English Site
back
5 / 06

#686 Linguagem e absurdo

July 17, 2020
Q

Olá, Dr. Craig,

Estamos percorrendo Rorty e Nietzsche na minha aula de filosofia política agora, e meu professor está defendendo uma visão nominalista da linguagem (ou seja, que ela é invenção humana). Concordo que não existe; no entanto, por esta razão, ele argumenta que não pode haver verdade, uma vez que nossa invenção humana da linguagem não pode corresponder a um mundo que, de outro mundo, não tem sentido. Realmente, não concordo com este ponto, mas tenho muita dificuldade em articular uma resposta, e procurei em cima e embaixo no seu site tentando encontrar algo. Obrigado.

Ayo

Estados Unidos

United States

Dr. Craig responde


A

Oi, Ayo! Não faço ideia se aquilo que os estudantes me contam estarem dizendo os seus professores baseia-se num mal-entendido dos estudantes ou reflete com precisão as visões dos seus professores. Porém, devo dizer que, muitas vezes, fico escandalizado com o que meus colegas estão aparentemente ensinando.

O que você relata que esse homem está dizendo é, simplesmente, incoerente e internamente contraditório. Como é possível defender seriamente, numa aula (que se trata, é claro, de um produto linguístico), que “não pode haver verdade” em razão da convencionalidade da linguagem? Tal afirmação não está sendo feita em inglês, uma língua? Por isso, não pode haver verdade no que ele disse! A visão dele é internamente contraditória. Ele pode muito bem se colocar em frente à turma e ficar só balbuciando.

Evidentemente, a linguagem é convencional. Diferentes línguas atribuem diferentes sentidos às mesmas palavras. Por exemplo, “pain” em francês significa pão, mas em inglês quer dizer algo completamente diferente [dor]. Porém, se eu relatar, como anglófono, “I’m in pain” [estou com dor], o sentido pretendido é claro, dadas as convenções da língua inglesa. Eu e o francófono podemos dizer a mesma coisa, mesmo se há diferença no modo como o dizemos. Se estou com dor, o que digo é verdade. Não há aí nenhum argumento da convencionalidade da linguagem para a ausência da verdade.

Ora, em certo sentido, concordo que não haja uma coisa que seja a verdade. A verdade não é uma coisa, como um elétron ou uma pessoa. O predicado “é verdadeiro” se trata de um dispositivo de consentimento semântico, um modo de falar acerca de um enunciado, em vez de fazer o enunciado em si. Por exemplo, em vez de dizer “Donald Trump é o presidente dos Estados Unidos”, posso assentir semanticamente e dizer: “É verdade que Donald Trump é o presidente dos Estados Unidos”. O predicado “é verdadeiro” se faz útil, primariamente, nas chamadas atribuições de verdade cega, onde não sabemos o que foi dito e não podemos repeti-lo por inteiro, como em “Tudo nos documentos classificados é verdadeiro” ou “Tudo que o Papa disse é verdadeiro”. Obviamente, no entanto, nada disso ajuda o seu professor a salvar o argumento dele da incoerência e contradição interna.

Em relações a materiais, você pode dar uma olhada na minha palestra: “Existem verdades objetivas sobre Deus?” e meu artigo “Propositional Truth — Who Needs It?” [Verdade proposicional—Quem precisa dela?]

- William Lane Craig