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#642 Concordismo

October 30, 2019
Q

Caro Dr. Craig,

Tenho uma pergunta sobre o concordismo. O senhor costuma dizer que é má hermenêutica permitir que a ciência moderna molde nosso entendimento do texto bíblico. No entanto, isto parece sugerir que a única interpretação correta das Escrituras é literal. Sem dúvida, a razão por que rejeitamos ou aceitamos determinadas formas de interpretar um texto é necessariamente moldada por nossa experiência do mundo. Por exemplo, se pegamos a passagem de Salmos que fala de “árvores batendo palmas” ou aquela em que Deus “soprou vida” em Adão, é evidente que são metafóricas, mas isto apenas porque sabemos que árvores não batem palmas e que vida não é soprada nas pessoas. Penso que este é o motivo por que a visão dominante entre os primeiros cristãos era literal, com as devidas exceções. Portanto, parece que se deve ajustar a interpretação do texto bíblico com base no conhecimento que se tem do mundo externo. Fica claro que, no passado, os primeiros cristãos tiveram problemas, pois o sol foi criado após a luz. A razão para isto ser problema era que, à época, fora estabelecido “cientificamente” que a luz vem do sol. De modo geral, não me é claro o que seja o “concordismo”, e espero que o senhor possa compartilhar sua perspectiva sobre o assunto. Agradeço a atenção.

Grigory

Reino Unido

United Kingdom

Dr. Craig responde


A

Com “concordismo”, refiro-me à tentativa de forçar descobertas científicas modernas na leitura dos textos bíblicos. Por exemplo, já ouvi dizerem que a Bíblia prediz a televisão porque, quando Cristo retornar, “todo olho o verá” (Apocalipse 1.7), o que é impossível num globo. Assim, a Bíblia deve estar dando a entender que a segunda vinda de Cristo será televisionada!

Evitar o concordismo na interpretação bíblica não significa fechar os olhos ao mundo ao nosso redor. Antes, deve-se perguntar como os antigos enxergavam o mundo. O salmista sabia que árvores não têm mãos, como era observável por qualquer um à época, e, portanto, ele devia estar falando metaforicamente. Igualmente, quando Gênesis 2.7 fala que “o SENHOR Deus formou o homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida”, só pode se tratar de linguagem figurada, pois a divindade antropomórfica dos capítulos 2 e 3 seria incompatível, se tomada literalmente, com o criador transcendente descrito no capítulo 1.

Assim, obviamente se deve ajustar a interpretação pessoal da Bíblia com base no conhecimento que se tem do mundo externo. Porém, não se deve forçar a ciência moderna, desconhecida ao mundo antigo, na leitura do texto. Antes, deve-se perguntar como as pessoas à época enxergavam as coisas. Como você disse, as pessoas no Antigo Oriente Próximo observavam o nascer e o pôr-do-sol e a sequência de dia e noite. Assim, é bastante legítimo perguntar como entendiam a aparente afirmação de Gênesis 1.5 segunda a qual dia e noite existiam antes da criação do sol.

- William Lane Craig