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A Paixão de Jesus

Summary

Originalmente publicado como: “Jesus and His Passion”. Texto disponível na íntegra em http://www.reasonablefaith.org/jesus-and-his-passion.

Não há dúvida de que, à medida que nos aproximamos da Páscoa, o rosto de Jesus aparecerá na capa de muitas revistas semanais. O inesperado sucesso do filme “A Paixão de Cristo”, produzido por Mel Gibson, originou uma tempestade de controvérsias que lotaram as transmissões de rádio e televisão com entrevistas, programas de bate-papo e documentários. Todo esse furor levanta a questão: quem foi realmente Jesus de Nazaré? Seria ele o Deus encarnado, como creem os cristãos? Ou estariam certos alguns críticos radicais ao afirmarem que Jesus era um tipo de provocador social, o equivalente judaico a um filósofo cínico grego?

Críticos bíblicos revisionistas, como John Dominic Crossan, Marcus Borg e Paula Frederickson, entrevistados no programa especial da NBC “Os últimos dias de Jesus”, alegam que os acontecimentos verdadeiros da Paixão de Jesus foram significativamente diferentes dos retratados no filme de Mel Gibson. Sem dúvida, em certo sentido, isso é verdade. Gibson acrescentou ao seu filme não somente uma boa dose de interpretação artística, mas também outra boa dose da tradição católica que ultrapassa os limites da história, como o véu de Mônica, a participação de Maria nos eventos da Paixão e a cena imitativa da Pietà, quando Jesus foi tirado da cruz.

Mas não são esses os motivos que preocupam os críticos revisionistas. Antes, eles alegam que os próprios Evangelhos são historicamente imprecisos quando retratam a crucificação de Jesus como uma ação instigada pelos principais sacerdotes judeus e apenas levada a cabo pelas autoridades militares romanas. Os críticos revisionistas defendem que, em última análise, são as autoridades romanas, não as judaicas, que são culpadas pela crucificação de Jesus. Eles mostram que havia grande inquietação na Palestina sob o domínio romano e que, com centenas de milhares de visitantes em Jerusalém para a festa da Páscoa, as autoridades romanas deviam estar realmente ansiosas para manter a paz pública. Os nervos deviam estar à flor da pele. Fontes extrabíblicas descrevem Pilatos como homem cruel e impiedoso que não hesitaria em lançar a soldadesca contra o povo para manter a ordem. O sacerdócio do templo colaborava com Roma e tinha basicamente uma parceria com Pilatos para manter as coisas sob controle.

Os críticos revisionistas interpretam a purificação do templo realizada por Jesus como um ataque simbólico ao próprio templo. Assim, Jesus não estava somente perturbando a paz, mas o sacerdócio judaico sentiu sua autoridade ameaçada pelas ações de Jesus. Pilatos estava prestes a bater violentamente o punho para preservar a ordem pública, o que resultaria em grande perda de vidas inocentes. Assim, o sumo sacerdote Caifás, que, de qualquer forma, sentiu sua autoridade ameaçada por Jesus, decidiu entregar Jesus a Pilatos para não deixar que o povo fosse morto numa investida romana. Portanto, a responsabilidade pela crucificação de Jesus está realmente sob os pés das autoridades romanas, não das autoridades judaicas, como dizem os Evangelhos.

Agora, ao examinarmos as alegações dos críticos revisionistas, é importante que não percamos a visão do todo por causa dos detalhes: o que é notável aqui é o grau de concordância acerca dos eventos da Paixão de Jesus. Até mesmo os críticos céticos confirmam os eventos centrais da Paixão de Jesus: sua entrada triunfal em Jerusalém montado num jumentinho como arauto do Reino de Deus, em cumprimento da profecia de Zacarias; a ação perturbadora de Jesus no templo, ao expulsar os cambistas e seus animais; o envolvimento das autoridades judaicas na prisão e julgamento (ou a sua audiência) diante deles; Jesus entregue a Pilatos sob a acusação de sedição; e Pilatos condenando Jesus à crucificação como pretenso Rei dos Judeus. O testemunho da credibilidade histórica dos Evangelhos é tão espantoso que até os críticos céticos se acham obrigados pelas evidências a admitir a historicidade do esboço fundamental da Paixão e morte de Jesus. Para eles, o ponto principal de contenção tem a ver com a dúvida sobre se foram os judeus ou as autoridades romanas os responsáveis principais pela morte de Jesus.

Ora, talvez nesse ponto alguns pensem: quem se importa? Críticos tradicionalistas e revisionistas concordam quanto aos principais eventos da Paixão de Cristo. É inútil atirar culpas uns nos outros! Na verdade, talvez se suspeite que todo esse debate seja instigado por pouco mais do que uma visão politicamente correta. Afinal, há uma motivação muito forte para o revisionismo: ou seja, o desejo totalmente louvável de repudiar a horrível história de antissemitismo que sempre caracterizou a igreja cristã. Portanto, há uma grande suspeita, penso eu, para enxergar todo esse revisionismo meramente como produto de um desejo politicamente correto de isentar as autoridades judaicas o máximo possível. No fim das contas, não há hoje nenhum romano por aí para protestar ao ser acusado de culpa pela crucificação. Por isso, vemos no especial da NBC até mesmo eruditos conservadores como Craig Evans dizer: “Os romanos crucificaram Jesus”. O quê? Todos os romanos são culpados pela crucificação de Jesus? Cícero crucificou Jesus? Tácito crucificou Jesus? Isso é pintar um quadro com um pincel tão largo quanto o de alguém que dissesse irrefletidamente: “Os judeus mataram Jesus”. Mas, uma vez que não há mais romanos nas redondezas, não se levanta nenhuma voz de protesto, e os romanos levam tranquilamente a culpa.

Concordo, porém, que haja uma dose cavalar de correção política conduzindo o debate. Se pensa que essa é a história toda, você está seriamente equivocado. Aqui, há muito mais em jogo do que parece à primeira vista. O que menos se percebe é que o relato revisionista da Paixão é apenas parte de um quadro revisionista bem mais abrangente de Jesus que os críticos céticos tentam transmitir. Veja, os críticos céticos rejeitam a imagem de Jesus segundo os Evangelhos como um homem que reivindicava ser Filho de Deus e o divino Filho do Homem, o qual se via como o prometido Messias judaico. De acordo com John Dominic Crossan, Jesus era somente uma espécie de crítico social, o equivalente judaico de um filósofo cínico grego. Marcus Borg diz que Jesus era místico religioso multicultural que defendia os direitos das mulheres e dos pobres contra a classe religiosa dominante e opressiva. O Jesus sobrenatural acerca de quem lemos nos Evangelhos é mito, produto da teologia e da lenda.

Entretanto, um dos maiores problemas com essa visão revisionista de Jesus é o fato da sua crucificação. Todos concordam que Jesus de Nazaré acabou morto numa cruz. De fato, a crítica revisionista Paula Frederickson afirma que a crucificação de Jesus é o “único fato consistente que temos sobre Jesus”. Mass se Jesus foi só um rude filósofo cínico, apenas um agitador social liberal, como alegam os revisionistas, então a crucificação torna-se inexplicável. Como escreveu o professor Leander Keck, da Universidade Yale: “A ideia de que esse cínico judeu (e sua dúzia de hippies) com seu comportamento e aforismos era grave ameaça à sociedade soa mais como uma fantasia de acadêmicos alienados do que um julgamento histórico consistente”. John Meier, especialista em Novo Testamento, é igualmente direto. Ele diz que “um Jesus desses não ameaçaria ninguém, da mesma maneira que os professores universitários que o criaram não ameaçam ninguém”. Desse modo, os críticos revisionistas criaram um Jesus que corre o risco de ser incompatível com o único fato irrefutável a respeito dele, ou seja, a sua crucificação.

É à luz desse problema que os relatos revisionistas da Paixão de Jesus devem ser analisados. Basicamente, o modo como os revisionistas explicam a Paixão é a tentativa de mostrar como é possível levar à cruz, onde todos admitem que ele terminou, um Jesus não messiânico nem divino. A maneira de fazer isso é: imagine-se um cenário em que havia uma tensão pronta para desencadear uma convulsão em Jerusalém durante a Páscoa naquele ano. O menor distúrbio poderia provocar os eventos. Pilatos está pronto para descer e abater com dureza qualquer um que perturbe a paz. Foi isso o que Jesus fez e o que o entregou às autoridades romanas, as quais o crucificaram como exemplo público daquilo que acontece aos baderneiros.

À primeira vista, porém, isso parece um cenário plausível. Mas cenários plausíveis devem sempre ser testados pelas evidências. E, quando pedimos as evidências do cenário revisionista, o que escandaliza é a quase total falta delas. Esse panorama baseia-se quase inteiramente em intuições e conjecturas sobre o que seria provável esperar que acontecesse. Assim, no especial da NBC, ouvimos Paula Frederickson falar sobre o que ela, “na minha imaginação de historiadora”, pensa que deve ter acontecido. Crossan diz: “Posso imaginar que havia uma ordem estipulada entre Pilatos e Caifás” para prender qualquer um que saísse da linha. E, assim, somos brindados com toda sorte de especulações imaginosas sobre as tensões na multidão, sobre o caráter e o humor de Pilatos e até mesmo sobre o que Caifás estava pensando!

Isso é de fato bem extraordinário. Não é assim que se faz história. Se a história pudesse ser escrita com base em intuições e conjecturas, os historiadores estariam fora do ramo. A vida nem sempre é limpa e organizada, o curso dos acontecimentos sempre oscilarão em direções inesperadas e as pessoas nos surpreendem agindo às vezes de maneiras aparentemente não caraterísticas. É por isso que as imagens que os historiadores traçam do passado têm sempre de ser guiadas pelas evidências, não pelo que achamos que poderia ter acontecido. Certamente, a imaginação tem papel importante na reconstrução histórica, mas a imaginação sempre tem de ser testada pelas evidências.

Assim, de que modo o cenário revisionista coincide com as evidências? Bem, não muito.

Considerem-se, por exemplo, as conjecturas cruciais sobre a situação pronta para se desencadear durante a Páscoa naquele ano, de maneira que a menor perturbação levaria as autoridades a abater pessoas ainda mais inocentes. John Dominic Crossan diz: “Qualquer coisa causaria uma revolução. Pode-se imaginar Pilatos dizendo: ‘Se alguma coisa se mexer, crucifique-a!’”. Mas as evidências apoiam essa especulação? Pelo contrário, a entrada triunfal e provocativa de Jesus em Jerusalém no começo da semana, cumprindo a profecia messiânica de Zacarias 9.9, durante a qual ele foi aclamado pela multidão ao inaugurar o Reino de Davi, não extraiu um pio das autoridades romanas. Depois de olhar ao redor, Jesus voltou a pé para Betânia, onde passou a noite. No dia seguinte, quando Jesus arrebentou o comércio no templo, nenhuma tropa romana entrou em ação, ninguém o prendeu. Nem no dia seguinte as autoridades romanas se mobilizaram contra ele. Jesus continuou a ensinar diariamente no templo voltando sem ser perturbado todas as tardes para as cercanias de Betânia, onde passava as noites com seus discípulos. A ideia de que as autoridades romanas viam Jesus como grave ameaça à paz, a ponto de se mobilizarem contra ele, contradiz o real comportamento delas. Na verdade, meter-se nos assuntos judaicos com a prisão de um mestre conhecido criaria mais desassossego do que simplesmente deixá-lo sozinho, como essas autoridades fizeram.

Além disso, não há nenhuma razão justificável para entender a ação de Jesus no templo como um ataque ao próprio templo e não como aquilo que os Evangelhos descreveram como sendo uma limpeza ou purificação do templo. Nos dias que se seguiram à sua ação, Jesus não falou contra o templo em si, mas continuou a ensinar lá diariamente. E, após a sua morte, seus seguidores continuaram adorando no templo como os outros judeus.

E quanto à prisão de Jesus? As evidências apoiam com unanimidade a conclusão de que Jesus foi traído e entregue nas mãos das autoridades judaicas, fato não atestado somente nos quatro Evangelhos, mas também na recentíssima informação transmitida por Paulo (1Co 11.23). As autoridades judaicas, não as romanas, é que se sentiram ameaçadas pela pessoa e ensinamentos de Jesus e por isso queriam matá-lo, o que não foi também uma decisão tomada de última hora durante a semana da Páscoa. De acordo com duas fontes independentes, o complô para livrar-se de Jesus vinha se configurando entre a liderança judaica desde algum tempo (Mc 3.6; Jo 5.18). Tanto o historiador Josefo como o Talmude Babilônico dão testemunho da iniciativa das autoridades judaicas no julgamento de Jesus. O Talmude (Sinédrio 43a) justifica a busca da sua execução como uma ação apropriada tomada contra um herege.

No seu julgamento diante do Sinédrio, Jesus foi condenado à morte por blasfêmia. Faço a citação:

Então, o sumo sacerdote levantou-se [...] e perguntou a Jesus: [...] Tu és o Cristo, o Filho do Deus bendito? Jesus respondeu: Eu sou. E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso, vindo com as nuvens do céu. [...] Então o sumo sacerdote rasgou suas vestes [...] Acabais de ouvir a blasfêmia. Que vos parece? E todos o condenaram como réu digno de morte. (Mc 14.60-64)

Com essas palavras, Jesus afirma ser o Filho de Deus, e o apocalíptico Filho do Homem, vindo em juízo sobre as nuvens do céu, uma citação de Daniel 7. Especialmente blasfemo aos ouvidos judaicos teria sido ele se dizer sentado à direita de Deus. Os revisionistas não gostam dessa imagem de Jesus. Mas, como afirmou Robert Gundry, estudioso do Evangelho de Marcos, um relato tão penetrante de um caso de blasfêmia capital em ambiente judaico não pode ser invenção posterior.

Uma vez que o Sinédrio não tinha autoridade para executar a pena capital, as autoridades romanas tinham de ser convencidas de alguma maneira a executar Jesus. Aos ouvidos romanos, a alegação de Jesus de ser o Messias ou o Rei de Israel seria compreendida como sediciosa, e, portanto, os principais sacerdotes atribuíram-lhe o papel de rebelde político diante de Pilatos. Os revisionistas reclamam que a imagem que os Evangelhos esboçam de Pilatos, como débil e hesitante, contraria o que sabemos do seu caráter cruel por fontes extrabíblicas. Mas, embora o filme de Mel Gibson esteja sujeito a ser muito criticado por isso, o Pilatos acerca de quem lemos nos relatos dos Evangelhos não é fraco nem vacilante; o que ele mostra não é fraqueza, mas a sua característica intransigência em face das demandas judaicas. Se Jesus não fosse preso pela iniciativa romana como uma ameaça à paz, mas pela iniciativa judaica em razão de interesses fundamentalmente judaicos, então Pilatos poderia muito bem resistir à tentativa dos judeus de conseguirem que os romanos dessem cabo dele.

Sabemos que Pilatos não temia entrar em choque com as autoridades judaicas — nem temia ceder quando parecesse politicamente proveitoso. Por exemplo, Josefo conta-nos que, ao chegar na Palestina em 26 d.C., Pilatos provocou deliberadamente os principais sacerdotes exibindo estandartes com a imagem do imperador em Jerusalém, atitude que seu predecessor tinha evitado cuidadosamente. As autoridades judaicas enviaram uma delegação a Pilatos que durante cinco dias apelou para a remoção dos estandartes. No sexto dia, Pilatos ameaçadoramente ordenou que um destacamento de soldados se introduzisse na multidão — a um sinal, sacaram suas espadas. Nesse ponto, os delegados judeus desnudaram o pescoço, preferindo a morte à violação da lei judaica. Diante disso, entendendo que poderia provocar um levante geral, Pilatos ordenou que os estandartes fossem removidos.

Apenas quatro anos mais tarde, a ação de Pilatos ao sentenciar Jesus segue esse precedente. Ele enfrenta obstinadamente os líderes judaicos até entender que está prestes a ocorrer um tumulto (Mt 27.24). Quando os principais sacerdotes lhe fazem uma sutil ameaça velada — “Se soltares este homem, não és amigo de César” (Jo 19.12) —, Pilatos, em favor de seu interesse pessoal, cede e ordena que Jesus seja executado.

Ao permitir à turba que escolha entre Barrabás e Jesus, Pilatos sabe que o povo não se levantará em favor de Jesus. Os revisionistas afirmam às vezes que o clamor da multidão pedindo para libertar Barrabás é inconsistente com a popularidade de Jesus. Mas não sabemos quantos simpatizantes Jesus tinha nem quantas pessoas os principais sacerdotes tinham posicionado naquela manhã diante de Pilatos (Mc 14.11). Seja como for, Jesus tinha causado certo desapontamento aos que esperavam que ele restaurasse o trono de Davi. Ele não havia, logo em seguida à sua entrada triunfal ou à purificação do templo, convocado uma insurreição; pelo contrário, ao responder à pergunta provocativa sobre o pagamento de impostos aos romanos, Jesus deu uma resposta por demais antirrevolucionária: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mc 12.17). A figura sangrenta e alquebrada do Jesus que Pilatos apresentou à multidão era a exata antítese do Messias conquistador que os judeus tinham aprendido a esperar, e não é de todo improvável que Barrabás lhes parecesse um Messias mais simples e real do que Jesus.

Tradicionalistas e revisionistas concordam igualmente que Jesus foi crucificado pela autoridade romana. Mas o que aconteceu ao corpo de Jesus depois da sua morte?

Essa questão é crucial para responder à questão acerca de quem realmente era Jesus. Quando fui sondado pela NBC para ser entrevistado pelo programa “Os últimos dias de Jesus”, eu disse que só aceitaria se eles discutissem a crucificação de Jesus. Quando a produtora disse: “Não, nós vamos terminar com a crucificação”, eu disse a ela: “Bem, então, acho que vocês não vão conversar realmente sobre os últimos dias de Jesus, vão?”. Ela respondeu: “Entendo o que quer dizer. Se não fosse por causa da ressurreição, ninguém jamais se interessaria pelos últimos dias de Jesus, não é?”. Está absolutamente certa. A ressurreição de Jesus é a chave para a identidade dele.

Portanto, o que aconteceu ao cadáver de Jesus? John Dominic Crossan supõe que provavelmente foi retirado da cruz por soldados romanos e lançado numa cova rasa e suja, na qual apodreceu ou foi comido por cães selvagens. Mas não somente não existem evidências para essa conjectura espalhafatosa, como as práticas e as sensibilidades judaicas ligadas aos sepultamentos a contradizem. Em oposição à conjectura de Crossan, deixem-me resumir quatro fatos com os quais concorda a maioria dos críticos do Novo Testamento que escreveram sobre essa matéria.

Fato número 1: Após a sua crucificação, Jesus foi sepultado num túmulo por José de Arimateia. Esse fato é muito importante, pois significa que a localização do túmulo de Jesus era conhecida tanto por judeus como por cristãos. Nesse caso, torna-se inexplicável como a crença na sua ressurreição poderia surgir e prosperar diante de uma sepultura contendo seu cadáver. Segundo o falecido John A. T. Robinson, da Universidade de Cambridge, o honroso sepultamento de Jesus é “um dos fatos mais antigos e mais bem atestados sobre Jesus”.

Fato número 2: Na manhã do domingo seguinte à crucificação, o túmulo de Jesus foi encontrado vazio por um grupo de suas seguidoras. De acordo com o austríaco Jacob Kremer, especialista na ressurreição, “a grande maioria dos exegetas acredita com firmeza na fidedignidade das declarações bíblicas acerca do túmulo vazio”. Como mostrou D. H. van Daalen: “É extremamente difícil fazer objeção ao túmulo vazio com fundamentos históricos; aqueles que o negam, fazem-no com base em suposições teológicas ou filosóficas”.

Fato número 3: Em múltiplas ocasiões e em várias circunstâncias, diferentes indivíduos e grupos de pessoas vivenciaram aparições de Jesus ressurreto dos mortos. Esse é fato quase universalmente reconhecido hoje entre os estudiosos do Novo Testamento. Mesmo Gerd Lüdemann, talvez o crítico da ressurreição mais destacado da atualidade, admite: “Pode-se considerar como historicamente certo que Pedro e os discípulos passaram por situações, depois da morte de Jesus, nas quais Jesus lhes apareceu como o Cristo ressurreto”.

Finalmente, fato número 4: Os discípulos originais acreditavam que Jesus ressuscitara dos mortos, apesar de terem todas as razões para não crer. Apesar de terem toda a predisposição contrária, é um fato inegável da história que os discípulos originais acreditavam na ressurreição de Jesus, proclamavam-na e estavam dispostos a enfrentar a própria morte em razão desse fato. C. F. D. Moule, da Universidade de Cambridge, conclui que temos aqui uma crença que, em termos de influências históricas prévias, nada possa justificar, exceto a própria ressurreição.

Assim, qualquer historiador responsável que procure fazer um relato da matéria deve lidar com esses quatro fatos independentemente estabelecidos: o honroso sepultamento de Jesus, a descoberta do seu túmulo vazio, suas aparições como vivo após a morte, e a própria origem da crença dos discípulos na sua ressurreição e, portanto, do cristianismo em si. Quero destacar que esses quatro fatos representam não a conclusão de estudiosos conservadores, mas a visão majoritária da pesquisa neotestamentária hoje. A questão é: como você explicaria melhor esses fatos?

Ora, isso coloca o crítico cético em situação um tanto desesperada. Por exemplo, algum tempo atrás tive um debate com um professor na Universidade da Califórnia, em Irvine, sobre a historicidade da ressurreição de Jesus. O debatedor havia escrito a sua dissertação doutoral sobre a ressurreição de Jesus e estava totalmente familiarizado com as evidências. Ele não podia negar o fato do honroso sepultamento de Jesus, seu túmulo vazio, suas aparições post-mortem, e a origem da crença dos discípulos na sua ressurreição. Portanto, seu único recurso era apresentar alguma explicação alternativa para esses fatos. E, assim, ele alegou que Jesus tinha um irmão gêmeo idêntico e desconhecido, separado dele ao nascer, que retornou a Jerusalém no momento exato da crucificação, roubou o corpo de Jesus da sepultura, e se apresentou aos seus discípulos, que, erroneamente, deduziram que Jesus ressuscitara dos mortos! Bem, não preciso me estender a respeito de como refutei essa teoria, mas acho-a instrutiva, porque ela nos mostra a que profundidade o ceticismo desesperado precisa descer para negar a historicidade da ressurreição de Jesus. De fato, as evidências são tão vigorosas que um dos principais teólogos judeus de hoje, Pinchas Lapide, declarou-se convencido, com base nas evidências, de que o Deus de Israel ressuscitou Jesus dos mortos!

Em síntese, as evidências não apoiam as alegações dos historiadores revisionistas. Pelo contrário, temos fundamentos sólidos para pensar que Jesus de Nazaré não apenas afirmou ser o divino Filho do Homem e o Messias judaico, afirmações que provocaram a sua condenação pelo tribunal judaico e levaram por fim à sua crucificação, mas também que essas reivindicações eram verdadeiras, pois Deus o ressuscitou do mortos. Conforme pregavam os apóstolos: “nem permitirás, [ó Deus], que o teu Santo sofra deterioração” (At 2.27). Deus tem agido na história, e nós podemos saber disso.