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#548 Ajuste fino e diferentes leis da natureza

August 05, 2018
Q

Olá, Dr. Craig.

Estou assistindo ao seu panorama de teologia natural e cheguei à parte sobre teleologia. O senhor menciona uma objeção ao argumento segundo a qual poderíamos ter outras leis naturais, e poderia ser mais provável, com outros conjuntos de leis, que universos propícios à vida existissem apenas por acaso. O senhor disse que simplesmente não temos uma resposta para isto.

Em seguida, o senhor exclui a possibilidade de avaliar mundos possíveis com outras leis naturais. Usa a ilustração de que acertar uma mosca numa parte de parede branca é muito mais improvável do que provável, mesmo que a área fora da parede branca venha a estar coberta de moscas. Obviamente, ao acertar moscas numa parede, somos nós que decidimos as partes. Dizemos: “estamos analisando a probabilidade de acertar a mosca nessa área”.

Fico confusa, no entanto, por que nos seria “permitido” fazer isso ao discutir os universos em potencial. Qual justificativa temos para excluir mundos com outras leis naturais de nossos cálculos de probabilidades?

(Se a resposta for que, digamos, essas são as leis naturais que temos e, por isso, é tudo que temos para analisar, não entendo bem o objetivo da tarefa. Poderíamos dizer o mesmo sobre todas as constantes e quantidades: uma vez que existe apenas um conjunto que realmente existe, isto é tudo que devemos tratar e, então, na prática, acabamos com uma chance de 0% para qualquer outro arranjo.)

Amanda
Austrália

Australia

Dr. Craig responde


A

Agradeço por ter me dado a oportunidade de lhe esclarecer esta questão, Amanda! Em primeiro lugar, sejamos claros quanto à natureza do ajuste fino. O ajuste fino diz respeito aos valores das constantes e quantidades fundamentais da natureza. No âmbito do argumento, sustenta-se que as leis da natureza não mudam, mas alteram-se os valores das constantes quantidades. É muito importante que as leis sejam consideradas como se não mudassem; do contrário, não saberíamos o que aconteceria se, digamos, a força da gravidade aumentasse ou diminuísse. Já que as leis são consideradas como se não mudassem, os físicos podem prever o que aconteceria (por exemplo, o universo se expandiria mais rapidamente ou, então, entraria em colapso).

Pois bem, a objeção é que talvez, em universos operando sob diferentes leis da natureza, não haveria efeitos colaterais sérios por causa de um valor diferente da constante gravitacional. A resposta é que não precisamos considerar universos assim para reconhecer que nosso universo tem ajuste fino. A ilustração da mosca na parede mostra o porquê. Se existe uma grande área branca da parede ocupada por uma única mosca e um único tiro é disparado, é muitíssimo mais provável que a bala não acerte a mosca, mas, sim, alguma outra parte da área branca. Esta probabilidade independe de a parte fora da área branca estar coberta de moscas, de modo que um único tiro disparado aleatoriamente acertasse uma delas. A questão é que, mesmo se a vida inteligente fosse provável em universos operando de acordo com diferentes leis da natureza, ainda assim seria muitíssimo improvável em qualquer universo regido por leis como as nossas.

Vejamos agora sua pergunta: “por que nos seria ‘permitido’ fazer isso ao discutir os universos em potencial? Qual justificativa temos para excluir mundos com outras leis naturais de nossos cálculos de probabilidades?” Amanda, é essencial que você perceba que são duas perguntas totalmente diferentes. A segunda pergunta é por que podemos ignorar os mundos que operam de acordo com diferentes leis da natureza. Ela já foi respondida. A ilustração da mosca na parede mostra por que as moscas fora da área branca são irrelevantes à probabilidade de que um único tiro acerte a mosca na área branca. Antes, a pergunta importante é a primeira: será que sabemos qual é o tamanho da área branca de universos que operam de acordo com nossas leis da natureza, de modo a podermos dizer que um único universo selecionado aleatoriamente dos universos possíveis é provavelmente antagônico à vida?

A resposta é que os físicos têm uma compreensão muito boa daquilo que Robin Collins denomina “a zona iluminada”, ou seja, a zona em que podemos prever com segurança o que aconteceria se os valores das constantes e quantidades aumentassem ou diminuíssem. Obviamente, não sabemos o que acontece fora da zona iluminada, mas a zona iluminada é enorme, como aquela grande área branca da parede em que repousa a mosca solitária. Isto já basta para concluir que é muitíssimo improvável que um universo selecionado aleatoriamente operando de acordo com as leis da natureza fosse propício à vida.

Por isso, seu último parágrafo não entende o xis da questão. Não estamos dizendo: “bem, essas são as leis naturais que temos e, por isso, é tudo que temos para analisar”. Antes, estamos dizendo: “O que poderia ou não poderia acontecer em universos operando de acordo com diferentes leis da natureza é irrelevante à questão da probabilidade de que um universo operando de acordo com nossas leis da natureza seja propício à vida”.

- William Lane Craig

- William Lane Craig