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#562 Onde estão Deus e os finados?

October 21, 2018
Q

Pergunta 1:

Caro Dr. Craig,

Quero ecoar milhões de seus fãs dizendo obrigado por tudo o que faz por Cristo. Comprei, devorei, degustei e passei adiante para outras pessoas vários de seus livros, incluindo para bibliotecas locais. Eles me ajudaram muito à medida que prossigo em minha apologética relativamente amadora. Enfim, minha pergunta diz respeito a uma questão que, penso eu, o senhor não abordou muito. É a seguinte: por que é tão difícil atravessar a divisão do espaço-tempo? O senhor fala do reino de Deus “irrompendo” no mundo. O que isto significa? Pois bem, entendo que, enquanto o universo se expande, ele está criando tempo e espaço. Podemos dizer que o “lugar” fora do espaço-tempo é onde se localiza o céu? Para dar um exemplo desajeitado, minha dedicada e jovem esposa faleceu quatro anos atrás. Por que ela não pode me/nos dar um sinal de que está no céu? O céu é tão maravilhoso que ela nem se preocupa em nos dizer? Por isso, simplesmente não entendo o que espaço-tempo não é.

Obrigado.

Byron
Canadá

Pergunta 2:

Dr. Craig,

Em qual modo ou dimensão Deus existe, se ele é incorpóreo, invisível, infinito, mas, ainda assim, não ocupa nenhum espaço porque o espaço foi criado no próprio começo?

Surya
Índia

Afghanistan

Dr. Craig responde


A

De início, não entendi sua pergunta, Byron, porque não tinha muita certeza do que quis dizer com “atravessar a divisão de espaço-tempo”. Depois, ao ler a pergunta de Surya, ficou tudo esclarecido.

Como muitos que perderam seus entes queridos, você sente saudade de sua esposa e gostaria que, de algum modo, ela entrasse em contato para você saber que ela está bem. Como Deus, ela não existe em nosso contínuo de espaço-tempo e, por isso, lhe é inacessível. (Ainda bem que você não foi atrás de sessões espíritas para tentar atravessar a divisão.)

Não devemos pensar nos finados como se estivessem em algum lugar num sentido espacial, incluindo o céu. Segundo a visão cristã, quando morremos, não vamos imediatamente para o céu. Antes, existimos como almas incorpóreas em estado intermediário enquanto aguardamos a ressurreição de nossos corpos e nossa entrada final nos novos céus e nova terra (2 Coríntios 5.1-8; 1 Tessalonicenses 4.13-18). Nesse estado intermediário, estamos com o Senhor e, portanto, mais felizes do que no mundo de pecado e pesar, mas, ainda assim, não tão benditos como seremos ao receber nossos gloriosos corpos ressurretos, tornando-nos seres humanos plenamente remidos.

Sua pergunta: “Podemos dizer que o ‘lugar’ fora do espaço e tempo é onde se localiza o céu?” está duplamente equivocada. Primeiro, não devemos pensar no nosso universo como se estivesse se expandindo no espaço vazio. Não há nada fora do universo, no sentido espacial. Não há, até onde sabemos, nenhuma dimensão superior na qual nosso universo está inserido. O espaço em si está se expandindo, mas não está expandindo para um lugar qualquer. É de se admitir que nos é impossível visualizar algo assim, mas o espaço em expansão pode ser matematicamente descrito internamente a partir de distâncias em constante aumento entre as massas galácticas.

Segundo, os finados, por não terem corpos, não são seres espaciais e, portanto, não estão em nenhum lugar, muito menos um lugar cada vez mais invadido pelo universo em expansão! Tampouco devemos pensar que Deus existe num lugar espacial, além do universo, chamado céu. Como criador do espaço e tempo, Deus transcende o espaço e, portanto, não está em outro lugar ou dimensão. Se perguntarmos sobre o “modo” de sua existência, provavelmente tudo o que podemos dizer é que se trata de um modo não-espacial de existência. Analogamente, filósofos que crêem na realidade de objetos abstratos como números, proposições e propriedades não pensam neles como se existissem em alguma dimensão espacial desconectada da nossa: se coisas assim existem, elas simplesmente têm um modo não-espacial de ser. (Se Deus, ao ter criado o espaço, agora enche o espaço é outra questão.) Quando falei do “reino de Deus ‘irrompendo’ no mundo”, quis dizer meramente que Deus causalmente interveio no curso dos eventos da história para estabelecer o reino messiânico de Cristo.

Você pergunta sobre sua esposa: “Por que ela não pode me/nos dar um sinal de que está no céu?” Leia a parábola do rico e de Lázaro (que usa imagem espacial para transmitir a realidade do estado intermediário) em Lucas 16.19-31. Penso que Abraão lhe diria algo semelhante ao que diz ao rico na parábola: há um grande abismo entre os finados e você. Mas você não precisa ter contato com eles para saber de seu estado, pois você tem a certeza da palavra de Deus (agora ratificada pela ressurreição de Jesus) de que sua esposa está viva no paraíso.

O céu é tão maravilhoso que ela nem se preocupa em nos dizer?” Paulo nos diz que, embora ele preferisse não se despir do corpo e existir “nu” como alma sem corpo, é “muito melhor” estar ausente do corpo e presente com o Senhor (2 Coríntios 5.6-8; Filipenses 1.23). Quem sabe se sua esposa está ou não agora numa alegria tão delirante com seu Senhor que ela não está pensando em você? Talvez sim, talvez não. Talvez ela ainda anseie pela ressurreição na qual se reunirá com você. São perguntas que não temos como responder, por mais que nossas emoções nos inclinem numa ou noutra direção.

A conclusão é que os finados estão espacialmente desconectados de nós por um tempo, e Deus, em sua sabedoria, por algum motivo, dispôs as coisas de tal maneira que o contato entre nós e eles não nos está disponível.

- William Lane Craig