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#509 A trindade é “alucinante”

February 10, 2017
Q

Caro Dr. Craig,

Eu me considero agnóstico, mas tenho uma pergunta quanto à probabilidade de Deus conforme aceito pela maioria da comunidade cristã: não seriam as chances de um Deus trino mais do que astronômicas? Aceitar que haja um ser onipotente e eterno já é difícil, mas três seres separados que possuam essa natureza? O termo “alucinante” nem sequer começa a descrever a improbabilidade... Obrigado!

Steve

United States

Dr. Craig responde


A

Obrigado pela pergunta, Steve! Antes de responder, precisamos ter certeza de que estamos afirmando com precisão o que é a doutrina da trindade. Não se trata da doutrina de que existem “três seres separados que possuem essa natureza [divina]”. Isso seria politeísmo. Os cristãos creem que existe um Deus tripessoal.

Ora, deve-se reconhecer que isso é alucinante, mas não equipare algo que seja assim com algo que seja improvável. A mecânica quântica é alucinante, mas isso não implica que ela é improvável enquanto explicação do mundo físico. Vivemos num universo tão alucinante que praticamente fica além da compreensão!

Além disso, defendo um tipo de argumento de probabilidade para a afirmação de que Deus não é apenas uma pessoa. É assim: Deus é, por definição, o maior ser que se pode conceber. Como o maior ser que se pode conceber, Deus deve ser perfeito. Ora, um ser perfeito deve ser um ser amoroso, pois o amor é uma perfeição moral; é melhor a alguém ser amoroso do que desamoroso. Logo, Deus deve ser um ser perfeitamente amoroso. Ora, é da própria natureza do amor se doar a si mesmo. O amor se volta a outra pessoa, em vez de se centrar totalmente em si mesmo. Assim, se Deus é perfeitamente amoroso em sua própria natureza, ele deve estar se doando em amor a outrem. Mas quem seria esse outrem? Não pode ser nenhuma pessoa criada, uma vez que a criação é consequência do livre-arbítrio divino, e não de sua natureza. Faz parte da própria essência divina amar, mas não faz parte de sua essência criar. Assim, podemos imaginar um mundo possível em que Deus é perfeitamente amoroso e, no entanto, nenhuma pessoa criada existe. Além disso, a cosmologia contemporânea torna plausível que pessoas criadas nem sempre tenham existido. Mas Deus é eternamente amoroso. Assim, pessoas criadas por si sós não bastam para explicar o fato de Deus ser perfeitamente amoroso. Logo, segue que o outrem ao qual necessariamente se volta o amor de Deus deve ser interno ao próprio Deus.

Em outras palavras, Deus não é uma pessoa sozinha e isolada, conforme formas unitárias de teísmo (o islam, por exemplo) sustentam; pelo contrário, Deus é uma pluralidade de pessoas, conforme afirma a doutrina cristã da trindade. Segundo a visão unitária, Deus é uma pessoa que não se doa essencialmente em amor pelo outro; ele está concentrado essencialmente em si mesmo. Portanto, ele não pode ser o ser mais perfeito. Porém, segundo a visão cristã, Deus é uma tríade de pessoas em relações de amor eternas e doadoras. Assim, uma vez que Deus é essencialmente amoroso, a doutrina da trindade é mais plausível do que qualquer doutrina unitária de Deus.

Por último, quando perguntamos sobre a probabilidade de uma hipótese, devemos sempre indagar: provável em relação ao quê? Mesmo que pensemos que a probabilidade prévia da doutrina da trindade seja baixa, sua probabilidade posterior, após a introdução de novos indícios, talvez não seja tão baixa assim. O indício, neste caso, é a pessoa e obra de Jesus de Nazaré. Ele faz toda a diferença. Os primeiros cristãos eram judeus comprometidos de corpo e alma com a doutrina de que “o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Deuteronômio 6.4). Somente considerações das mais pujantes os teriam levado a ajustar o monoteísmo judaico a fim de acomodar uma pluralidade de pessoas divinas. Foi a tentativa de explicar quem Jesus era que os compeliu a reconhecer de alguma forma a diversidade de pessoas divinas.

O mesmo se dá conosco hoje. Quem você pensa que Jesus era ou é? Como explicar sua vida e ensino sublimes e, especialmente, sua morte e ressurreição? Reflexão cuidadosa sobre a questão pode levá-lo a reconhecer sua divindade e, assim, fazer que a visão trinitária de Deus lhe pareça não menos alucinante, mas talvez menos improvável.

- William Lane Craig