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Criação e Evolução (Parte 8)

October 07, 2022

Andamos falando das diferentes interpretações de Gênesis 1. Da última vez, começamos a interpretação da criação funcional de John Walton.[1] Vocês vão se lembrar que esta interpretação diz que Gênesis 1 não é narrativa do que Walton denomina a criação material das coisas no mundo, por parte de Deus — ou seja, o trazer estas coisas à existência onde elas não existiam antes. Pelo contrário, ele defende que é uma questão do que chama de criação funcional. A sua alegação é que a criação, no antigo Oriente Próximo, em geral, e em Gênesis 1, em particular, é criação funcional, simplesmente especificando as diversas funções que as coisas cumprirão em sistema ordeiro que Deus tem em mente.

Da última vez, começamos a nossa avaliação desta perspectiva ao indicar alguns problemas terminológicos da visão de Walton sobre a criação material e funcional. Fiz isto ao compará-la com a análise de Aristóteles da causação a partir de:

- Causação eficiente, que é a causa que traz à existência o seu efeito — a causa produtiva de algo

- Causação material, que é a matéria de que algo é feito

- Causação formal, que é uma espécie de padrão ou conteúdo informacional do efeito

- Causação final, que é o fim ou objetivo ou propósito para o qual algo é criado

Apontei que, quando Walton fala da criação material, embora se possa pensar, a princípio, que se trate de causação material, não é o caso. Diz respeito, na verdade, ao que Aristóteles denominou de causação eficiente: produzir a existência do efeito ou causar a existência de algo. No entanto, a criação funcional estaria especificando as causas finais das coisas — os fins para os quais existem. A terminologia de Walton, segundo defendi, pode ser confusa, equivocada e imprecisa, porque é possível pensar que, para que algo seja o objeto da causação material da parte de Deus, Ele tem de criar tal coisa ex nihilo — ele tem de criar a matéria da qual algo é feito, e não é assim que acontece. Na causação eficiente, pode muito bem haver uma causa material também. Quando um carpinteiro cria uma cadeira, por exemplo, a madeira é a causa material, mas o carpinteiro é a causa eficiente. E há também uma causa final: a cadeira é feita para que alguém se sente nela, por exemplo. E há uma causa formal: certas informações incorporadas nessa cadeira. Assim, não estou dizendo que Aristóteles e a sua análise estejam corretas e que Walton deva ser, de algum modo, medido a partir da sua aproximação a Aristóteles. Não, estou simplesmente dizendo que Aristóteles nos dá uma análise mais sutil e matizada de causação, e é útil ver exatamente de qual tipo de causação Walton está falando, quando diz criação funcional. Trata-se, claramente, de causação final: o fim ou o propósito para o qual algo foi criado. Quando fala de criação material, ele está falando, na verdade, de causação eficiente.

Por isso, o que Walton precisa mostrar é que Gênesis 1 diz respeito, exclusivamente, à criação funcional — ou causação final — e que não tem nada a ver com a causação eficiente, por parte de Deus, da terra seca, da vegetação, das árvores frutíferas, dos animais, das criaturas marinhas e do homem; e que seja, pura e exclusivamente, causação final. Do contrário, poderia ser tanto criação material quanto criação funcional. Walton quer manter que não é assim. Não é tanto uma coisa quanto outra, mas, exclusivamente, criação funcional.

Pergunta: Walton diria que Gênesis simplesmente não aborda a causação material. Correto? Que só aborda a criação funcional?

Resposta: Sim, correto.[2]

Pergunta: Será que Walton acredita que a matéria é eterna?

Resposta: Não. Ele crê, como cristão, que Deus criou o mundo ex nihilo.[3] Ele é cristão evangélico. Porém, ele não acredita nisto com base em Gênesis 1. Assim, ele crê por outras razões, mas ele não pensa que Gênesis 1 ensine creatio ex nihilo. Seria compatível com Gênesis 1 dizer que a matéria é eterna no passado.

Feito este esclarecimento terminológico, quero passar para a discussão da cosmologia do antigo Oriente Próximo. Walton alega que, quando olhamos os mitos de criação do antigo Oriente Próximo, descobrimos que “as pessoas, no mundo antigo, criam que algo existia, não em virtude das suas propriedades materiais, mas em virtude de ter uma função, num sistema ordenado”.[4] Será que os indícios sustentam esta alegação? Penso que a resposta é, obviamente, “não”.

Walton indica: “Praticamente todos os relatos de criação do mundo antigo começam a sua história com nenhum sistema operacional em ação. Textos egípcios falam de uma singularidade” — não no sentido científico moderno, mas, segundo ele, no sentido de: “nada ainda tendo sido separado. Tudo é inerte e indiferenciado”.[5] A criação, nesses mitos do antigo Oriente Próximo, costuma a começar com as águas primevas, das quais emergem a terra seca ou os deuses. Vocês vão se lembrar que, quando falamos de creatio ex nihilo, dissemos que o padrão típico desses mitos antigos de criação era: “quando _____ ainda não era, então Deus (ou os deuses) _____”, e é só preencher as lacunas. Um bom exemplo é um texto que o próprio Walton oferece a respeito da fundação da cidade de Eridu. Este mito antigo da criação diz o seguinte:

Nenhuma casa sagrada, nenhuma casa dos deuses, fora construída em lugar puro; nenhum junco surgira, nenhuma árvore fora criada; nenhum tijolo fora assentado, nenhum batente fora criado; nenhuma casa fora construída; nenhuma cidade fora criada; nenhuma cidade fora construída; nenhum povoado fora fundado; Nippur não fora construído; Ekur não fora criado; Uruque não fora construído; Eanna não fora criada; as profundezas não foram criadas; Eridu não fora criado; nenhuma casa sagrada, nenhuma casa dos deuses, nenhuma habitação para eles fora criada. O mundo todo era mar, a fonte no meio do mar era apenas um canal e, então, Eridu foi construída, Esagila foi criada.[6]

Aqui se vê esta forma típica dos mitos do antigo Oriente Próximo — “quando _____ [lacuna] ainda não era, outro algo ou alguém foi criado”. Encontramos este padrão típico em Gênesis 2.5-7, onde Gênesis diz: “Quando ... ainda não havia nenhuma planta do campo na terra e nenhuma erva do campo havia brotado ... o SENHOR Deus formou o homem". Gênesis 2.5-7 tem essa forma típica desses mitos antigos de criação.

As descrições do mundo primordial em mitos pagãos não eram descrições de um mundo de objetos materiais em que os animais, as plantas, as edificações e as pessoas existiam, mas careciam de função. Antes, são descrições de um estado em que objetos materiais distintos de qualquer tipo não existem de modo algum. Conforme diz Walton, é um estado inerte indiferenciado do qual coisas distintas não haviam sido separadas.[7] Portanto, a criação de um sistema ordeiro de objetos em funcionamento envolve, com quase toda certeza, a criação material desses objetos — não apenas a especificação de funções para objetos materiais que já estavam presentes. Assim, quando Walton conclui: “consequentemente, criar algo (causar a sua existência), no mundo antigo, significa dar-lhe uma função, e não propriedades materiais”,[8] ele está traçando uma falsa dicotomia que é alheia a esses textos antigos.

Quando o assunto, então, é Gênesis 1, a fim de que este texto exiba apenas a criação funcional, deve-se imaginar que a terra seca, a vegetação, as árvores, as criaturas marinhas, as aves, todos os animais e até mesmo o homem estavam lá desde o início, mas tinham função num sistema ordenado. Parece-me que tal interpretação é implausível, para não dizer ridícula. Ela exigiria que considerássemos como literalmente falsas todas as afirmações sobre as trevas, o oceano primevo, a emergência da terra seca e a separação dos mares, a terra a produzir vegetação e árvores frutíferas, as águas a produzir criaturas marinhas, a terra a produzir animais e Deus a criar o homem.

Observe que Walton não pode dizer: “Bem, estas coisas não podem existir sem um sistema ordeiro em funcionamento”. Isto porque, no minuto em que ele o disser, admitirá que a criação funcional envolve também a criação material, e é esta a interpretação tradicional de Gênesis 1: que Deus tanto traz à existência essas coisas quanto especifica as suas funções num sistema ordeiro.

A bizarrice da interpretação de Walton se torna evidente com a declaração que ele fez de que a criação material da biosfera poderia ter passado por eras antes de Gênesis 1.1 e, então, na sua opinião, em algum momento no passado relativamente recente, houve um período literal de sete dias consecutivos de 24 horas, durante o qual Deus especificou as funções das diversas coisas existentes naquela momento.[9] Walton afirma que ele está dando uma interpretação literal de Gênesis 1.[10] Isto, porém, está o mais longe possível de uma interpretação literal do texto. Implicaria que todas as descrições do mundo dadas no começo e durante essa semana relativamente recente são, literalmente, falsas. Caso se pergunte: “O que uma testemunha ocular teria observado durante aquela semana?”, Walton se esquiva de responder à questão ou diz que a resposta é que o mundo, antes daqueles sete dias, careceria apenas da 1) humanidade à imagem de Deus e da 2) presença de Deus no seu templo cósmico.[11] Em outras palavras, tudo teria parecido exatamente o mesmo, com a exceção de que as pessoas que então existiam não estariam em funcionamento como vice-reis de Deus aqui na terra, e Deus ainda não especificara a função do cosmo para servir como seu templo cósmico. Uma testemunha ocular durante aquela semana não teria observado — e, de fato, não observou — absolutamente nenhuma mudança no mundo.

Pergunta: Acho interessante que a teoria de Toledoth de quem escreveu Gênesis diz que o primeiro capítulo foi escrito por Deus até o capítulo 2, versículo 4, porque a afirmação da teoria é que se trata do relato dos céus, o que declara o autor dessa primeira parte de Gênesis 1 e da primeira parte de Gênesis 2. Então, o primeiro a ser escrito por Adão é Gênesis 2.5, e é semelhante ao formato dos mitos do antigo Oriente Próximo.[12]

Resposta: Sim, correto, e você vai se lembrar que, quando tratamos de creatio ex nihilo, falamos do modo em que Gênesis 1.1 é tão diferente dos mitos antigos de criação, por romper tal padrão. Tem esta afirmação absoluta: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Por isso, vou remetê-lo às notas de quando discutimos o assunto.

Pergunta: O senhor disse que John Walton nega ser Adão o progenitor da raça humana?

Resposta: Não conheço a obra de Walton além deste livro, O mundo perdido de Gênesis 1. Por isso, estou interagindo apenas com as suas visões conforme expressas neste livro, em que ele não diz nada que sugira algo assim. Não sei quais são as visões dele em geral.[13]

Assim, se formos adotar uma leitura do texto que seja tão discordante da sua interpretação superficial ou das suas descrições diretas do mundo, parece-me que precisaríamos ter provas muito poderosas para adotar tal interpretação. A questão é, então, quais provas Walton dá a favor de tal interpretação de Gênesis 1, além dos indícios da cosmologia do antigo Oriente Próximo em geral?

Isto nos leva à próxima área: a discussão da palavra bara como criação funcional. Bara é a palavra hebraica para “criou”. O primeiro argumento de Walton a favor do seu ponto de vista é que a palavra hebraica bara, para criar, diz respeito apenas à criação funcional. No livro, ele oferece um gráfico que elenca as aproximadamente cinquenta passagens no Antigo Testamento em que se usa bara. Os objetos do verbo bara, no Antigo Testamento, incluem coisas como os céus e a terra, as criaturas marinhas, os seres humanos, o exército estrelado, uma nuvem de fumaça, Israel, os confins da terra, norte e sul, um coração puro, desastre e assim por diante. O incrível é que Walton conclui, a partir desta lista, que: “Esta lista mostra que os objetos gramaticais do verbo não são de fácil identificação materialmente falando e, mesmo quando o são, é questionável que o contexto esteja a objetificá-los”.[14] Ora, quando eu vi a lista, pensei precisamente o contrário! A maioria desses objetos tem fácil identificação como objetos materiais. Uma nuvem de fumaça, as estrelas, seres humanos, criaturas marinhas são, evidentemente, objetos materiais. Pois bem, é verdade que alguns deles não sejam objetos materiais; por exemplo, um coração puro — “ó Deus, cria em mim um coração puro”. Não é um objeto material, não é o coração anatômico que está no seu corpo. Ou a nação de Israel. Ou o norte e o sul. Não são objetos materiais. Porém, são estas as exceções na lista. Em particular, os três objetos de bara em Gênesis 1 — os céus e a terra, o homem e as criaturas marinhas (especialmente as criaturas marinhas) — parecem ser exemplos claros da criação de objetos materiais, e não apenas da especificação de funções.

Mas deixemos de lado este ponto. O erro mais fundamental de Walton é que ele, falaciosamente, infere que, por não serem materiais os objetos de bara, a palavra não diz respeito à criação material. No caso, penso que vemos como a terminologia equivocada de Walton volta-se contra si.[15] O que é a criação material? Não é causação material, é causação eficiente. Walton está falando de causação eficiente. Embora ele estivesse correto que a criação de entidades imateriais, como um coração puro, ou o norte e sul, ou desastre, não sejam exemplo de causação material, elas são, sem dúvida, exemplo de causação eficiente. É de Deus que se diz ser a causa de desastre ou quem cria em nós um coração puro. Em praticamente todos os casos na lista, o objeto de bara é objeto do qual Deus é a causa eficiente. Deus é a causa eficiente do objeto que, segundo se diz, ele cria, seja ele um objeto material ou algo imaterial.

Walton encontra confirmação da sua interpretação de bara como puramente fictícia no fato de bara não ser jamais usado em conjunção com uma causa material do objeto. Ele entende que isto dá apoio à ideia de que apenas a criação funcional esteja envolvida. No entanto, esta conclusão simplesmente não procede. Da ausência de uma causa material, tudo que se pode inferir é que a causação material não está sempre envolvida. Deus poderia criar algo ex nihilo, ao trazer algo à existência, mas isto não quer dizer que a causação eficiente não esteja envolvida. Deveras, na criação funcional conforme a entende Walton, o objeto já existe; só lhe é dada uma nova função. Porém, nenhum dos objetos de bara no Antigo Testamento que ele elenca, com a possível exceção da nação de Israel, é um caso de algo existente que, simplesmente, recebe uma nova função. O que quero dizer é que as pessoas já poderiam existir como objetos materiais, mas Deus criaria a nação de Israel ao, por exemplo, chamar essas pessoas e constituí-las como estado nacional ou entidade política. Isto não envolveria a criação eficiente das pessoas. Porém, em todos os demais casos na lista, tem-se claramente exemplo de causação eficiente e, portanto, criação material.

Walton diz que a razão por que a interpretação funcional de Gênesis 1 não é “jamais considerada” por outros estudiosos (o que, na minha opinião, já é em si uma confissão relevadora) é porque se equivocam com influências culturais da nossa cultura material.[16] Bem, acho que aí já é demais. Tal afirmação impugnaria a credibilidade acadêmica de outros acadêmicos do antigo Oriente Próximo, de egiptólogos e outros estudiosos de culturas do antigo Oriente Próximo. Suspeito que a razão por que ninguém jamais interpretou Gênesis 1 desta maneira é que se trata de uma leitura errônea do texto, erro tão óbvio que outros estudiosos não o adotaram.

Pergunta: Li Walton de um jeito um pouco diferente e gostaria de ouvir seus comentários. Basicamente, entendi que ele disse simplesmente que os povos no antigo Oriente Próximo faziam perguntas diferentes das nossas. Por exemplo: quando dizemos que Deus criou o universo, pensamos em coisas. Se alguém perguntasse: “Quem fez com que isto tivesse o seu propósito?”, responderíamos: “Claro que foi Deus”. Isto fica pressuposto. No antigo Oriente Próximo, eles faziam exatamente o contrário: “Quem lhe deu propósito?” “Deus”; “E quem fez as coisas?” “Dã! Deus.” Assim, quando ele fala de criação funcional, eles não teriam feito a pergunta material. Por isso, o relato de Gênesis, conforme entendo Walton, poderia funcionar, quer com a visão da terra jovem, quer com a visão da terra velha. A parte material poderia ter sido criada naquele momento, simplesmente porque estão fazendo perguntas diferentes.

Resposta: Pois então, o que estou tentando dizer é que, por ser equivocada a terminologia dele, ao usar criação material para falar do que, na realidade, é causação eficiente, ela não tem nada a ver com a criação do que é material. Quando um carpinteiro faz uma cadeira, ele é a causa eficiente da cadeira. A cadeira não existe até que ele a crie. Mas ele não a cria do nada. Ele a faz a partir da madeira.[17] Assim, é realmente equivocado pensar que a questão seja: “Quem criou o material a partir do qual isto existe?”. Não é este o ponto. A questão é a seguinte: nesses mitos do antigo Oriente Próximo e em Gênesis 1, esses povos antigos pensavam que se tratava apenas de especificar as funções das coisas, ou será que pensavam que Deus estava, na realidade, trazendo à existência essas coisas? Walton é bastante claro. Ele não permitirá uma interpretação que inclua tanto uma quanto a outra coisa. Ele diz que não são as duas coisas. Ele diz, de muito bom grado, que tudo isso existia antes de Gênesis 1.1: o sol brilhava, os dinossauros proliferavam-se, e tudo caminhava bem. Mas, então, em período relativamente recente, Deus passou por esse período de sete dias dizendo qual é a função de tudo. Ele está, definitivamente, tentando excluir a possibilidade de contemplar a causação eficiente em Gênesis 1, pensando como se fosse puramente funcional. Se for para sustentar este ponto, ele tem de mostrar que não apenas a causação final esteja envolvida, ele tem de mostrar que a causação eficiente não está envolvida.

Pergunta: O que Walton diz se não havia função para o material antes de Deus lhe dar função em Gênesis? O que elas faziam, se não havia função? Havia apenas animais a vagar? Se o sol não tinha nenhuma função, não creio que dê certo. Não faz nenhum sentido.

Resposta: Exatamente. Você está certo. Penso que se trata de incoerência profunda na interpretação dele. Quando se observam esses mitos antigos, não é que se poderia ter esses animais, plantas e seres humanas a vagar por aí sem nenhuma função. Seria loucura. Parece-me que a criação material e a criação funcional caminham de mãos dadas. Encaixam-se como a luva na mão. É tanto uma quanto outra, e não uma ou outra. Todavia, ele tem de tentar dizer que Gênesis 1 não é tanto uma quanto outra, mas é puramente funcional. Como digo, ele afirma, na verdade, que a criação material dessas coisas talvez tenha precedido Gênesis 1.1.

Continuação: Mas não tinham nenhuma função?

Resposta: Isso! Correto! A função começa a ser especificada no versículo 2, o que é, na minha opinião, incoerente. Penso que ele reconheceria que se trate de uma leitura errônea dessas histórias antigas de criação. Nesses mitos egípcios, é muito claro que há essas águas primevas, e não é como se houvesse pessoas, animais e coisas a vagar, mas afuncionais e em estado indiferenciado. O que acontece é que Deus cria as coisas e lhes dá funções ao mesmo tempo. É como Aristóteles enxergou: é tanto uma quanto outra coisa.

Da próxima vez, atentaremos para o argumento de Walton de que a criação, em Gênesis 1, começa, de fato, somente no versículo 2, consistindo na especificação das funções para as coisas que Deus cria.[18] 


[1] John H. Walton, The Lost World of Genesis One, (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2009).

[2] 4:59

[3] Walton diz: “Se concluímos que Gênesis 1 não é relato de origens materiais, não estamos, com isso, sugerindo que Deus não seja responsável pelas origens materiais. Creio firmemente que Deus é plenamente responsável pelas origens materiais e que, de fato, as origens materiais envolvam, sim, em algum momento, a criação a partir do nada” (Walton, The Lost World of Genesis One, p. 44).

[4] Ibid., p. 26.

[5] Ibid., p. 31.

[6] Ibid., pp. 78-79.

[7] 9:58

[8] Ibid., p. 35.

[9] Walton diz que, antes do dia um, “A fase material, não obstante, poderia ter se desenvolvido por longas eras...”. Ele também afirma: “Antes do dia um, o espírito de Deus estava ativo no cosmo afuncional; Deus estava envolvido, mas ainda não tinha ocupado a sua residência. O estabelecimento do templo cósmico funcional é efetuado ao Deus ocupar a sua residência no dia sete” (Walton, The Lost World of Genesis One, pp. 98, 85).

[10] Walton diz: “Creio que esta é uma leitura literal... Creio que a leitura que propus é a mais literal possível a esta altura” (Walton, The Lost World of Genesis One, p. 170).

[11] Walton diz: “Os principais elementos ausentes na imagem do ‘antes’ são, portanto, a humanidade à imagem de Deus e a presença de Deus no seu templo cósmico. Sem esses dois ingredientes, o cosmo seria considerado afuncional e, portanto, inexistente” (Walton, The Lost World of Genesis One, p. 97).

[12] 15:06

[13] No seu livro, Walton parece, sim, afirmar um Adão e Eva históricos ao dizer: “Quaisquer processos evolutivos que tenham levado ao desenvolvimento de vida animal, primatas e até mesmo hominídeos pré-humanos, as minhas convicções teológicas me levam a postular continuidade substancial entre esse processo e a criação do Adão e Eva históricos” (Walton, The Lost World of Genesis One, p. 139).

[14] Ibid., p. 43.

[15] 19:55

[16] Walton diz: “Não se trata de ponto de vista rejeitado por outros acadêmicos; é, simplesmente, algo que jamais consideraram, pois a ontologia material deles era pressuposição cega para a qual jamais se considerou nenhuma alternativa... A maioria dos intérpretes pensa, geralmente, que Gênesis 1 contém um relato de origens materiais, pois era o único tipo de origem em que que a nossa cultura se interessava. Não é que os estudiosos examinaram todos os níveis possíveis nos quais as origens poderiam ser discutidas; pressupunham o aspecto material” (Walton, The Lost World of Genesis One, p. 44).

[17] 25:01

[18] Duração total: 28:52 (Copyright © 2013 William Lane Craig)