e existiria em todos os mundos logicamente possíveis. Um ser que carecesse de qualquer uma destas propriedades não seria maximamente grande: poderíamos conceber algo maior, um ser que tivesse, pois, todas estas propriedades.

Isso implica, porém, que, se a existência de Deus é sequer possível, Deus deve existir. Pois, se um ser maximamente grande existe em qualquer mundo possível, Ele existe em todos eles. É parte do que significa ser maximamente grande: ser onipotente, onisciente, totalmente bondoso em todos os mundos logicamente possíveis. Assim, se a existência de Deus é sequer possível, Ele existe em todos os mundos logicamente possíveis e, portanto, no mundo real.

Podemos resumir este argumento como segue:

1. É possível que um ser maximamente grande (Deus) exista.

2. Se é possível que um ser maximamente grande exista, um ser maximamente grande existe em algum mundo possível.

3. Se um ser maximamente grande existe em algum mundo possível, existe em todos os mundos possíveis.

4. Se um ser maximamente grande existe em todos os mundos possíveis, existe no mundo real.

5. Logo, um ser maximamente grande existe no mundo real.

6. Logo, um ser maximamente grande existe.

7. Logo, Deus existe.

Talvez você se surpreenda em saber que os passos 2 a 7 são relativamente imunes a controvérsias. A maioria dos filósofos concordaria que, se a existência de Deus é sequer possível, Ele deve existir. A pergunta, então, é esta: será que a existência de Deus é possível? Bem, o que você acha? O ateu tem que sustentar que é impossível que Deus exista. Isto é, ele tem que sustentar que o conceito de Deus é logicamente incoerente, como o conceito de um solteiro casado ou um quadrado redondo. A ideia de ser onipotente, onisciente e totalmente bondoso em todos os mundos possíveis parece perfeitamente coerente. Além disso, como vimos, existem outros argumentos para a existência de Deus que, ao menos, sugerem que é possível que Deus exista. Deixo a questão com você. Você acha, como eu, que é ao menos possível que Deus exista? Se sim, segue-se logicamente que Ele de fato existe.

8. Deus pode ser conhecido e experimentado pessoalmente.

Este não é bem um argumento para a existência de Deus; trata-se, antes, de uma afirmação de que é possível saber que Deus existe em total independência de argumentos, ao experimentá-lo pessoalmente. Os filósofos designam crenças apreendidas dessa maneira de “crenças apropriadamente básicas”. Elas não se baseiam em alguma outra crença; antes, são parte do fundamento do sistema de crenças de alguém. Outras crenças apropriadamente básicas seriam a crença na realidade do passado ou a existência do mundo externo. Quando você pensa a respeito, nenhuma delas pode ser provada com argumentos. Como seria possível provar que o mundo não foi criado cinco minutos atrás com aparências integradas de idade, como a comida em nossos estômagos de cafés da manhã que na verdade nunca comemos e traços de memória em nossos cérebros de eventos pelos quais na verdade nunca passamos? Como seria possível provar que você não é um cérebro em um tonel de substâncias químicas estimuladas com eletrodos por algum cientista maluco, para que você creia que está lendo este artigo? Não baseamos estas crenças em argumentos; antes, são parte dos fundamentos de nosso sistema de crenças.

Embora esses tipos de crenças nos sejam básicos, não significa que sejam arbitrários. Pelo contrário, são fundamentados no sentido de que se formam no contexto de determinadas experiências. No contexto experiencial de ver, sentir e ouvir coisas, formo naturalmente a crença de que haja determinados objetos físicos que detecto. Assim, minhas crenças básicas não são arbitrárias, mas apropriadamente fundamentadas na experiência. Pode não haver uma maneira de provar tais crenças, e mesmo assim é perfeitamente racional mantê-las. Tais crenças não são simplesmente básicas, mas apropriadamente básicas. Da mesma forma, a crença em Deus é, para quem O busca, uma crença apropriadamente básica fundamentada na sua experiência de Deus.

Pois bem, se esse é o caso, pode haver o risco de que argumentos filosóficos a favor de Deus na realidade distraiam sua atenção do próprio Deus. A Bíblia promete: “Achegai-vos a Deus, e ele se achegará a vós” (Tiago 4.8). Não devemos nos concentrar nos argumentos externos a tal ponto que não consigamos ouvir a voz interna de Deus falando aos nossos corações. Para quem ouve, Deus se torna uma realidade pessoal em sua vida.

Resumo

Em suma, vimos oito aspectos em que Deus fornece uma melhor explicação do mundo do que o faz o naturalismo: Deus é a melhor explicação para:

1. Por que algo existe.

2. A origem do universo.

3. A aplicabilidade da matemática ao mundo físico.

4. O ajuste fino do universo para a vida inteligente.

5. Estados intencionais de consciência.

6. Valores e deveres morais objetivos.

Além disso,

7. A própria possibilidade da existência de Deus implica que Deus existe.

8. Deus pode ser experimentado e conhecido pessoalmente.