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05 / 06

Fórum sobre a ressurreição

Summary

Originalmente publicado como: “Forum on the Resurrection with William Lane Craig”. Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/forum-on-the-resurrection-with-william-lane-craig.

Participantes: Mark Ballin, Christian Dennis, Elliot Drallmeier, Alex Kim e Sunny Sidhu

M: Falando cientificamente, não há nada que ninguém conheça nem nada que prove remotamente que esse fato poderia ocorrer. Não há absolutamente nenhuma evidência que o apoie. Até onde sei, a não ser que eu esteja perdendo alguma coisa.

Dr. C: Acho que está certo. Cientificamente, quanto mais sabemos a respeito do que acontece às células no corpo quando ele morre, mais entendemos que é cientificamente impossível que algo como a ressurreição tenha acontecido. Portanto, se realmente aconteceu, teria de ser literalmente um milagre, pois não seria algo que ocorreria mediante os processos biológicos normais que ocorrem com cadáveres.

M: Portanto, o tópico se reduz ao acontecimento ou não de um milagre.

A: É logicamente possível que a ressurreição de Jesus tenha realmente ocorrido?

Dr. C: Sim. Precisamos distinguir entre possibilidade lógica e possibilidade científica. A possibilidade lógica significa que não implica contradição. Por exemplo, afirmar que o espaço-tempo do universo é curvo, de modo que ao se ir em determinada direção se termina retornando ao ponto de partida. Assim, é cientificamente impossível seguir em linha reta infindavelmente para sempre sem voltar jamais ao ponto de origem. Portanto, há uma grande diferença entre uma possibilidade lógica e uma possibilidade científica. No caso da ressurreição, não existe contradição lógica quando se diz que alguém foi trazido de volta à vida por Deus, ainda que seja algo que contradiria o comportamento normal das leis da natureza.

M: Assim, para saber se um milagre ocorreu, não temos de examinar a documentação histórica do povo daquela época? Isso não seria acreditar numa pessoa e não noutra?

Dr. C: Concordo com a primeira frase, mas não com a segunda. Os historiadores estudam o passado procurando investigar as evidências testemunhais e outros resíduos do passado e depois tentam reconstruir aquilo que provavelmente aconteceu lá com base nas evidências. Não penso que o caso da ressurreição de Jesus seja de algum modo diferente de quaisquer outros eventos da história antiga — por exemplo, Pôncio Pilatos condenou de fato Jesus de Nazaré à morte por crucificação? Era Caifás o sumo sacerdote enquanto viveu Jesus de Nazaré? — ou mesmo de eventos seculares na história: Júlio César voltou da Gália com o exército romano e se tornou o imperador? O historiador tentará reconstruir o passado de acordo com o melhor sentido das evidências. O mesmo se dá com a ressurreição de Jesus: não é apenas uma questão de considerá-la pela fé, é uma questão daquilo que você disse: examinar evidências testemunhais e qualquer outro tipo de evidências que façam alguma explicação soar melhor.

M: As documentações históricas foram escritas por pessoas que ainda precisavam ver, naquela época, com o que as suas crenças e fé se pareceriam depois de escreverem tal documentação. Portanto, é preciso considerá-la retrospectivamente e ler, por assim dizer, aquilo que elas escreveram nas entrelinhas.

Dr. C: Está certo. É preciso julgar as suas fontes e considerar aspectos como seus preconceitos e pontos de vista, e assim por diante. Mas nesse sentido os evangelhos não são diferentes dos outros documentos da história antiga. Tudo, na história antiga, foi escrito a partir de um ponto de vista. Todo aquele que evoca a história antiga tem algo a provar ou uma razão por que está contando a história. Portanto, nesse sentido, os evangelhos não são realmente tão diferentes assim. É parte da tarefa do historiador procurar discernir se o que ele examina é ou não produto do preconceito ou do ponto de vista de alguém, ou se aconteceu ou não de fato. Isso é parte integrante do trabalho do historiador. Seria errado entender que só porque tem um ponto de vista, alguém não é capaz de contar fatos objetivos sobre o passado. Considerem os relatos do Holocausto, por exemplo, contra os modernos negadores desse massacre, pessoas que dizem que tal coisa jamais aconteceu. Bem, os judeus que sobreviveram ao Holocausto têm interesse declarado, interesse apaixonado, em dizer que esses eventos realmente aconteceram, que eles passaram de fato por essa perseguição, e assim por diante. Isso, porém, não significa que o testemunho deles não conta ou não apresenta objetivamente os fatos, ou outra coisa qualquer. Então, o interesse apaixonado de alguém por um ponto de vista ou por ter uma história para contar não invalida automaticamente a verdade daquilo que está dizendo.

C: Com coisas assim, é possível que a ressurreição não seja verdadeira. Por exemplo, se muitas pessoas concordassem que você fosse de fato uma mulher, não um homem, daqui a 20 anos ou a qualquer momento que falecer, 20 anos depois disso, as pessoas irão dizer que você era mulher. Se elas concordaram acerca disso, então isso se tornará um fato histórico. Portanto, tecnicamente, não podemos denominá-lo de fato.

Dr. C: Você levantou aí todo um conjunto de questões. Em primeiro lugar, a ideia de certeza está deslocada aqui. Não estamos falando de matemática. Estamos falando de história, e entendo que o que deixaria o cristão feliz seria que a ressurreição de Jesus fosse comparavelmente atestada com outros eventos normais da história antiga, como a marcha de Aníbal com elefantes contra Roma, para tentar tomar essa cidade nas Guerras Púnicas, ou como César Augusto sendo o imperador no tempo de Cristo. Se for possível mostrar que esses eventos dos evangelhos têm um grau de certeza comparável com outros eventos normais da história, então, penso isso é tudo o que se pode pedir. Portanto, não é uma questão de estar certo no sentido de certeza matemática. Mas também não entendo que os fatos sejam apenas aquilo acerca do que as pessoas concordam ou aquilo que está na sua mente. Se todo mundo daqui a 20 anos vier a pensar que William Craig era mulher, isso não seria um fato. Todos estariam errados, porque eu não sou mulher! Assim, as pessoas podem estar erradas acerca do passado. Além disso, a questão seria se temos ou não boas evidências de qual deveria ser meu gênero. Penso que seria muito difícil no futuro que as evidências predominassem na direção de que eu era mulher. Há testemunhas oculares demais, documentos demais, como o registro de nascimento, que sugerirão o contrário.

M: Um evento poderia acontecer e ser coberto por um repórter. O Iraque é um exemplo perfeito disso. Conheço um monte de gente que esteve no Iraque e falou de eventos específicos. No momento em que a informação chegou aos Estados Unidos, foi distorcida e revolvida de muitas maneiras pelo modo como as pessoas a percebem e com ela concordam. No momento em que ela alcança nossos ouvidos pela mídia, está totalmente distorcida e é tão ridícula que é quase inacreditável. E, com o passar do tempo, fica cada vez pior.

Dr. C: Esse é um bom ponto. Todo historiador tem de lidar com ele. Isso não se aplica apenas ao lidar com os evangelhos. Exatamente isso é escrever história. Em razão disso, uma das coisas que tornariam o fato mais plausível seria haver múltiplas testemunhas oculares, em vez de depender de uma única fonte. Se for possível obter múltiplas fontes independentes, elas aumentarão a credibilidade dos relatos. O outro aspecto mencionado muito acertadamente é o fator tempo envolvido. O tempo transcorrido entre a ocorrência do evento e o seu relato ou evidência é importantíssimo, pois quanto menor for o tempo total do intervalo, maior será a credibilidade da narrativa. A narrativa que registre eventos ocorridos centenas de anos antes terá menos credibilidade do que as narrativas mais próximas deles. Essa é uma das características interessantes dos evangelhos, em comparação com outros eventos da história antiga. A maioria dos documentos que temos sobre as histórias grega e romana está distante dos eventos que eles registram uma ou duas gerações e até mesmo séculos. Não obstante, os historiadores reconstroem o passado com alto grau de confiança. Para dar um exemplo, os relatos mais antigos, as biografias mais antigas, que temos de Alexandre, o Grande, foram escritos mais de 400 anos depois da morte do conquistador grego. Apesar disso, os historiadores acreditam nesses relatos como narrativas altamente confiáveis acerca da vida de Alexandre, o Grande. No caso de Jesus de Nazaré, temos múltiplos relatos independentes escritos durante a primeira geração, enquanto as testemunhas oculares ainda estavam vivas. Por isso, essas fontes são realmente bem melhores do que as fontes para Alexandre, o Grande. Você está certo, todos estes fatores são muito importantes: o tempo, a necessidade de múltiplas testemunhas oculares, e assim por diante. O que eu diria, então, nesse caso, é que os evangelhos se saem bem demais em comparação com as fontes de outros eventos da história antiga aceitos pela maioria das pessoas, aceitos geralmente pela maior parte dos acadêmicos.

E: Até onde diz respeito à evidência física, quando eu era mais jovem lembro-me de ter ouvido sobre terem achado o tecido de linho que envolveu Jesus. Não houve também a descoberta dos rolos do mar Morto?

Dr. C: Bem, os rolos do mar Morto não têm nada a ver com a ressurreição de Jesus nem diretamente com o próprio Jesus. Eles fornecem principalmente informações quanto ao contexto cultural do judaísmo do primeiro século, que, por sua vez, ilumina o contexto do Novo Testamento. A mortalha de linho à qual você se refere é o conhecido Sudário de Turim. Está na Igreja de São João Batista em Turim, na Itália. Está numa caixa. A igreja o retirou alguns anos atrás e permitiu que fosse submetido a certos testes. Alguns deles foram bem impressionantes, indicando que a imagem do homem no sudário tinha sangue de verdade. Incorporava dados tridimensionais que não ocorrem em pinturas ou fotografias comuns, na verdade é uma imagem negativa semelhante ao negativo fotográfico — todo tipo de elementos extraordinários. Isso fez algumas pessoas pensarem que esse pano seria a mortalha autêntica de Jesus. Mas submeteram-na ao teste de datação por carbono-14 em três laboratórios diferentes e independentes, que dataram o tecido como medieval. Portanto, isso parece sugerir que a peça não é autêntica, mas uma falsificação medieval. O mistério do sudário ainda permanece. Se é uma falsificação, ninguém sabe como foi feita. É totalmente diferente das pinturas medievais daquele tempo. Se você já viu pinturas pré-renascentistas, as figuras se parecem quase com cartuns achatados sem nenhuma perspectiva, ao passo que o homem no sudário é anatomicamente exato. Alguns especialistas que trabalharam em toda essa questão do sudário acreditam que os testes por carbono-14 podem ter sido distorcidos de alguma maneira, uma vez que o sudário foi danificado pelo fogo pelos idos de 1500. É provável que, ao restaurarem o pano, as freiras tenham entremeado tecidos na trama do sudário para consertarem roturas, remendos ou rasgões. Sugere-se que talvez o local de onde tiraram um pedaço, um centímetro quadrado da barra do sudário, fosse parte do trabalho de restauração da bainha do tecido, e não o tecido original. Por isso eles querem refazer os testes, mas a Igreja Católica não permite, porque a datação por carbono-14 destrói a amostra usada no processo e, portanto, para ela, estão destruindo essa relíquia preciosa. É sagrada e ela não quer que façam isso. A igreja não concordou em permitir que os testes sejam refeitos, mas, enquanto essas datações por carbono-14 não forem revertidas, penso que não seja possível afirmar que o sudário seja autêntico. Seria necessário mostrar de algum modo que esses testes estão errados. A despeito dos testes, os sinais de autenticidade do sudário são bem impressionantes.

S: Então, que outras peças existem como evidência física da ressurreição?

Dr. C: Bem, quando se considera a ressurreição, não há realmente nenhuma evidência física além do próprio túmulo vazio. Penso que o túmulo vazio foi a evidência física que permaneceu e era conhecida em Jerusalém. Para os habitantes de Jerusalém na época em que os discípulos começaram a proclamação de Jesus, se o túmulo não estivesse vazio, o mais fácil a fazer para calar a boca dos discípulos seria apontar o túmulo ocupado e talvez exumar o corpo. Mas não se fez isso. O túmulo estava evidentemente vazio. Essa seria a evidência física do fato. Hoje não sabemos com certeza o lugar onde ficava a sepultura, embora haja uma vigorosa tradição histórica de que a denominada Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, está construída de fato sobre o local do túmulo vazio. No centro da igreja, na parte baixa de suas entranhas, estão as ruínas de um antigo túmulo, e as reivindicações, as tradições históricas, de autenticidade, de ser o verdadeiro lugar da sepultura de Jesus, são bastante fortes; remontam a muito tempo atrás. Mas é incerto. O mais importante não é sabermos hoje onde o corpo foi sepultado. Importante é que as pessoas daquela época sabiam onde o corpo fora sepultado, de maneira que podiam conferir se o cadáver estava ou não no túmulo, quando os discípulos começaram a percorrer Jerusalém pregando: “Ele ressuscitou dos mortos”. Essa atitude seria realmente o fator-chave.

A maior parte das evidências a favor da ressurreição procede daquilo de que Mark falou: evidências testemunhais. Seriam os registros independentes que existem sobre o evento, cujas datas remontam à primeira geração após ele, e que, em última análise, penso se baseiam no relato de testemunhas oculares.

M: Mas ninguém realmente viu a ressurreição. O que se viu foram as suas consequências.

Dr. C: Está certo. Essa é uma das coisas interessantes a respeito dela. Quando se examinam as narrativas lendárias tardias da ressurreição, que surgem do segundo ou terceiro séculos depois de Cristo — há um documento denominado de Evangelho de Pedro, falsificação escrita no século II depois de Cristo — ali se tem o relato de Jesus saindo do túmulo com os anjos, e as cabeças dos anjos tocando as nuvens, mas a cabeça de Jesus passando das nuvens, e depois sai uma cruz do túmulo com uma voz do céu que lhe pergunta: “Você pregou aos que dormem?”. E a cruz responde: “Sim”. É com isso que se parece uma lenda de verdade. É enfeitada com todo tipo de colorido teológico. Em contraste, as narrativas originais, que são as mais antigas, não descrevem a ressurreição. Não falam de anjos saindo da sepultura com Jesus. Não citam textos com abonações bíblicas tiradas do Antigo Testamento. São narrativas quase totalmente desprovidas de adornos teológicos. É um tipo muito simples de relato que reconta a visita das mulheres ao túmulo, muito cedo na manhã do domingo, encontrando-o vazio. O que, penso eu, evidencia a sua credibilidade, pois não tem os penduricalhos teológicos que acompanham os relatos lendários algumas centenas de anos mais tarde.

S: Como podemos saber que as testemunhas não estavam inventando? Como podemos saber que isso é real?

Dr. C: Essa é uma teoria cuja sugestão, da parte dos deístas alemães, remonta ao final do século XVII e começo do século XVIII. Denomino-a de “Teoria da Conspiração”. Esses deístas diziam que os discípulos tinham desfrutado da vida fácil de pregação que tiveram com Jesus, e, portanto, para que a sua causa pudesse seguir adiante, eles roubaram o corpo e depois mentiram acerca das aparições e inventaram tudo isso. Bem, nenhum estudioso moderno acredita mais nisso. O único lugar onde isso aparece vez por outra é na literatura sensacionalista popular. Não acho que ninguém que leia as páginas do Novo Testamento sem preconceito pode negar que aquelas pessoas acreditavam sinceramente na mensagem que pregavam e pela qual estavam dispostas a morrer. Estavam prontas para sofrer mortes terríveis sob tortura pela verdade dessa mensagem. Poderiam estar equivocadas a respeito dela, mas não creio que podemos dizer que essas pessoas eram insinceras. Elas acreditavam realmente na mensagem. Portanto, ninguém mais sustenta esse tipo de teoria. O segundo problema com a “Teoria da Conspiração” é o fato de ser terrivelmente anacrônica. Ela enxerga a situação dos discípulos pelo espelho retrovisor de 2000 anos de história cristã. Nós agora a vemos lá atrás e dizemos que a ressurreição é aquilo em que cremos ou aquilo em que os cristãos creem, por isso, pode ser que eles a tenham mistificado ou mentido a respeito dela. Mas, veja, isso é a manhã de segunda-feira servindo como ponto de partida para o ataque. O que você precisa fazer é calçar os sapatos de um judeu do primeiro século, de um discípulo de Jesus de Nazaré do primeiro século, e perguntar o que você pensaria se o homem que você pensava ser o Messias de repente acabasse crucificado pelos romanos. Nas expectativas judaicas, o Messias seria o libertador de Israel. Ele viria e reestabeleceria o trono de Davi em Jerusalém, o maior de todos os reis do Antigo Testamento. Para os judeus do primeiro século isso significava libertar-se do jugo do império romano. Ele iria libertar Israel de Roma. Eles seriam libertados para estabelecer o trono de Davi e triunfar sobre seus inimigos. Não existe em nenhuma parte do judaísmo a ideia de um Messias que, em vez de triunfar sobre os inimigos, seja humilhado e executado por eles como criminoso e termine morto. A ideia de que o Messias ressuscitaria dos mortos era completamente desconhecida no judaísmo. A ressurreição, como eu acho que você, Mark, estava indicando na sua primeira pergunta, é algo que os judeus esperavam que acontecesse no dia do juízo depois do fim do mundo, não algo que acontecesse na história. Portanto, a reação de um discípulo de Jesus do primeiro século, confrontado com a sua crucificação, seria dizer: “O que deu errado? Pensei que ele era o Messias. Agora ele está morto. Isso não faz nenhum sentido”. Ele não pensaria: “Vou roubar o corpo, dizer que ele ressuscitou dos mortos e é o Messias”. Isso é absolutamente não judaico. Isso é olhar novamente a coisa pelo espelho retrovisor da história cristã. Por isso essa “Teoria da Conspiração” é, nesse sentido, completamente anacrônica. É também, penso eu, uma visão implausível da disposição dessas pessoas para morrer pela verdade dessa mensagem que elas estavam proclamando. Portanto, é por isso que ninguém realmente sustenta mais a “Teoria da Conspiração”.

A: Há quatro Evangelhos e parece que há discrepâncias nos relatos sobre o que as mulheres viram quando visitaram o túmulo. Como você explica essas discrepâncias?

Dr. C: O que se descobre é que essas discrepâncias aparecem nos aspectos secundários das narrativas. Todas elas concordam com um núcleo. As quatro concordam que Jesus de Nazaré foi sepultado na tardinha da sexta-feira por um membro do Sinédrio judaico chamado José de Arimateia, que um grupo de mulheres que seguiam Jesus, inclusive Maria Madalena, que é mencionada nominalmente em todos os quatro evangelhos, foi à sepultura bem cedo pela manhã. Elas acharam a pedra removida, tiveram a visão angélica e descobriram que o túmulo estava vazio. Todas as narrativas concordam com esse núcleo. As diferenças entre eles estão em detalhes circunstanciais secundários que não afetam o núcleo histórico. De fato, uma das coisas sobre a qual tenho lido e aprendido ultimamente, e que tem sido realmente interessante para mim, é algo sobre a natureza da tradição oral. Estamos falando de uma sociedade em que prevalecia a cultura oral, onde a capacidade de memorizar e passar informações oralmente era uma habilidade muito importante e altamente desenvolvida, em contraste com a nossa sociedade literária. Não temos esse tipo de memória. O modo como a tradição oral funciona é o seguinte: quem está transmitindo a história tem de dominar corretamente o fluxo básico do relato. Precisa ter as palavras-chaves ou as frases-chaves certas. Especialmente, o clímax tem que estar certo. Fora isso, ele está livre para contar o resto da história do modo que desejar. Os detalhes secundários não são tão imutáveis na tradição oral. O núcleo é imutável. Penso que uma analogia muito boa dessa cultura oral é quando se conta uma piada. Quando se ouvem diferentes pessoas contando a mesma anedota em diferentes ocasiões, elas variam alguns detalhes, mas é importante manter corretamente o fluxo básico da piada e, de modo especial, o seu desfecho. Por exemplo, eis uma piada que me contaram. Alguém me perguntou: “Você já ouviu aquela do calvinista que caiu no poço do elevador?”. Eu respondi: “Não”. Então, ele disse: “O cara se levantou, sacudiu a poeira de si e disse: ‘Ufa, ainda bem que acabou!’”. (Se você não souber o que é calvinismo, não entenderá a piada. O calvinismo diz que tudo está predestinado, assim o sujeito da piada está feliz pois a situação já acabou.) Ouvi depois outra pessoa contar a mesma piada. É só a maneira como a contou. Ele disse: “O que foi que o calvinista disse quando caiu das escadas?”. Respondi: “Não sei”. Ele continuou: “Cara, ainda bem que acabou!”. Vejam a diferença aí. Existem diferenças de segunda ordem na maneira como foi contada, mas os pontos-chaves eram o fluxo da narrativa e, depois, o desfecho. Quando se examinam os quatro Evangelhos, os ensinamentos de Jesus, as histórias de Jesus, é boa parte disso que se encontra neles. Eles têm o mesmo núcleo, mas diferem nos detalhes circunstanciais secundários. O núcleo é constante e esse é particularmente o caso das histórias de Jesus sobre o sepultamento e o túmulo vazio. Os historiadores não se incomodam muito com esses tipos de diferenças nos detalhes secundários. O fato extraordinário é que temos todos esses documentos, múltiplos e independentes, cujo núcleo concorda que isso aconteceu. O que lhes confere altíssima credibilidade. Não temos quatro fontes independentes para a maioria dos principais personagens da antiguidade. Mencionei César atravessando o Rubicão quando veio para Roma retornando da Gália. A travessia do Rubicão por César é um dos eventos mais famosos da história antiga. Há cinco relatos disso, e nenhum dele narra de fato a sua travessia. Eles não contam que ele o cruzou, e todos concordam que cruzou o Rubicão e marchou para Roma. É realmente extraordinário que existiu esse obscuro pregador da Palestina, que termina crucificado num recanto do império romano e apesar disso há excelente documentação histórica não somente a respeito da sua vida e ensinamentos, mas também sobre a sua morte e os efeitos subsequentes. A ressurreição é evento miraculoso. Não se pode esperar que existam evidências de algo desse tipo. O fato espantoso é termos relatos muito verossímeis de que o seu túmulo foi encontrado vazio, que após a sua morte Jesus apareceu vivo a várias testemunhas, que os discípulos originais — judeus do primeiro século, abatidos, desanimados, duvidosos — subitamente se converteram em ousados proclamadores da sua ressurreição e estavam prontos para suportar mortes terríveis por isso. Tudo isso são fatos notáveis que os historiadores precisam explicar, o que não pode ser feito por meio de uma “Teoria da Conspiração”. Isso simplesmente não explica os dados da maneira adequada.

E: Os Evangelhos dizem que havia soldados guardando o túmulo. O que aconteceu com eles? Que relatos existem sobre os guardas?

Dr. C: É somente o Evangelho de Mateus que registra a guarda. Penso que na hora em que as mulheres chegaram lá, os guardas já tinham fugido e voltado para a cidade. Não temos nenhum documento de primeira mão escrito pelos guardas que vigiavam a sepultura de Jesus, nem esperaríamos achar tal coisa. O que temos é o testemunho dos inimigos sobre o túmulo vazio. Como temos isso? Bem, porque Mateus relata a história dos guardas? Por que se importa em contar o fato? Ele nos diz a razão bem no final do relato. A história é assim: quando ocorreu o terremoto, o túmulo se abriu e os guardas aterrorizados fugiram para a cidade. O Evangelho de Mateus conta que então os principais sacerdotes judeus subornaram os guardas para que dissessem ao povo que, enquanto eles dormiam perto da sepultura, os discípulos roubaram o corpo. Assim como se apresenta, essa desculpa é ridícula. Os guardas romanos não teriam caído no sono quando vigiavam o túmulo. Se isso tivesse acontecido, eles estariam dormindo no país dos sonhos enquanto os homens teriam vindo, empurrado a monstruosa e pesadíssima pedra e arrombado o túmulo, sem acordá-los. Mateus relata que os guardas foram subornados para contar essa mentira e diz ele: “E essa história tem sido divulgada entre os judeus até o dia de hoje”. Assim, fica muito evidente que Mateus está contando a história para neutralizar a tentativa dos judeus de desacreditar o túmulo vazio porque, segundo eles, os discípulos vieram e roubaram o corpo. Temos aqui a evidência de um túmulo vazio, a partir dos próprios oponentes do movimento cristão primitivo, ou seja, dos próprios judeus. Os judeus não estavam dizendo que o corpo está no túmulo. Em vez disso, estavam afirmando, como resposta à proclamação da ressurreição, que os discípulos roubaram o corpo. Isso quer dizer que o túmulo estava vazio. Os líderes judeus não iriam andar por aí dizendo às pessoas que os discípulos roubaram o corpo se todos soubessem que o cadáver ainda estava na sepultura em Jerusalém. É evidente, pelo fato de Mateus se sentir obrigado a contar essa história, que é do conhecimento geral que o túmulo está vazio. Nesse sentido, temos realmente o testemunho do próprio inimigo de que o túmulo estava vazio. Isso é importante para a questão levantada: “Os documentos procedem somente das pessoas que têm um ponto de vista, que creem nele?”. Nesse caso, na alegação dos judeus de que o túmulo está vazio por causa do roubo do corpo, temos realmente o testemunho do inimigo sobre o fato do túmulo vazio.

S: Existe algum registro romano da crucificação de Cristo?

Dr. C: Há um historiador romano, Tácito. Tácito escreveu por volta de 110 d.C. Jesus foi crucificado aproximadamente em 30 d.C. Tácito, em seu livro Os Anais de Roma, escreve que Jesus de Nazaré foi crucificado sob o edito de Pôncio Pilatos na Palestina. É tudo o que ele diz. Temos também um testemunho judaico da crucificação de Jesus. Houve um historiador judeu chamado Josefo que foi realmente contemporâneo de Jesus. Ele escreveu uma história do povo judeu. Era também colaborador dos romanos; era como os franceses na Segunda Guerra Mundial que colaboravam com os nazistas, como os franceses de Vichy, considerados traidores. É o que Josefo era: um judeu colaborador de Roma. Ele escreveu essa história dos judeus na qual fala de João Batista, Caifás e Anás, o sumo sacerdote durante a vida de Jesus. Fala sobre Jesus e como seu irmão, Tiago, foi apedrejado até a morte. E menciona Jesus sendo crucificado. Ele diz que Jesus de Nazaré era fazedor de milagres, um taumaturgo, que perambulava pela Palestina pregando e foi executado por crucificação. Josefo diz que os grupos de seus seguidores não se haviam desfeito, que continuavam a segui-lo naquela época. Portanto, existem esses testemunhos seculares sobre Jesus, nos escritos históricos romanos e judaicos, o que, novamente, é extraordinário que essa coisa esteja registrada lá.

E: Tenho uma pergunta a respeito de quando as mulheres foram visitar o túmulo que estava selado: por que foram lá sabendo que havia guardas e essa pedra em frente da sepultura?

Dr. C: Quando se lê literatura judaica como a Misná, escrito judaico de alguns séculos depois de Jesus, que descreve as práticas judaicas, as observâncias religiosas e assim por diante — provavelmente as práticas registradas na Misná remontam a tempos mais antigos, até mesmo séculos, a prática dos judeus, depois do sepultamento de alguém, era visitar o túmulo durante os próximos três dias. Eles ungiam o corpo derramando óleo sobre ele, ou especiarias de cheiro e coisas desse tipo. O relato dos Evangelhos daquilo que as mulheres estavam fazendo coincide exatamente com as práticas de sepultamento descritas pela Misná. Agora, você poderia dizer: “Por que elas iriam, se já sabiam que havia uma pedra enorme?”, e assim por diante. Penso que isso apenas subestima a profunda tristeza delas e a devoção que tinham a Jesus. Talvez tinham a esperança de que os guardas movessem a pedra para elas e lhes deixassem entrar. De fato, na narrativa se diz que, ao irem no caminho, elas se indagaram: “Quem nos removerá a pedra da entrada do sepulcro?”. Elas estão fazendo a mesma pergunta. Mas não eram como indivíduos maquinais. Eram mulheres que amavam profundamente a Cristo e que queriam fazer por ele aquilo que era certo. Portanto, talvez acreditassem que os guardas lhes removessem a pedra, permitissem que entrassem e praticassem seus deveres religiosos como judeus cumprindo suas últimas devoções.

E: Mais tarde, após a ressurreição, quando Jesus voltou para visitá-los, os discípulos a princípio não o reconheceram. Por isso ele permitiu que um dos discípulos, Tomé, sentisse os furos em suas mãos. Por que não o reconheceram?

Dr. C: O tema do não reconhecimento só se encontra em três relatos de aparições nos Evangelhos. Jesus aparece a Maria Madalena no Evangelho de João. Está no relato de sua aparição à beira do mar da Galileia, em João 21. Depois, na narrativa de Lucas sobre o caminho de Emaús, na qual os discípulos estão indo a pé para essa povoação. Mas nos outros relatos não há nenhum problema em reconhecerem Jesus: a aparição na sala superior, a aparição às mulheres, e assim por diante. Por isso precisamos nos perguntar o que significa isso, o fato de não o reconhecerem logo de início? Na aparição na estrada de Emaús, Lucas diz não que a sua aparência tinha mudado de alguma maneira, mas que “os olhos deles estavam como que fechados, de modo que não o reconheceram”. Ele entende que seja uma restrição imposta sobrenaturalmente. Depois, no momento em que Jesus se senta e parte o pão com eles, seus olhos são abertos e o reconhecem. Não havia mesmo nada de diferente na sua aparência. Foi uma restrição imposta sobrenaturalmente sobre eles e, no momento da revelação, seus olhos foram abertos e puderam reconhecê-lo. O que os escritores dos evangelhos estão tentando nos dizer com o tema do não reconhecimento? Qual o objetivo disso? Penso que talvez a questão seja esta: Jesus está tentando comunicar aos discípulos que não se relacionariam mais com ele da mesma maneira que faziam antes, quando o Senhor andava entre eles e desfrutavam da sua presença terrena. Agora Jesus está partindo e não estará mais com eles numa forma fisicamente reconhecível. Por isso, eles precisam se acostumar a esse novo modo de relacionamento com o Senhor no período pós-ressurreição. É o que posso imaginar de melhor sobre qual seria a questão teológica do tema do não reconhecimento e do momento de revelação.

M: Caso se creia em tudo isso e o corpo dele desapareceu, surgem algumas perguntas: se ninguém o roubou, como desapareceu? E qual propósito haveria em desaparecer, por que desapareceu? Como você disse, olhando-se retrospectivamente, é bastante óbvio por que desapareceu, mas, no momento, ninguém tinha a mínima ideia por que ele desapareceria. Nunca se ouviu nenhuma razão por que desapareceu?

Dr. C: Essa é uma boa questão. Quando se leem os relatos sobre o túmulo vazio, eles não produzem fé nos discípulos. Quando veem o túmulo vazio, eles não dizem: “Uau! Ele ressuscitou dos mortos!”. O que dizem é que alguém roubou o corpo. Portanto, a sua questão está exatamente certa. Como bons judeus do primeiro século, pensam que o túmulo foi roubado assim que o veem. Foi somente com a aparição de Jesus a eles que passaram a acreditar que ele ressuscitou dos mortos. Portanto, o túmulo vazio não é a fonte da sua fé — era evidência física da ressurreição, mas não foi isso que os trouxe à fé. As aparições físicas foram os fatos que os fizeram acreditar. Agora, para onde foi ele? Inclino-me a dizer isto: que Jesus no seu estado ressurreto não iria ficar mais aqui. Ele sairia deste contínuo espaço-temporal de quatro dimensões. Ao se ler os relatos dos aparecimentos nos evangelhos, é essa a impressão que se tem. Ele pode entrar neste contínuo espaço-temporal em um lugar e sair dele e depois entrar em algum lugar sem atravessar a distância entre eles. Por isso, ele desaparece em Emaús, há mais de 12 quilômetros de Jerusalém, e aparece depois no salão superior da casa sem andar o caminho entre elas. Entendo que seja como uma realidade hiperdimensional, exatamente como em um plano bidimensional, posso atravessá-lo aqui com meu dedo e depois em outro lugar. Neste plano bidimensional, as pessoas podem ver meu dedo aqui e o veriam acabar de desaparecer. Depois, o veriam acabando de aparecer aqui, mas não o veriam atravessar a distância entre esses pontos. É muito do que ocorre com a ressurreição do corpo de Jesus. Em seu corpo ressurreto, ele pode entrar e sair à vontade do nosso continuum em qualquer lugar. Agora, ele está fora do nosso contínuo espaço-temporal. O anseio dos cristãos é que algum dia ocorra o retorno de Cristo. A segunda vinda de Cristo será o fim da história humana, quando Cristo reentrar no nosso contínuo espaço-temporal corpórea e pessoalmente e causar o fim da história humana.

E: Considerando os milagres que aconteceram no passado, como você explicaria que, apesar de ele ter deixado o Espírito Santo, hoje não vemos realmente uma tonelada de milagres?

Dr. C: Ao ler a Bíblia, descobre-se que os milagres bíblicos estão na realidade confinados a intervalos de tempo muito curtos. Eles tendem a acumular-se nas imediações do Êxodo, quando Deus libertou seu povo do Egito: as pragas contra o faraó e os egípcios, o mar Vermelho, depois durante os dias de Elias e Eliseu, séculos mais tarde, e então nas imediações de Jesus de Nazaré, que é novamente mais de um milênio depois. Entre um período e outro, há intervalos sem nenhum milagre ou quase nenhum. Portanto, a Bíblia não está tão está abarrotada de milagres como se pode vir a pensar. Na realidade, pode-se ver limites estreitos que tendem a acumular-se em torno dos eventos com tremenda importância reveladora, nos quais Deus está se revelando de maneira especialíssima, como para Moisés ao libertar seu povo da servidão no Egito. Há uma série de eventos milagrosos para mostrar que ele é o libertador que os livrará da servidão. É semelhante ao que acontece com Jesus, os milagres de Jesus. Ele os denomina de “sinais do Reino”. A mensagem central que Jesus proclamava era a irrupção do Reino de Deus em pessoa humana. Assim, os milagres, os exorcismos, a expulsão de demônios, são sinais para o povo de que o Reino de Deus está se introduzindo na história humana na pessoa de Jesus de Nazaré. O clímax, evidentemente, é a sua ressurreição, um milagre incomparável. Deus atestou as reivindicações de seu Filho dessa maneira dramática e sem precedentes, coisa que desde então jamais se repetiu. Se Jesus era realmente o Filho de Deus e foi crucificado por blasfêmia, penso que vocês concordarão que Deus confirmou aquelas reivindicações supostamente blasfemas de uma maneira inequívoca, dramática, e mostra que Jesus era quem ele afirmava ser. Ele estava dizendo a verdade. No fim das contas, não era blasfemador. A ressurreição de Jesus foi a confirmação divina do homem que os judeus tinham rejeitado como blasfemador.

O que é interessante, também, ainda ligado a isso, é que a maioria dos historiadores acredita que Jesus de Nazaré era operador de milagres e exorcista. Mas procuram desmerecer essas coisas explicando que eram psicossomáticas, mas não negam que a operação de milagres e exorcismos fazia parte da imagem do Jesus histórico, quando ele realmente viveu. Essas coisas não são lendas tardias que resultaram ao longo das décadas e dos séculos. Em razão das numerosas testemunhas e dos muitos testemunhos independentes, até mesmo eruditos liberais creem que Jesus de Nazaré realizou milagres e exorcismos como sinais da verdade do Reino de Deus.

M: Você mencionou exorcismos. Por que, desde que Jesus morreu, não temos, por assim dizer, visto demônios e casos em que o exorcismo seja necessário?

Dr. C: Isso é polêmico, mas temos, sim. Você assistiu ao filme O Exorcismo de Emily Rose? É baseado em história verídica. Existem relatos hoje de exorcismo de possessão demoníaca. Esse foi dramatizado em filme. Mas já ouviu acerca de M. Scott Peck, que escreveu The Road Less Traveled [A trilha menos percorrida] e outros livros afamados? Ele era psicólogo. Pouco antes de sua morte (faleceu recentemente), a última obra na qual estava trabalhando era sobre possessão demoníaca. Ele escreveu um livro — não li ainda, mas já li algumas resenhas sobre ele — no qual documenta três ou quatro exorcismos testemunhados pelo autor. Ele está convencido que seja um fenômeno genuíno que não pode ser desconsiderado por explicações psicológicas. Ele é psicólogo profissional. Nessa questão, Peck não está sozinho. Há outras pesquisas que têm examinado a possessão demoníaca. Elas dizem que é um fenômeno real que ainda ocorre. Não ocorre em todo lugar. Do pouco que li sobre demonismo, quem corre esse perigo seriam as pessoas envolvidas com ocultismo. Acontece alguma coisa quando alguém se envolve em práticas ocultistas. Abre-se uma espécie de porta na mente para esse tipo de atividade demoníaca. Mas quem se mantiver longe das coisas ocultas, estará bem seguro. Não ficará endemoninhado. Por isso fico longe de coisas como tábuas ouija [no Brasil, “jogo” ou “brincadeira do copo” —N. do T.], sessões para invocar espíritos, tentar entrar em contato com os mortos, esses tipos de coisas. Acredito que existe um mundo espiritual lá fora e um portal para deixar os entes espirituais entrarem.

M: Em determinado ponto, você disse que era Jesus quem fazia exorcismos e que ele era único e singular. Como há outras pessoas fazendo isso hoje?

Dr. C: Não quis dizer que Jesus era a única pessoa que pode exorcizar. Havia judeus exorcistas em seus dias. Na verdade, não existe somente literatura judaica independente sobre essas pessoas, mas são referidas até nos evangelhos. Os exorcismos eram singulares para Jesus. Penso que eram especiais para ele porque expulsava os demônios por sua própria autoridade. Ele não orava para que Deus expulsasse os demônios, ou coisas assim. Ele dizia: “Cala-te e sai dele”. Ele tinha poder para mandar nos demônios. Ele mostrava autoridade espiritual sobre as forças das trevas pela autoridade para comandá-los, ao passo que hoje os exorcismos são feitos mediante oração e jejum, reunindo um grupo de pessoas para orar pelo possesso. A Igreja Católica Romana tem prescrita toda uma sequência de eventos que deve ser seguida ao se realizar um exorcismo, conforme se vê no filme a que me referi, O Exorcismo de Emily Rose, e que o sacerdote tenta seguir. Ele é confrontado pela menina, que é habitada por seis seres demoníacos. Ela é mais forte do que ele, e o exorcismo não funciona. É muito diferente, portanto, de quando Jesus os expulsava com a sua autoridade. É isto o que chocava as pessoas com relação a Jesus: a autoridade que ele tinha para fazer isso. Ele podia realizar milagres com sua própria autoridade, subjugar demônios com sua própria autoridade. Ele podia ensinar a lei com sua própria autoridade e ensinar a respeito do que Deus tinha feito no Antigo Testamento com a sua própria autoridade. Ele podia até mesmo alterar a lei que Deus havia dado no Antigo Testamento pela sua própria autoridade. Por isso é que se encontra a seguinte frase no final do Sermão do Monte: “as multidões estavam maravilhadas com seu ensino; pois ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas”. Assim, qualquer um (totalmente à parte da sua ressurreição) é confrontado pela pergunta que Jesus fez aos seus discípulos: “Mas vós, quem dizeis que eu sou?”. Era um maluco? Um rabino? Apenas um mestre moral? Ou era quem afirmava ser? Penso que a ressurreição nos dá uma boa resposta: ele era quem afirmava ser. Ele era de fato o Filho de Deus, Arauto do Reino de Deus. Deus, ressuscitando-o dos mortos, mostra que ele não era blasfemo.

M: O que faz de Jesus tão especial a ponto de poder ressuscitar?

Dr. C: Eu diria que é porque Jesus de Nazaré é divino. Ele era Deus encarnado. Ele era a segunda pessoa da Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ele era a segunda pessoa da Trindade encarnada na história humana. O termo encarnação vem da palavra latina in, que significa “em”, e carnis, “carne”: “Deus em carne”. É isso o que os cristãos celebram no Natal. Ele é a única pessoa que fez isso. E não existe nenhuma outra pessoa assim. Portanto, a ressurreição de Jesus é única e singular na história humana. Não existe nada semelhante a ela.