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Doutrina de Deus (Parte 4): Visões do Anti-Realismo

Teorias Anti-Realistas / Aplicação Prática

Em nossa aula, falamos sobre os atributos de Deus e, especificamente, sobre seu atributo de asseidade ou auto-existência. Vimos que o desafio mais sério colocado contra o atributo incomunicável único de Deus da asseidade é o platonismo, que é a visão de que existem outros objetos eternos não criados, necessários e eternos além de Deus - coisas como objetos matemáticos, números, conjuntos, funções e assim por diante. Na semana passada, começamos a revisar as respostas ao desafio do platonismo.   [Dr. Craig faz referência ao diagrama da semana passada - veja a transcrição anterior desse diagrama].  Discutimos, em primeiro lugar, as alternativas realistas ao platonismo, que considerariam objetos matemáticos como ideias abstratas criadas por Deus ou como objetos concretos, ou seja, pensamentos nas mentes humanas ou, mais plausivelmente, pensamentos na mente de Deus. Todas essas são soluções realistas para o problema colocado pelo platonismo, porque essas soluções concordam com o platonista de que, de fato, existem objetos matemáticos - essas coisas realmente existem.

Mas, além dessas soluções realistas, você verá no lado direito do diagrama uma variedade de soluções anti-realistas para o desafio do platonismo. Eles estão unidos ao negar a existência de objetos matemáticos. Objetos matemáticos simplesmente não existem. Não existem tais coisas. Essas soluções anti-realistas removem imediatamente o desafio colocado pela existência de objetos abstratos contra Deus ser a única realidade, porque no anti-realismo simplesmente não existem tais objetos e, portanto, Deus é o único ser eterno não-criado, auto-existente e necessário.

Vamos revisar brevemente algumas dessas soluções anti-realistas. Por exemplo, a Lógica Livre é um tipo de lógica que só foi desenvolvida a partir dos anos 1970. É um desenvolvimento muito recente no estudo da lógica. De acordo com a Lógica Livre, podemos usar termos para nos referirmos a coisas, mesmo que essas coisas não existam. Por exemplo, posso me referir ao buraco no seu sapato. Seu sapato existe, mas não é como se, além do sapato, houvesse outra coisa, nesse caso, o buraco no sapato. O buraco não é uma coisa. Não é um objeto que existe. O que você simplesmente tem é um sapato modelado de uma certa maneira, mas o buraco não é algo diferente. Ou se eu disser: "Falta compaixão no mundo". Não estou me comprometendo com coisas chamadas "falta". Não existem coisas por aí no mundo, objetos,"faltam” quando digo que há falta de compaixão no mundo. Ou se eu disser “quarta-feira é o dia da reunião da faculdade”, eu estou dizendo algo verdadeiro, mas não estou me comprometendo com a realidade das quartas-feiras. Não estou dizendo que quartas-feiras são objetos que realmente existem. Ou, se eu disser: "O raciocínio rápido do piloto evitou o terrível acidente no rio Hudson". O acidente nunca aconteceu, mas ainda posso me referir a ele em uma frase verdadeira. Portanto, a Lógica Livre é uma lógica que permite que você fale e se refira a coisas, mesmo que essas coisas não existam. O que o defensor da Lógica Livre pode dizer é que sentenças matemáticas, como 2 +2 = 4, são verdadeiras, mesmo que os termos dessas sentenças não se refiram realmente a nada. Não existe mais o número 2 +2 ou 4, assim como não existe o buraco na sua camisa, a falta ou a quarta-feira. Essa é a alternativa da Lógica Livre.

O figuralismo (o próximo na lista) é uma forma diferente de anti-realismo. O figuralismo aponta que grande parte da nossa linguagem, grande parte da linguagem comum, é de natureza figurativa.[1]  É de natureza metafórica. Se eu digo: "Está chovendo o mundo lá fora", eu disse algo que é verdade, mas isso não significa que o mundo está caindo do céu. Esta é uma figura de linguagem para dizer que está chovendo muito lá fora. Portanto, seria inadequado interpretar essa afirmação literalmente. É figurativamente verdade que chove o mundo lá fora. Ou, se alguém está com raiva, posso dizer: "Ela está de cabeça quente". Isso é verdade, mas não de maneira literal. Essa é uma figura de linguagem. Da mesma forma, o figuralista dirá que o discurso matemático é plausivelmente interpretado como um tipo de discurso metafórico ou figurativo. Não é para ser entendido literalmente como referência a coisas como números. É isso que um filósofo chama de metáforas existenciais. São maneiras figurativas de falar das coisas, mas realmente não existem no sentido literal. Isso seria Figuralismo.

O Neutralismo é ainda uma terceira forma de anti-realismo. O neutralismo concorda com a Lógica Livre que podemos usar termos para nos referir a coisas que não existem. Quando nos referimos a coisas, nossas declarações são neutras em relação à existência dessas coisas. Portanto, se eu disser: “O clima em Atlanta hoje está agradável”, não estou me comprometendo com um objeto chamado “clima” como se “o clima” fosse algo que existe. Ou se eu disser: “A vista do vale de Jezreel, no alto do Monte Carmelo, era deslumbrante”. Não estou me comprometendo com um objeto “a vista” do vale de Jezreel. Não é como se houvesse um objeto no mundo chamado “a vista do vale de Jezreel”. Ou, se eu disser: "O preço dos ingressos foi de dez dólares", não estou me comprometendo com a realidade dos objetos chamados "preços". De muitas maneiras diferentes, usamos termos na linguagem comum para falar sobre coisas sem nos comprometermos com a realidade dessas coisas.

Certamente, às vezes, pretendemos falar de uma maneira metafisicamente comprometedora. Se eu disser: "Esta mesa é feita de laminado de madeira", estou claramente me comprometendo com a realidade da mesa. O que nos levará a pensar se uma pessoa está pensando ou não que existe um objeto real, em geral, será os efeitos pessoais - declarações retóricas talvez enfatizando que "isso  realmente  existe” ou o contexto. Mas o Neutralista concordará com o defensor da Lógica Livre de que frequentemente usamos termos para falar sobre coisas sem pensar que existem objetos que correspondem a elas. Portanto, ele concordaria com relação aos objetos matemáticos que, quando dizemos afirmações como 3 x 3 = 9, esses termos são apenas neutros quanto ao fato de você estar ou não comprometido com a realidade dos objetos matemáticos.

Porém, o Neutralista vai mais longe do que o defensor da Lógica Livre, porque o o defensor da Lógica Livre pensa que se você disser "existe" alguma coisa, você estará comprometendo-se com a realidade dessa coisa. O neutralista diria que mesmo expressões como "existe" são ontologicamente neutras. Posso dizer, por exemplo, "existem profundas diferenças entre republicanos e democratas" sem pensar que me comprometi com objetos no mundo chamados "diferenças" e que alguns são "profundos". As expressões “existe” e “há” (em inglês, "there is" e "there are") são muito leves em seus compromissos ontológicos. Serão, novamente, fatores pessoais, como o contexto, a inflexão de sua voz, dizendo " realmente existe um objeto abstrato", que indicará se você pretende ou não assumir um compromisso ontológico. Assim, o Neutralista vai ainda mais longe do que o defensor da Lógica Livre. O Neutralista dirá que realmente não há nada na linguagem que, em virtude de seu significado, o comprometa a dizer que existem realmente aqueles objetos que correspondem aos termos que você usa ou são as coisas que você diz que "existe" ou que "há”. O neutralismo é uma visão, direi apenas pessoalmente, pela qual estou muito atraído.[2] Parece-me que isso fornece uma explicação muito plausível da linguagem comum. Quando aplicado ao discurso matemático, permite afirmar a verdade da matemática, mas simplesmente para dizer que é neutra em termos de seus compromissos com os objetos.

O ficcionalismo é uma forma bastante diferente de anti-realismo. O ficcionalista, assim como o Platonista, concorda que, se você usar termos para se referir a algo, ou se disser que "existe" ou "há" algo, estará comprometido com a realidade das coisas que diz que "existem" ou a que você se refere. Assim, o ficcionalista aceita os critérios de compromisso ontológico que o neutralista e o defensor da Lógica Livre rejeitam. Mas por que o ficcionalista não é um platonista? Porque os ficcionalistas pensam que aquelas afirmações que se referem ou dizem que "existe" ou "há" certas coisas são falsas. Elas são fictícias. Não são verdade. Assim, o ficcionalista adotará a linha radical de que não é verdade que 2 +2 = 4. Não é verdade que 3 seja maior que 1. Não é verdade que exista um número primo entre 2 e 4. Se você diz que isso é loucura - essas parecem ser verdades óbvias, até mesmo verdades necessárias -, o ficcionalista lembrará que, em sua opinião, dizer 2 +2 = 4 é fazer uma afirmação metafísica radical de que existe um objeto abstrato chamado “2 +2”e existe um objeto abstrato chamado“4” e esses dois objetos são o mesmo objeto. E isso não é óbvio de modo algum. Portanto, o ficcionalista dirá que, se você aceitar esses critérios de como assumimos compromissos ontológicos, então está longe de ser óbvio que as afirmações da aritmética elementar são verdadeiras. Na verdade, essas afirmações metafísicas são radicais e não temos motivos para pensar que sejam verdadeiras.

O ficcionalista dirá que essas afirmações são verdadeiras na história da matemática; dentro da aritmética padrão, elas são verdadeiras. Nesse sentido, são como declarações de ficção. Não é verdade que Sherlock Holmes mora na Baker Street 221B. Não existe esse lugar. Não existe essa pessoa. Mas nas histórias de Arthur Conan Doyle, é verdade que Sherlock Holmes morava na Baker Street 221B. Assim, o ficcionalista dirá que as afirmações da matemática são verdadeiras na história da matemática, da mesma maneira que algumas dessas afirmações são verdadeiras nas histórias de Sherlock Holmes de Conan Doyle. Mas outras declarações serão falsas. Não é verdade, por exemplo, que Sherlock Holmes conheceu Henri Fauveau nessas histórias. Isso não seria verdade na história de Sherlock Holmes. Também não é verdade na história da matemática padrão que 2 +3 = 4. Isso é ficcionalismo.

A Pretense Theory [tradução livre: Teoria da Pretensão] é outro anti-realismo que se inspira nas teorias da ficção. Eles trabalham em grande parte com o brilhante trabalho pioneiro de um filósofo da Universidade de Michigan chamado Kendall Walton. O trabalho de Walton sobre ficção sustenta que a ficção é uma extensão dos jogos infantis de faz de conta. Walton observa que as crianças investem muito tempo e energia em jogos de faz de conta. Ele diz que seria muito surpreendente se, quando as pessoas atingirem a idade adulta, desistissem disso de repente e não fizessem mais de conta. Walton diz que, de fato, não desistimos. É disso que trata ficção, drama, cinema, literatura e arte. Estes são, de fato, jogos de fantasia para adultos. Ele diz que o que é crucial para a ficção não é que as declarações sejam falsas. Um romance sobre o futuro, como o de George Orwell,   1984 , pode ser verdade. Tudo poderia ser verdade, mas ainda é ficção. Ou a história de Hamlet pode ser verdadeira em algum outro planeta, em outra galáxia do universo, pelo que sabemos, mas Hamlet ainda é ficção. Não é a falsidade da história que torna algo fictício. Na análise de Walton, o que torna algo fictício é que é prescrito que seja imaginado como verdadeiro. Devemos imaginar que existe um príncipe dinamarquês chamado Hamlet e que ele fez isso e aquilo.[3]  Ou devemos imaginar que havia um detetive morando em Londres que teve um colega chamado John Watson que fez tremendas façanhas. Então, dentro deste mundo fictício da imaginação, a história pode ser desenvolvida. Então, o que é essencial para a ficção, na visão de Walton, é esse ato de acreditar ou imaginar que algo é verdadeiro. As declarações são prescritas para serem imaginadas como verdadeiras. Eles podem ou não ser verdade. Mas, em ambos os casos, o essencial para a ficção é a prescrição de ser imaginada como verdadeira.

Aplique isso à matemática. Na matemática, somos, de certo modo, prescritos para imaginar os axiomas como verdadeiros. Você deve prescrever que os axiomas aritméticos elementares são verdadeiros. Então você pode derivar todos os seus teoremas. Ou você imagina que os axiomas da teoria dos conjuntos são verdadeiros. Então o matemático pode derivar todos os seus teoremas. Então, toda a situação é uma espécie de faz de conta. Longe de ser uma visão louca da matemática, essa é uma visão da matemática que muitos matemáticos realmente consideram. Eles diriam que os axiomas matemáticos são postulados que você postula e, a partir deles, você deriva suas deduções. Mas, como matemático, você é livre para adotar um conjunto diferente de postulados, um conjunto diferente de axiomas e explorar isso. Portanto, existe uma grande variedade de teorias de conjuntos que são oferecidas hoje. Não existe simplesmente uma teoria de conjunto único na matemática. Há uma série de teorias de conjuntos. Estas têm diferentes compromissos ontológicos. Alguns comprometem você com conjuntos. Alguns o comprometem com um tipo diferente de objetos chamado classes, que são diferentes dos conjuntos. Portanto, a Teoria da Pretensão dirá que, por você estar apenas fingindo ou imaginando que essas coisas são verdadeiras, você não está mais se comprometendo com a realidade desses objetos, assim como com a realidade de Sherlock Holmes ao imaginar que esse mundo fictício é o caso.

O neo-meinongianismo é um dos anti-realismos mais loucos. Isso surge do filósofo austríaco Alexius Meinong, que viveu no final do século XIX e no início do século XX . Meinong estava preocupado em desenvolver uma teoria dos objetos. Ele chamou sua filosofia de "Teoria dos Objetos" - em alemão, Gegenstande Theorie. O que Meinong defendeu é que existem objetos que não existem. Ele diz que, embora possa parecer paradoxal, há coisas das quais é verdade que não existem. Unicórnios. Centauros. Fadas. O acidente que foi evitado. Furos. Há coisas que não existem, diria Meinong. Ele desenvolve toda a teoria sobre esses objetos. Sob esse ponto de vista, o neo-meinongiano (ou seja, o seguidor moderno de Meinong do qual hoje existem vários no mundo) diria que objetos matemáticos são objetos que não existem. Essa seria uma forma de antirrealismo.

Outra visão seria o estruturalismo modal. Essa é uma visão que foi defendida por Geoffrey Hellman, que é um filósofo da matemática. Nesta visão, a matemática é sobre estruturas. Sem entrar em grandes detalhes, a ideia aqui é que os números são posições nas estruturas. Portanto, a terceira posição em uma estrutura seria 3, a quarta posição seria 4 e assim por diante. Não há objetos chamados números. São apenas posições em uma espécie de estrutura abstrata. Alguns estruturalistas da matemática pensam que existem estruturas. Isso seria um tipo de objeto abstrato. Um platonista diria que não há números, mas existem estruturas. Mas o estruturalista modal dirá que poderia haver tais estruturas. O que ele diria é que, se houvesse números, então 2 +2 seria igual a 4.[4] Ou, se houvesse números, a raiz quadrada de 9 seria 3. Então você pode ver que ele reinterpreta a matemática de tal maneira que não o compromete com a realidade dos objetos que aparecem nessas declarações. Eles são simplesmente parafraseados de certo modo em que é possível dizer que existam tais coisas e, se existissem, teriam essas propriedades. Então, estruturalismo modal é ao que me referi na semana passada. É um tipo de estratégia parafrástica. Ou seja, você oferece paráfrases de sentenças matemáticas que não envolvem compromissos com esses objetos abstratos.

Esses são apenas alguns dos antirrealismos que estão sendo oferecidos hoje. Há uma verdadeira variedade de alternativas. Há outros que nem estão nesta lista. Quero apenas compartilhá-los com vocês para terem uma ideia do campo de opções que está aberto. Obviamente, nesta aula, não discutimos e nem discutiremos nada sobre isso em detalhes, mas simplesmente quero familiarizá-los com o leque de opções hoje para que alguém não pense que a realidade dos objetos matemáticos representa um desafio insuperável para a auto-existência e asseidade divina, à ideia de que Deus é a única realidade. Isso não é verdade. Como você pode ver, existe hoje um grande número de opções disponíveis para o teísmo cristão que não o comprometeria com a realidade de objetos não criados de qualquer tipo. O platonismo é apenas uma visão, uma visão minúscula, em toda a gama de visões sobre a realidade desses objetos. Eu acho que essas outras visões, muitas delas, são muito plausíveis. No meu livro que vou publicar sobre isso, defenderei várias dessas visões como alternativas plausíveis ao platonismo. Para que o platonismo derrote, por assim dizer, a auto-existência única de Deus, ele teria que provar que o platonismo é verdadeiro e que todas essas alternativas são falsas. Acho que ninguém acredita que exista uma perspectiva realista de fazer isso.

COMEÇO DA DISCUSSÃO

Aluno: Muitas dessas teorias me lembram muito o argumento transcendental com o qual eu meio que tive dificuldade. O argumento transcendental é essencialmente, na minha opinião, um argumento para a existência espiritual. Está dizendo que você não poderia ter objetos, como amor ou a justiça, e explicar isso com uma visão naturalista. Parece que muitas dessas teorias derrotariam o argumento transcendental que considero um argumento atraente, mas ainda não sei se posso sustentá-lo. Fiquei me perguntando qual era o seu pensamento.

Dr. Craig: Eu nunca ouvi o que você acabou de descrever chamado de argumento transcendental. Como ouvi essa expressão ser usada, geralmente significa que, para afirmar a racionalidade e o pensamento lógico, é necessário que haja alguma base disso em Deus, e não no processo evolutivo, porque o processo evolutivo não visa a verdade. Apenas visa a sobrevivência. Poderíamos sobreviver sem ter crenças verdadeiras. Enquanto essas crenças são propícias à sobrevivência, a verdade não precisa entrar na equação. No naturalismo, o argumento é que somos derrotados por pensar que nossas faculdades cognitivas são confiáveis. É assim que eu ouço e entendo o argumento transcendental. O que você parece estar dizendo é que, para que haja objetos referidos por esses termos abstratos, você precisa ter Deus, talvez, como base para eles. Eu acho que o conceitualista divino pode muito bem argumentar assim, porque ele pensa que esses são pensamentos na mente de Deus. Então eu consigo ver alguém dizendo que 2+2 = 4 requer a existência de números para ser verdade. Mas o que são números? Bem, eles devem ser pensamentos na mente de Deus, então esse é um argumento para a existência de Deus.[5]  Eu concordaria com o que você disse, que o antirrealismo iria minar esse argumento. Eu não uso esse argumento. Não acho que seja um bom argumento, porque concordo com o neutralista sobre isso. Não vejo razão para pensar que a verdade de 2 +2 = 4 o comprometa com a realidade de 2 +2 ou 4. Costumo ouvir isso sendo chamado de o argumento conceitualista a favor da existência de Deus. Eu acho que a pessoa que deseja usar esse argumento terá que derrotar todo o lado direito do diagrama. Eu acho que isso seria muito difícil de fazer.

Aluno: O que você está dizendo pelo diagrama é que o lado esquerdo está se referindo a objetos matemáticos sendo mentalmente verdadeiros, mas não são metafisicamente reais. É isso que você está dizendo?

Dr. Craig: O lado esquerdo? Não.

Aluno: O lado direito está derrotando o lado esquerdo nesse sentido?

Dr. Craig: O lado direito são as visões antirrealistas. Essas visões realistas pensam que existem objetos matemáticos.  Existem números e são abstratos (como o platonista pensa) ou são concretos (físicos ou mentais). Portanto, as visões realistas pensam que realmente existem números.

Aluno: Ah. É, isso não está certo.

Dr. Craig: Acho que não, mas estamos deixando isso em aberto porque existem formas de realismo como o Criacionismo Absoluto ou o Conceitualismo Divino que são consistentes em dizer que Deus é o único ser auto-existente não criado e essas outras coisas dependem de Deus.

Aluno: E isso não seria o mesmo que dizer que existem coisas como perfeições morais, como o bem ou a justiça, ou coisas assim. Como podemos, então, argumentar para dizer que essas coisas são reais, mas são muito mais reais do que os números?

Dr. Craig: O que você aponta aqui é que, enquanto eu tomei objetos matemáticos como meu ponto de partida, você poderia colocar outras coisas assim. Por exemplo, os valores morais. Aqui, eu seria realista. Eu acho que existem os valores morais. Mas eu não seria um platonista. Não acho que exista algo como a justiça, a rapacidade ou a ganância, como algum tipo de objeto abstrato e estranho. Eu diria que eles estão ancorados em Deus, que é um objeto concreto. Isso se encaixaria muito bem com a visão de Deus como paradigma concreto e fundamento dos valores morais objetivos.

Aluno: Seria possível que as ideias antirrealistas saíssem pela culatra? Alguém, por exemplo, pergunta se você acredita que Deus é um objeto não criado. No antirrealismo, como você pode dizer que existe um Deus?

Dr. Craig: Como você acha que eu responderia a essa pergunta?

Aluno: Porque Deus não foi criado ou porque Deus [...]. Eu não sei! É por isso que estou perguntando.

Dr. Craig: Eu apresentaria o argumento cosmológico, teleológico, moral e ontológico para a existência de Deus.

Aluno: Qual você tem para os números?

Dr. Craig: Temos argumentos. Temos razões para pensar que Deus é real. Não estamos apenas postulando a existência de Deus com base na linguagem - que existem frases como "Deus é bom" ou algo assim, e, portanto, o termo "Deus" deve se referir a um objeto, e assim, Deus deve existir. Eu concordo que esse tipo de argumento não funciona, usar esse tipo de argumento linguístico. Mas acho que você deve ter uma causa da origem do universo, por exemplo. Esse não é um argumento linguístico.

Aluno: O que impede o conceitualista divino de dizer que o estruturalismo modal é apenas um ponto em que Deus nos aceita e cria essa realidade?

Dr. Craig: Isso é o que o conceitualista diria. Essas visões são, até certo ponto, incompatíveis entre si. O antirrealista diz que não há objetos matemáticos. O conceitualista divino diz que sim, e eles são pensamentos na mente de Deus. Ele diria que Deus tem o pensamento dessas estruturas, e essas estruturas são ideias na mente de Deus. Essa seria uma visão realista do estruturalismo. Você pode ser um estruturalista e realista, ou pode ser antirrealista.[6] Qualquer opção está disponível para você. Não tentei decidir em nossa aula aqui qual dessas opções está correta. Isso seria muito ambicioso para um projeto. Mas apenas para que você saiba que existem muitas opções diferentes hoje em dia. Seria muito difícil descartá-los de tal maneira que o platonismo seja a única alternativa que resta.

Aluno: Estou tendo dificuldade com todas essas informações. Para o realista, existem objetos concretos ou abstratos. Eu entendo como um objeto físico é concreto. Qual a diferença entre um objeto concreto mental e um objeto abstrato?

Dr. Craig: Eu tenho que me desculpar um pouco por falar somente sobre a superfície aqui, porque surge essas perguntas sem resposta. A pergunta que você faz é profunda. Você está dizendo como você diferencia entre um objeto abstrato e um objeto concreto. A resposta mais difundida e que acho plausível para essa pergunta é que objetos concretos são objetos que têm poderes causais para fazer as coisas. Enquanto objetos abstratos são causalmente impotentes. Eles são causalmente ineficazes. O número 7 não tem efeito causal sobre nada. Mas, obviamente, uma mente ou pensamentos na mente de alguém teriam efeitos causais, tanto da parte de Deus quanto da nossa parte. Pensamentos seriam eventos concretos na mente de uma pessoa, enquanto objetos matemáticos, como são normalmente interpretados, seriam causalmente impotentes e, portanto, abstratos, não concretos. Então concreto aqui não significa material. Significa causalmente eficaz ou capaz de ter influência causal.

FIM DA DISCUSSÃO

Que aplicação prática tudo isso tem para nossas vidas? Deixe-me mencionar apenas duas.

Antes de tudo, por Deus ser a única realidade máxima, Deus deve ser nossa maior preocupação na vida. O teólogo Paul Tillich realmente definiu Deus como o objeto de maior preocupação. Qualquer que seja o seu objeto de preocupação máxima, isso é seu deus. Visto que Deus é a única realidade máxima, ele é e deve ser nossa preocupação máxima. Substituir qualquer outra coisa por Deus seria idolatria. Se eu pedisse uma demonstração de mãos hoje, de quantos idólatras temos na aula, provavelmente haveria poucos. Alguns já perceberam as implicações do que estou dizendo. Se há algo na vida que lhe interessa mais do que Deus, você é culpado de idolatria. Se sua preocupação final não é conhecer e servir melhor a Deus, então você está adorando um deus menor. Você está caindo na idolatria. A asseidade de Deus e a realidade máxima são um lembrete poderoso para nós de onde deveria estar nossa preocupação.

Segundo, a auto-existência de Deus deve excluir nosso egoísmo. Outra palavra para auto-existência é independência. Deus é independente de tudo o mais que existe. É isso que o homem e Satanás querem, não é? Independência. Eles querem seguir seu próprio caminho; desafiar a auto-existência de Deus, opondo-se a Ele com a sua própria independência. Queremos opor nossa individualidade ao “eu sou” de Deus. O egoísmo pode parecer muito natural até refletirmos sobre o ser de Deus. Mas quando entendemos quem Deus é e sua auto-existência, acho que podemos ver como é tolice, como é loucura, opor nossa identidade ao ser auto-existente de Deus e não tratá-lo como nossa preocupação maior e nos submeter a Ele. Vivendo para Deus, negando a si mesmo em favor da auto-existência de Deus, acho que faz sentido quando entendemos a natureza auto-existente de Deus.[7]

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[3] 15:01

[4] 20:02

[5] 25:02

[6] 30:00

[7] Tempo total:   35:50 (direitos autorais © 2015 William Lane Craig)