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#178 Jesus foi Crucificado em uma Cruz?

October 28, 2014
Q

Olá Dr. Craig e distinto time do Reasonable Faith.

Eu tenho uma pergunta a respeito de um teólogo sueco conhecido e as pesquisas que ele realizou recentemente sobre a crucificação de Jesus. Em seu trabalho, Gunnar Samuelsson relata que há pouca ou nenhuma evidência que apóia a afirmação de que Jesus foi pendurado em uma cruz real, como retratado pelo cristianismo tradicional.

Ele afirma que não há provas de que os romanos executavam pessoas dessa maneira na época, e também que a palavra grega para cruz, "stauros", também poderia significar "estaca".

Devo dizer que não consigo ver a importância se isto vir a ser o caso. Se o cordeiro de Deus estava com as mãos na posição vertical ou para os lados quando ele morreu pelos nossos pecados, parece completamente irrelevante. No entanto, o grande fervor da argumentação do Sr. Samuelsson, e as muitas respostas contundentes ao seu trabalho, me tornam simplesmente incapaz de negar as graves implicações desta discussão.

O que significaria para a sociedade cristã se uma das crenças centrais com respeito a morte do nosso salvador acabasse sendo uma deturpação? Nem todo mundo acha que realmente não importa. Humanistas na Suécia citam o trabalho do Sr. Samuelsson e a discussão parece criar uma descrença na Bíblia como a Palavra de Deus. Esta é a minha grande preocupação em relação ao assunto.

A minha pergunta é simplesmente: que motivos temos para duvidar da visão tradicional da crucificação?

É realmente mais provável que Jesus foi pendurado/pregado em um poste, em vez de pregado numa cruz como o Sr. Samuelsson afirma?

Será que isso realmente importa?

Felicidades

Karl

United States

Dr. Craig responde


A

Eu acho que sua reação inicial, Karl, foi e continua sendo a correta: esta é uma afirmação interessante que não tem significado histórico ou teológico. Em suma, não importa.

Por que não? Bem, simplesmente porque em sua dissertação "Crucificação na Antiguidade" Samuelsson não põe em dúvida a veracidade histórica dos documentos do Novo Testamento; ao contrário, ele está dizendo que as gerações posteriores de cristãos não entenderam os documentos. Ele é como os acadêmicos do Novo Testamento que afirmam, por exemplo, que Jesus não nasceu em um estábulo, mas em um lar judaico que normalmente incluía um espaço para os animais sob o mesmo teto. Quando Lucas diz que a kataluma estava cheia, a palavra significa, não "estalagem", como tradicionalmente traduzido, mas "quarto de hóspedes." Porque o quarto de hóspedes já estava ocupado, José e sua família receberam lugar na seção da casa onde os animais eram esquartejados. Esta hipótese pode explodir as imagens do nascimento de Jesus que nós crescemos acostumados a ver nos presépios, mas não faz nada para contestar a historicidade dos relatos dos Evangelhos. Pelo contrário, pretende ajudar-nos a compreendê-las com mais precisão.

Da mesma forma, a alegação de Dr. Samuelsson é que a terminologia grega usada no Novo Testamento como stauros (cruz) e stauroo (crucificar) não nos permitem inferir que Jesus foi crucificado em uma cruz, em vez de algum outro tipo de quadro. Poderia ter sido na forma da letra alfabética "T" ou "X" ou "Y", ou "I." Nada disto põe em dúvida o fato da crucificação de Jesus (entendida como Ele sendo pregado a algum tipo de estrutura de madeira até morrer), nem a confiabilidade dos relatos do Evangelho de Sua execução.

Samuelsson está correto que as palavras relevantes têm uma gama de significados. Mas estudos da palavra de forma isolada do contexto lançam pouco significado em um texto. Por exemplo, suponha que você ouve no noticiário da manhã, "A polícia atirou contra o suspeito enquanto tentava escapar." Se você fizer um estudo da palavra "atirou" ou "atirar", você vai descobrir que alguém pode dizer que foi atirado com uma arma, ou um arco e flecha, ou até mesmo um estilingue! Mas quando tomadas no contexto da reportagem, não pode haver dúvida de que a palavra significa que o suspeito havia sido acertado com balas atiradas pelas armas dos policiais. Será, portanto, o contexto que determina o significado de stauros em qualquer caso.

Parte do problema em saber como Jesus foi crucificado é que temos pouca informação preservada da antiguidade sobre como a crucificação era feita. De fato, os relatos dos Evangelhos, que são eles próprios notavelmente reservados em suas descrições do evento, são as descrições mais detalhadas que temos de crucificação do mundo antigo! Mas a descrição de Jesus carregando sua cruz é consistente com a prática romana de forçar as vítimas a carregar a viga da cruz até o local da crucificação. A forma de pregar as mãos e pés de Jesus na estrutura de madeira é sugestiva. Em João 21:18-19 o tipo de morte que Pedro iria sofrer é prefigurado com as palavras "você estenderá as mãos e outro te cingirá e te levará para onde tu não queres." O autor pagão do segundo século, Artemidorus, semelhantemente refere-se a criminosos sendo "crucificados alto e com as mãos estendidas" (Oneirocritica, I. 76. 35). As mãos estendidas naturalmente sugerem uma extensão lateral. Artemidorus confirma isso quando mais tarde diz, "a cruz é feita de pedaços de madeira e pregos como um barco, cujo mastro é semelhante a uma cruz" (II. 53. 3). A morte pré-figurada de Pedro é provavelmente crucificação, a mesma morte que seu Senhor tinha sofrido. Jesus foi, portanto, provavelmente da mesma forma crucificado com as mãos estendidas, o que exclui uma estrutura em forma de I. A placa com a acusação contra Jesus (um detalhe que é universalmente reconhecido como alicerce histórico) foi pregado na moldura acima de sua cabeça, o que exclui formatos em T, X, ou Y. Assim, os detalhes das narrativas da crucificação do Evangelho são todos consistentes com o entendimento tradicional de que Jesus foi crucificado em uma estrutura em forma de cruz.

É assim que a igreja primitiva compreendia as narrativas da crucificação, como é evidente pelas primeiras gravuras e pictogramas da cruz datados lá pelo primeiro século. A dissertação de Samuelsson se concentra exclusivamente em filologia (linguística) e não reconhece o conhecimento de arqueologia ou história da arte.

O fato de que os humanistas suecos estão tentando explorar o trabalho do Dr. Samuelsson, contra suas intenções, diz uma de duas coisas sobre eles: ou eles não o entenderam, ou então eles não são homens de integridade, mas meros propagandistas que estão felizes em distorcer o trabalho de alguém se serve os seus fins. Furor público não importa que haja sérias implicações para a tese de Samuelsson, afinal. Há uma série de crenças mais queridas a respeito de Jesus que não têm base nos relatos dos Evangelhos: por exemplo, a ideia de que três reis do Oriente visitaram José e Maria na noite do nascimento de Jesus (cf. a visita dos magos em Mateus 2:1-12), ou que a mãe de Jesus, Maria, recebeu o corpo de Jesus quando foi descido da cruz, como representado na Pietá. Dissipar esses equívocos populares não faz nada para minar a credibilidade da Bíblia como Palavra de Deus. Pelo contrário, nos ajuda a compreendê-la com mais precisão.

- William Lane Craig