#623 O ajuste fino e a biblioteca de Babel
April 23, 2019Olá, Dr. Craig. Tenho uma pergunta relacionada a diversos argumentos teleológicos. Venho lutando para entender uma breve história de Jorge Luis Borges intitulada “A biblioteca de Babel”, que sugere uma biblioteca repleta de um número infinito de livros contendo toda possível combinação de letras. A história apresenta a ideia de que todas as grandes obras da literatura podem ser escritas pura e simplesmente pelo acaso aleatório, da mesma forma que o cenário dos hipotéticos macacos com suas máquinas de escrever. Embora isto parece absurdo no papel, a história aparentemente se tornou realidade, já que existe uma versão virtual da biblioteca de Babel. Desde sua criação, ela vem gerando textos aleatórios para um arquivo supostamente infinito. Copiei parágrafos de minhas próprias histórias na barra de pesquisas e encontrei correspondências palavra-por-palavra nas páginas desses livros infinitos, de modo que me parece que a absurda hipótese de Borges é, de fato, realidade.
Isto me assombra porque põe em xeque questões ligadas à teleologia e ao projeto inteligente, tanto no nível cosmológico quanto biológico. Se a ordem aparente pode, deveras, surgir da aleatoriedade infinita, como é que argumentos teleológicos a favor da existência de Deus têm algum valor? Não seria o caso de que a ordem e o sentido que percebemos no universo sejam ilusórios? Espero que minha pergunta não seja muito esotérica. Estou realmente lutando para entender este ponto, e ficaria muito grato com sua perspectiva.
Sam
United States
Dr. Craig responde
A
Sam, tudo isto de que você está falando não passa da boa e velha explicação do ajuste fino cósmico com base no multiverso! O multiverso é simplesmente uma coleção infinita de mundos no qual toda possível combinação de constantes e quantidades é testada. Assim, obviamente, em tal conjunto de mundos finamente ajustados, aparecerão, assim como numa coleção infinita de livros nos quais toda possível combinação de letras é testada, as palavras exatas que estou escrevendo agora. Você não precisa ficar perplexo com isso tudo (embora deva ser um pouco desconcertante encontrar suas próprias redações na biblioteca de Babel!).
A questão real, portanto, é se existe o multiverso do tipo descrito (uma biblioteca cósmica de Babel). Se não existe, a explicação a partir do acaso é tão inútil quanto explicar, digamos, o texto do Relatório de Mueller [Mueller Report] como se fosse devido ao acaso, na ausência de tal biblioteca. Pois bem, em minha obra (por exemplo, https://pt.reasonablefaith.org/artigos/artigos-de-divulgacao/o-multiverso-teria-substituido-deus/), dou as razões para pensar não apenas que não existem indícios para a existência de tal multiverso, mas que os indícios sugerem fortemente que tal multiverso não existe. Se a hipótese do multiverso fracassa, a alternativa do acaso desmorona, abrindo espaço para o projeto.
- William Lane Craig