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#577 Diálogo com Jordan Peterson

December 23, 2018
Q

Oi, Dr. Craig.

Recentemente, assisti à sua discussão com Rebecca Goldstein e Jordan Peterson na Faculdade Wycliffe, e notei uma discrepância entre sua visão de sentido (especificamente, significância) e a do Dr. Peterson. Infelizmente, isso não foi discutido a fundo no contexto do fórum; por isso, gostaria de lhe fazer a pergunta aqui.

O senhor iniciou seu discurso de abertura discutindo a inevitabilidade da extinção humana e da morte do universo, e a dificuldade que isso traz na busca por significação última no ateísmo. Peterson, porém, começou seu discurso dizendo que não é necessário estender a cronologia na qual se busca significância para incluir toda a extensão da história do universo. Ele usou a analogia de uma sinfonia. Se ele estivesse vivenciando uma incrível apresentação musical e alguém lhe desse um tapinha no ombro no meio da sinfonia e dissesse: “Bem, ela não tem nenhum sentido, porque vai acabar logo”, ele (assim como a maioria das pessoas, penso eu), rejeitaria tal perspectiva. Será que o fim da sinfonia realmente implica que ela não tem nenhuma significância?

Embora eu considere sua fundamentação dos valores morais objetivos na existência de Deus mais coerentes do ponto de vista filosófico do que a ênfase de Peterson na moralidade evoluída (e seu vago assentimento a alguma transcendência ou ideal platônico), acho essa crítica em específico muito persuasiva. Por que quem rejeita a existência de Deus deve expandir a cronologia na qual se avalia a significância pessoal para incluir toda a extensão do universo? Por que a significância última deve ser o enfoque, e não a significação temporal? Se o senhor tivesse tido a oportunidade na discussão de responder diretamente à analogia da sinfonia feita por Peterson e a suas observações iniciais, o que teria dito?

Obrigado pela atenção.

Talia

New Zealand

Dr. Craig responde


A

Enquanto estava ali sentado ouvindo o discurso de abertura de Jordan Peterson em nosso diálogo sobre “A vida tem sentido?”, achei suas observações muito confusas. Havia alguns vagos pontos comuns entre o que eu acabara de dizer em meu discurso de abertura e o dele. Ora, as observações que ele fez, fiquei me perguntando, tinham a intenção de responder de algum modo ao que eu acabara de dizer? Se sim, seus comentários evidenciaram um mal-entendido e, portanto, não se relacionavam ao que eu dissera. Ou será que suas observações tinham a intenção de delinear as consequências problemáticas da cosmovisão ateísta? Não ficou claro.

Você deve lembrar que um dos argumentos de Peterson foi que, se uma criança estivesse em estado crítico de saúde, não lhe serviria de consolo algum dizer: “Bem, daqui a 10 milhões de anos, estaremos todos mortos; por isso, nada disso importa!” A intenção era me dar uma resposta? Será que eu, em algum momento, aconselhei algo nesse sentido? Da minha perspectiva, é possível consolar uma criança moribunda assegurando-lhe que Deus a ama e que seu sofrimento não é insignificante, que um lar a aguarda no céu onde não haverá mais sofrimento ou morte, mas vida eterna de alegria indescritível. Na verdade, já critiquei por escrito o ateísmo de Russell em relação ao desafio do que dizer a uma criança moribunda. Portanto, será que o argumento real de Peterson foi que, segundo a visão de realidade de Nietzsche-Russell-Sartre, não há consolo algum em dizer o que o ateísmo aparentemente deveria dizer: “Bem, daqui a 10 milhões de anos, estaremos todos mortos; por isso, nada disso importa!”? Se sim, seu argumento é uma pancada no ateísmo, e não no teísmo.

Ou considere a ilustração da sinfonia. Se alguém viesse a dizer: “Bem, ela não tem nenhum sentido, porque vai acabar logo”, todos ficaríamos pasmos. “Será que o fim da sinfonia realmente implica que ela não tem nenhuma significância?” Claro que não! Eu cheguei a afirmar que sim? Pelo contrário, afirmei exatamente o oposto, que, por causa de Deus e da imortalidade, as decisões e ações que tomamos nesta vida estão imbuídas de sentido. Uma bela valsa ou uma sinfonia são valiosas e significativas mesmo que tenham duração finita. Assim, se essas coisas são, em última instância, sem sentido no ateísmo, não é por causa de sua duração finita. É porque, sem Deus e a imortalidade, essas coisas não têm propósito, valor ou significância últimos.

No ateísmo, em última instância, não importa se a sinfonia foi boa ou um fracasso porque o timpanista apareceu bêbado (ou porque ela acabou nem ocorrendo), uma vez que tudo termina igualmente. O esquecimento termodinâmico de um universo em expansão extermina tudo que fizemos, de modo que nossas escolhas e decisões, em última instância, não importam.

Pois bem, pode-se tentar salvar a significância da sinfonia apelando para seu valor estético. Porém, segundo a visão de realidade de Nietzsche-Russell-Sartre, não há valores objetivos, quer morais quer estéticos, como expliquei a Goldstein mais adiante no diálogo. Beleza está nos olhos de quem vê. Se isto lhe parece errado, como a mim me parece, você deve rejeitar o ateísmo.

De fato, Talia, você parece reconhecer em seu último parágrafo que, no ateísmo, a vida humana é, em última instância, sem propósito, sem valor e sem sentido. Mas o que você quer dizer é que não precisamos de propósito, valor ou significância últimos. Podemos nos virar bem meramente com propósito, valor e significância relativos, que, admito, as pessoas têm. “Por que a significância última deve ser o enfoque, e não a significação temporal?

O que nos leva da primeira parte do meu argumento para a segunda parte, de que é impossível viver com felicidade e coerência tendo uma cosmovisão assim. Existe, penso eu, uma tentação irresistível de partir da afirmação do sentido relativo de meus planos e projetos fúteis para a afirmação de que tais coisas realmente importam e têm valor. É por isso que as pessoas pensam estar rejeitando a primeira parte do argumento, quando, na verdade, não o estão. Não podemos viver como se nossas vidas e as vidas de quem amamos fossem, em última instância, inconsequentes, como se eles e nós fôssemos objetivamente inúteis do ponto de vista moral e como se não houvesse bem ou mal, mas somente nossos sentimentos subjetivos, como se nossas vidas não tivessem propósito algum. Por isso, penso eu, o ateísmo é uma cosmovisão impossível de viver.

- William Lane Craig