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#369 Mais Reflexões sobre o Debate com Sean Carroll

May 16, 2015
Q

Dr. Craig,

Muito obrigado novamente pelos ótimos e vivos debates de que você participa juntamente com cosmólogos. Eu tenho que dizer que eu acho essa arena da Cosmologia e Deus um solo muito bom para manter afiado, principalmente porque quando a ciência comprova uma teoria, ou encontra uma boa evidência, chegamos mais e mais perto de compreender mais da grande quantidade de matéria e energia que podemos observar.

De qualquer forma, eu queria lhe perguntar sobre o mais recente debate com Sean Carroll. Houve alguns pontos fortes feitos nesse debate que, como um leigo em cosmologia, me faz querer buscar mais e mais o que os físicos teóricos realmente estão dizendo sobre suas teorias. Os meios de comunicação nem sempre são claros quanto à separação da opinião/crença do cosmólogo versus o que sua teoria realmente diz, sem viés. Então fui em frente e olhei o post dos comentários de debate de Sean Carroll, consulte o site abaixo:

http://www.preposterousuniverse.com/blog/2014/02/24/post-debate-reflections

Parece-me que as acusações que me fazem questionar a maneira como o argumento Kalam funciona, bem como o que as mais recentes teorias estão mostrando versus a própria opinião dos cosmólogos, são as respostas de Sean para:

1. A primeira premissa do argumento Kalam (Causalidade Aristotélica). Ele vai fundo na análise aristotélica da causalidade sendo ultrapassada.

2. O problema do Cérebro de Boltzmann. Ele menciona que o problema do Cérebro de Boltzmann ajuda a isolar os modelos de multiversos que não são sustentáveis. Então, o que acontece com os modelos que funcionam?

3. Sintonia Fina (ou Ajuste Fino). Sean menciona 5 pontos pelas quais a Sintonia Fina não é um bom argumento para o teísmo, e ele continua e diz que você não respondeu a eles. Eu entendo que no seu Pergunta # 49 você mencionou que é um fato sólido que o universo está ajustado finamente para a existência de vida inteligente; por isso fico confuso com o que Sean diz sobre "ele não ofereceu qualquer sugestão de que nós realmente sabemos as condições em que a vida pode e não pode se formar".

De qualquer forma, espero que você possa responder a esta pergunta para mim e me ajude a avançar na minha busca para compreender a cosmologia moderna, os seus fatos e suas esperanças. Além disso, você também vai fazer contato com Allan Guth sobre o teorema BVG? Acho intrigante que o primeiro a dizer que você estava errado sobre BVG foi o Dr. Krauss, e depois vimos a sua troca de e-mail com Valenking provando o contrário. Seria bom para nós, os espectadores, vermos qual seria sua interação com Allan Guth, agora que Sean Carroll está reivindicando que você está enganado na interpretação do teorema.

Obrigado!

Jahir

Estados Unidos

United States

Dr. Craig responde


A

Como expliquei na Pergunta # 368, esperei até que a transcrição do nosso debate estivesse completa de modo a poder comentar responsavelmente sobre a nossa excelente troca. Com a transcrição agora disponível para estudo, eu lidei com a primeira pergunta de Jahir na Pergunta # 368.

Hoje eu quero voltar para a sua segunda pergunta, o problema do Cérebro de Boltzmann.

Situando o Problema

Para situar a questão do Cérebro de Boltzmann adequadamente no contexto do debate, quero colocar aqui um esboço do meu caso afirmativo em apoio à proposta em debate:

I. Argumento Cosmológico kalam: "O universo começou a existir".

1.0 Evidências da Expansão do Universo

1.1 Espaço-tempo clássico começou a existir

1.11 Teorema Borde GuthVilenkin

1.12 O modelo de Carroll descartado por outros motivos

1.2 Era da Gravidade Quântica começou a existir

1.21 Se tal estado não teve um começo, iria produzir o espaço-tempo clássico desde a eternidade ou nunca. Assim, se tal era existe, é o começo do universo.

2.0 Evidências da Termodinâmica

2.1 O universo começou a existir em uma condição de baixa entropia

2.11 O modelo de Carroll

2.111 O modelo de Carroll viola a unitaridade da física quântica

2.112 O modelo de Carroll não resolve problema do Cérebro de Boltzmann

2.2 Era da gravidade quântica começou a existir

2.21 Teorema Wall defende a era da gravidade quântica e requer um começo. Pode-se evitá-lo apenas com a reversão da seta do tempo, o que implica um começo do tempo e do universo termodinâmico.

II. Argumento teleológico: "A Sintonia Fina (ou Ajuste Fino) não se deve à necessidade física ou ao acaso".

1.0 A sintonia fina não se deve à necessidade física

1.1 A teoria-M permite 10500 universos diferentes com diversos valores das constantes e quantidades fundamentais

2.0 A sintonia fina não se deve ao acaso

2.1 A hipótese do multiverso (incl. modelo de Carroll) enfrenta o problema do               Cérebro de Boltzmann

Como o meu realce vermelho revela, a objeção do Cérebro de Boltzmann, na verdade, ocorre em dois pontos no meu caso: em primeiro lugar, no contexto do argumento cosmológico kalam, como uma objeção à tentativa de Carroll de escapar da implicação da segunda lei da termodinâmica de que o universo começou a existir (2.112); e em segundo lugar, no contexto do argumento teleológico ocorre como uma objeção à defesa do multiverso da alternativa do acaso como uma explicação de sintonia fina do universo (2.1). Esta aparência dupla é altamente incomum, uma vez que normalmente daríamos argumentos independentes em apoio aos pontos, para não mencionar o fato de que os próprios ouvintes podem facilmente ficar confusos sobre qual ponto está em discussão! Que eu apresentaria a objeção do Cérebro de Boltzmann fazer a tarefa em dobro, no meu caso, é uma medida de quão verdadeiramente formidável o problema é para os pontos de vista azarados o suficiente para enfrentá-lo.

Cérebros de Boltzmann e a Evidência Termodinâmica para o Começo do Universo

Em meu discurso de abertura, depois de explicar como Carroll tenta evitar o começo do universo por meio de seu modelo de reversão de tempo do universo, eu oponho:

A solução de Professor Carroll não fornece nenhuma resposta convincente para o problema do Cérebro de Boltzmann. Já que o universo-mãe é um espaço de Sitter onde ocorrem flutuações térmicas, e já que os próprios universos bebês crescem para ser espaços de Sitter, não há nenhuma explicação no modelo por que existe um universo que nos rodeia com baixa entropia em vez da mera aparência de tal mundo, uma ilusão de cérebros isolados que têm flutuado para a existência a partir do vácuo quântico. Estes e outros problemas fazem o modelo do Professor Carroll menos plausível do que a solução padrão, que o universo começou a existir com uma condição inicial de baixa entropia.

Pessoas que não leram o livro de Carroll, From Eternity to Here não irão perceber o sentimento de desespero que atende o esforço de Carroll para resolver o problema da baixa entropia inicial do universo, que aponta para o seu começo. Ao longo do livro, ele é levado de volta para trás repetidamente, até que, finalmente, quando "Nós quase parecemos ter ficado sem opções," pegos "em um aperto da lógica, sem avenidas restantes para conciliar a evolução da entropia em nosso universo observável com a reversibilidade das leis fundamentais da física"(p. 349), com suas costas aparentemente contra a parede, ele vem com seu modelo notável como sua única solução para o problema do Cérebro de Boltzmann (pp. 361-3). Este modelo representa a sua melhor chance de evitar o problema; se não funcionar, outras soluções serão implicitamente ainda mais implausíveis.

Carroll reconhece,

Essa versão do multiverso contará com dois cérebros de Boltzmann isolados à espreita nas regiões vazias de Sitter e observadores comuns encontrados na sequência dos começos de baixa entropia dos universos bebês. Com efeito, deve haver um número infinito de ambos os tipos. Então, qual infinito ganha? [...] Em última análise, não é suficiente tirar fotos divertidas de universos ramificando-se em ambos as direções do tempo; precisamos entender as coisas em um nível quantitativo bem o suficiente para fazer previsões confiáveis. O estado da arte, eu tenho que admitir, não está à altura dessa tarefa ainda. Mas é certamente plausível que muito mais observadores surgem à medida que os universos bebês crescem, e levam ao equilíbrio do que virem a existir através de flutuações aleatórias no espaço vazio (pp. 363-4).

Carroll não faz qualquer tentativa para justificar seu otimismo. Então, meu desafio para Carroll é de nos dar alguma explicação de por que, em seu modelo, a nossa observação de um universo de baixa entropia em torno de nós é verídica, em vez de ilusória. Eu afirmo que o seu modelo não dá qualquer resposta.

O universo mãe mostrado na Figura 7 da transcrição é um chamado espaço Sitter em que se diz que as flutuações desovam universos bebês, e cada um dos universos bebês expande até que se tornam um espaço Sitter como o universo mãe, gerando mais bebês. Então, por que achar que mais destas flutuações produzem verdadeiros universos de baixa entropia, em vez de observadores muito mais prováveis, ​​que são meros Cérebros de Boltzmann, com uma ilusão de uma baixa entropia do universo ao seu redor? Carroll pode dizer: "Mas cada vez mais universos bebês com observadores comuns continuarão se formando!" Ah, mas esses observadores estão em outros universos (lembre-se: os bebês se separam para se tornarem espaços-tempos separados)! Neste, e em qualquer, universo bebê, os cérebros de Boltzmann irão, a longo prazo, dominar à medida que observadores comuns tornam-se extintos. E, mesmo se fosse verdade que as manchas inflacionárias desovando universos bebês são mais prováveis ​​do que as flutuações que formam Cérebros de Boltzmann (ele próprio um ponto discutível), isso ainda não consegue explicar por que nos encontramos cercados por uma condição de baixa entropia.

Repare que eu agora coloco a bola no campo de Carroll. Veja se ele fornece a explicação solicitada.

Os Cérebros de Boltzmann e a Explicação de Acaso para a sintonia fina (ou ajuste fino) do Universo

Mais tarde, em meu discurso de abertura, eu volto para o problema do cérebro de Boltzmann, quando discuto a tentativa de explicar a sintonia fina do universo como o resultado do acaso. Os defensores da hipótese do multiverso (como Carroll) tentam, com efeito, multiplicar os recursos probabilísticos a fim de aumentar as chances da existência de universos finamente ajustados e, em seguida, apelam a um efeito autosseletivo de observador para explicar por que não devemos ficar surpresos ao observar que o nosso universo é finamente ajustado. Aqui está a minha objeção:

A fim de resgatar a alternativa do acaso, seus defensores têm sido, portanto, obrigados a adotar a hipótese de que existe uma espécie de muitos mundos ou multiverso de universos ordenados aleatoriamente, da qual o nosso universo é apenas uma parte. Agora vem a jogada crucial: já que os observadores só podem existir em mundos finamente ajustados, é claro que observamos nosso universo como sendo finamente ajustado! Portanto, esta explicação da sintonia fina depende de (1) a existência de um tipo específico de muitos mundos e (2) de um efeito de observador autosselecionado.

Agora esta explicação, totalmente a parte de acusações para (1), enfrenta uma oposição muito formidável para (2), isto é, o problema do Cérebro de Boltzmann. A fim de ser observável o universo todo não precisa ser finamente ajustado para a nossa existência. Na verdade, é muito mais provável que uma flutuação aleatória de massa-energia renderia um universo dominado por observadores cérebro de Boltzmann do que um dominado por observadores comuns como nós. Em outras palavras, o efeito de autosseleção do observador é explicativamente vazio. Como Robin Collins já notou, o que precisa ser explicado não é a apenas vida inteligente, mas agentes encarnados, interativos e inteligentes como nós. Apelar para um efeito de autosseleção do observador não leva a nada, porque não há nenhuma razão para pensar que a maioria dos mundos observáveis, ​​ou dos mundos observáveis ​​mais prováveis, ​​sejam mundos em que existe esse tipo de observador. Na verdade, o oposto parece ser verdadeiro: a maioria dos mundos observáveis ​​serão mundos cérebro de Boltzmann.

Já que presumivelmente nós não somos cérebros de Boltzmann, esse fato desconfirma fortemente a hipótese dos muitos mundos naturalista ou a hipótese do multiverso.

Repare que eu estou disposto, por uma questão de argumento, a admitir a hipótese altamente controversa (1) que um tipo muito específico de Muitos Mundos (ou multiverso) existe. Em vez disso eu ataco (2), o efeito de autosseleção do observador. O fato de eu ignorar objeções à (1) é uma medida de quão vulnerável (2) é. Defensores do multiverso da hipótese do acaso gratuitamente assumem que a maioria dos universos observáveis nos muitos mundos são finamente ajustados, ou então que os universos finamente ajustados, embora em menor número, são, por alguma razão, mais prováveis do que mundos observáveis que não são finamente ajustados. Como eu disse, não somente não há razão positiva para pensar que qualquer uma destas hipóteses seja verdade, mas elas parecem ser falsas. Isso é extremamente problemático para Carroll, que apela para o multiverso para explicar a sintonia fina como devido ao acaso.

Mais uma vez, a bola foi colocada diretamente em seu campo: a fim de defender (2) ele precisa mostrar que a maioria dos mundos observáveis são finamente ajustados ou que, por algum motivo, mundos observáveis finamente ajustados são mundos mais prováveis. O que ele vai dizer?

Resposta de Carroll ao Problema do Cérebro de Boltzmann

Bem, olhe para a resposta dele em seu discurso de abertura. Ele escolhe passar por cima do problema do Cérebro de Boltzmann no contexto do argumento cosmológico, comentando: "Finalmente, ele faz um grande alarde sobre os Cérebros de Boltzmann. Eu vou falar sobre isso um pouco mais tarde”. [1] Quando chegamos a sua discussão no contexto do argumento teleológico, o problema do Cérebro de Boltzmann surge em sua defesa da hipótese do multiverso (sua quarta objeção ao argumento teleológico). Aqui está o que ele tem a dizer:

Agora o Dr. Craig faz um alarde sobre o problema do Cérebro de Boltzmann, o problema que no multiverso poderíamos ser apenas flutuações aleatórias em vez de crescer depois de um big bang quente. Este é um mal-entendido significativo de como funciona o multiverso. O multiverso não diz que tudo o que pode acontecer acontece com igual probabilidade. Ele diz que há uma história definitiva do multiverso e você pode fazer previsões. Diferentes modelos do multiverso terão diferentes proporções de observadores comuns e observadores aleatórios. Isso é uma coisa boa. Isso nos ajuda a distinguir entre os modelos viáveis e não viáveis dos modelos de multiverso, e há uma abundância de modelos viáveis ​​onde o Cérebro de Boltzmann, ou flutuações aleatórias, não dominam. Além disso, como uma pequena prévia das próximas atrações, eu estou tentando escrever um artigo (quando não estou debatendo a respeito de Deus e da cosmologia, eu sou um físico). Atualmente estou trabalhando em um artigo que diz que, na verdade, os Cérebros de Boltzmann (flutuações aleatórias) ocorrem com muito, muito menos frequência do que se acreditava anteriormente. Tudo se resume a uma melhor compreensão das flutuações quânticas. Há uma caricatura do teísmo que diz que o teísmo é uma desculpa para parar de pensar. Você diz: "Oh, há um problema, eu não preciso resolvê-lo porque Deus vai resolver isso para mim". Isso é claramente falso porque muitos teístas pensam com muito cuidado e com muito rigor sobre muitos problemas. Mas, às vezes, há um elemento de verdade. Este é um exemplo. Você se depara com o problema do Cérebro de Boltzmann e diz, "eu saio dessa dizendo que Deus criou um universo único". Isso pode ter feito você parar de pensar sobre a física de uma forma mais profunda e descobrir fatos interessantes como este.

Será que esta resposta responde aos desafios que eu coloquei em meu discurso de abertura? Carroll voltou ao serviço? Claro que não! Sua resposta equivale a mero abano de mão, com uma nota promissória em anexo. Ele apenas afirma que existem modelos de multiverso viáveis ​​em que Cérebros de Boltzmann não dominam os mundos observáveis. Nenhum detalhe ou documentação é dado.

Note que ele não faz nenhuma tentativa de mostrar que os Cérebros de Boltzmann não dominariam em mundos observáveis ​​de acordo com o seu modelo, que é sua melhor chance de resolver o problema da baixa entropia. Em vez disso, ele apela para modelos não especificados que não são nem descritos, muito menos demonstrados como plausíveis.

Eu não tenho certeza do conteúdo de seu trabalho não publicado, mas como uma ilustração dos problemas enfrentados por Carroll, considere uma sugestão que ele fez em seu blog. Ali Carroll informa que nós "precisamos destruir o universo (ou, pelo menos, o estado em que está atualmente) para nos salvar da invasão dos cérebros de Boltzmann". [2] (Isso é medicina muito forte!) Então, ele especula que talvez o nosso universo esteja pendurado em um estado de vácuo falso e antes que Cérebros de Boltzmann possam se formar, o universo irá afunilar de forma quântica a um estado de energia de vácuo zero ou negativo, em que Cérebros de Boltzmann não podem surgir.

Infelizmente, Carroll requer uma boa dose de física ad hoc para garantir que o menor estado de energia de vácuo será uma energia de vácuo zero ou negativa. Ele dá três opções: devemos ou (1) dizer que o consenso sobre a massa do quark de cima está errado (o que ele admite que é pouco provável) ou (2) recorrer para uma nova física (uma alternativa que ele rejeita quando se trata de seus próprios cálculos) ou (3) adotar uma visão minoritária sobre a medida de probabilidade que rege os mundos. Todos estes são ad hoc e jogadas implausíveis.

Além disso, não é suficiente destruir o nosso universo. Para evitar o problema do Cérebro de Boltzmann, Carroll tem que dizer que todos, ou a maioria, dos universos bebês estão neste estado de vácuo superior. Dada a independência deles um do outro, isto é altamente improvável. Mesmo se o nosso é, por que achar que os outros são? Como Robin Collins apontou em discussões anteriores ao debate, "teria-se-ia que fazer a hipótese de um multiverso especial que variou as outras constantes, mas era tal que não variou as massas [relevantes] de universo a universo. Isso é muito ad hoc e implausível". [3]

Ao invés de destruir o universo, não seria uma maneira mais simples de evitar o problema do Cérebro de Boltzmann, dizer que o universo começou há relativamente pouco tempo, em um estado de baixa entropia? Esta não é a caricatura do Deus-das-lacunas que Carroll critica. Se evita o problema do cérebro de Boltzmann ao considerar que o universo começou a existir há relativamente pouco tempo, em uma condição inicial de baixa entropia — precisamente o que a maioria dos cosmologistas pensa. Deus nem sequer entra em cena neste ponto.

A Contra-Resposta a Carroll

Em meu discurso de refutação, ao rever o argumento cosmológico kalam, eu indiquei o fracasso de Carroll para defender seu modelo contra a objeção do Cérebro de Boltzmann:

Eu também, em segundo lugar, salientei que há um problema do Cérebro de Boltzmann em relação ao modelo do Dr. Carroll. Parece-me que ele simplesmente não respondeu ao ponto que eu estava defendendo, isto é, que uma vez que cada universo bebê cresce em um espaço Sitter, haverá muito, muito mais desses Cérebros de Boltzmann a longo prazo do que observadores comuns. Então, o que o Dr. Carroll precisa fazer é justificar alguma medida não-padrão de probabilidade, que faria observadores comuns mais prováveis do que Cérebros de Boltzmann. Mas ele admite que não pode fazê-lo.

Lembre-se de que seu modelo representa o seu melhor esforço para lidar com a condição de baixa entropia inicial do universo; que é toda a sua raison d'être. Mas agora ele se recusa a defendê-lo.

Quando se trata do argumento teleológico, procurei avançar a discussão, expondo mais uma fraqueza da explicação do multiverso em relação aos Cérebros de Boltzmann:

[...] ele confronta o problema do Cérebro de Boltzmann mais uma vez. Mesmo que Dr. Carroll pudesse mostrar que os observadores comuns predominam em mundos que permitem a vida, o que dizer de todos aqueles mundos que não permitem a vida porque as outras constantes e quantidades não são finamente ajustadas (ou sintonizadas)? Nesses mundos, que superam em muito a quantidade de mundos finamente ajustados, não haverá observadores comuns, e ainda haverá um número incontável de Cérebros de Boltzmann produzidos por flutuações térmicas. Então, todo o multiverso será dominado por universos que têm muito mais Cérebros de Boltzmann do que observadores comuns como nós. Portanto, os dados sobre a hipótese do multiverso é incompreensivelmente improvável. A evidência é fortemente desconfirmatória da hipótese dos Muitos Mundos.

Esta é uma objeção realmente devastadora, que eu devo, como observado, a discussões com Robin Collins. O ponto é realmente bastante óbvio. Suponha que Carroll pudesse de alguma forma mostrar que em universos finamente ajustados (como o nosso) observadores comuns vão dominar, talvez devido à física ad hoc a que se apelou acima. Isso ainda assim não resgataria a hipótese de multiverso do problema dos Cérebros de Boltzmann! Pois o que fazer com todos os mundos que não são finamente ajustados? Porque esses universos não têm observadores comuns e são incompreensivelmente mais abundante do que universos finamente ajustados, o multiverso como um todo será dominado por Cérebros de Boltzmann. As garantias confiantes de Carroll de que existem modelos de multiverso viáveis ​​que escapam do problema dos Cérebros de Boltzmann nada fazem para mostrar como resolver este problema.

A Contra-Resposta de Carroll

Então, quando chegamos ao discurso de refutação de Carroll, nós ainda estamos esperando ver como ele vai enfrentar os desafios que eu coloquei tanto para o seu modelo específico quanto para a hipótese dos Muitos Mundos em geral. Com relação ao argumento cosmológico kalam, mais uma vez ele se afasta de uma defesa de seu modelo contra a objeção do Cérebro de Boltzmann: "Em um nível mais específico, falamos sobre o meu modelo. Novamente, eu não estou tentando defender o meu modelo; eu sou o primeiro a dizer que ele tem problemas". Ele alega que os seus problemas não são os que eu menciono; mas nós ainda estamos esperando ouvir como ele resolve o problema do Cérebro de Boltzmann. Se o seu modelo não pode resolver esse problema, então ele perde a sua raison d’être, uma vez que falha como uma explicação plausível para a condição de baixa entropia inicial do universo.

Com relação ao argumento teleológico, Carroll novamente prefere descartar ao invés de nos dar os detalhes:

O principal argumento do Dr. Craig contra isso é o argumento do Cérebro de Boltzmann. Mais uma vez, eu já lhe disse por que isso não é um bom argumento e parece ter sido ignorado no último discurso do Dr. Craig; isto é, que o multiverso não prediz que tudo acontece. Ele prevê que certas coisas acontecem com determinadas frequências. Então, o que você faz como um cosmólogo é verificar se o seu universo não é dominado por Cérebros de Boltzmann. Existem modelos do multiverso que passam nesse teste? Sim, existem. É facilmente evitado. Então, ele traz à tona esse argumento estranho, ele diz: "Poderia haver regiões onde os observadores comuns não poderiam existir porque os parâmetros não estão certos, mas Cérebros de Boltzmann poderiam existir." Mas toda a questão é que os Cérebros de Boltzmann são formas de vida. Cérebros de Boltzmann só podem existir onde vida é possível. Então, o que se faz em cosmologia é olhar para as regiões do multiverso onde a vida é possível e contar o número de Cérebros de Boltzmann versus o número de observadores comuns — existem modelos que passam no teste.

Carroll está certo quando diz que eu não respondi ao seu ponto de que as hipóteses do multiverso não preveem tudo que vai acontecer. Isso é simplesmente porque eu nunca trabalhei sob essa impressão equivocada, e ela não desempenha qualquer papel no meu argumento. Muito pelo contrário, diferentes universos dos Muitos Mundos serão mais ou menos favoráveis a observadores encarnados e conscientes com base no grau de sintonia fina do que suas constantes e quantidades fundamentais expõem. E a objeção é que nenhuma explicação foi dada para por que o multiverso (os Muitos Mundos), considerado como um todo, não será dominado por universos com Cérebros de Boltzmann, em vez de observadores respeitáveis ​​como nós. Você pode evitar este problema através da adoção de uma medida especial de probabilidade, favorecendo aqueles universos relativamente raros com observadores comuns, mas então você nos deve alguma explicação para esta jogada.

Para que não percamos a floresta para as árvores, recorde que o que está em jogo aqui é o apelo a um efeito autosseletivo do observador a fim de justificar por que observamos um universo de baixa entropia finamente ajustado em torno de nós. Para este apelo funcionar, as chances têm de ser de tal forma que um observador aleatório provavelmente será um observador comum, em vez de um Cérebro de Boltzmann. Mas Carroll nunca mostrou isso. O ponto de Carroll que Cérebros de Boltzmann são formas de vida só destaca a reivindicação de Robin Collins de que o que está em jogo no argumento da sintonia fina não é a frequência de mundos que permitem a vida, mas mundos que permitam agentes encarnados e conscientes. Alguma explicação é necessária porque este último tipo de mundo existe, e aqui apelar para um efeito autosseletivo é, como expliquei, vazio.

Declarações de Encerramento

Portanto, parece-me que eu sou bastante justificado quando, na minha declaração de encerramento, com referência ao problema do Cérebro de Boltzmann, eu reclamo,

Eu não acho que o Dr. Carroll realmente enfrentou isto, francamente. Há pelo menos duas razões por que os Cérebros de Boltzmann dominariam. Primeiro, porque em seu modelo de multiverso, a longo prazo, todos os universos bebês se tornam um espaço Sitter e tornar-se-ão dominados pelos Cérebros de Boltzmann. Em segundo lugar, em todos os outros mundos que não são finamente ajustados, simplesmente não há nenhum observador comum; mas haverá flutuações térmicas que irão produzir Cérebros de Boltzmann. Assim, ele é o que tem que justificar alguma medida não-padrão de probabilidade a fim de explicar por que observadores comuns como nós devem existir em vez de Cérebros de Boltzmann.

Isso resume tudo muito bem. Talvez Carroll possa responder a estes problemas; mas, no contexto deste debate, ele não o fez. Ele recorreu a descartar o problema em vez de apresentar evidências e simplesmente nos pediu para confiar nele.

Em seu último discurso, Carroll diz a respeito do seu modelo, que ele se recusou a defender, "[Craig] diz que deveria haver mais Cérebros de Boltzmann do que observadores comuns. Eu novamente explico por que isso não é verdadeiro, porque é uma declaração dependente de modelo. Neste modelo em especial, acaba sendo mais fácil de fazer um universo do que fazer um cérebro. Esse é um ponto atraente do modelo". Sério? Então, isso deveria ter sido defendido. Em seu livro Carroll diz, no máximo, que é "plausível". Até mesmo isso estaria sendo otimista. Carroll precisa responder especificamente e substantivamente para explicar como seu modelo irá evitar as acusações que eu apresentei contra ele e por que seu modelo irá, de fato, dar mais observadores comuns do que Cérebros de Boltzmann.

Resumindo

Obviamente muito mais foi dito no debate a respeito de evidências da termodinâmica para o começo do universo e sobre a hipótese do acaso como uma explicação de sintonia fina. Mas espero que, focando na objeção do Cérebro de Boltzmann, eu, pelo menos, tenha ilustrado como avaliar a argumentação em um debate. Você isola um problema e, em seguida, segue essa linha pela sequência de discursos (e através das respostas a perguntas depois), vendo como a resposta e contra-resposta prossegue.

Quando fazemos este exercício em relação à objeção do Cérebro de Boltzmann, torna-se evidente o quão fraca a resposta de Carroll é. Com relação às provas termodinâmicas para a segunda premissa do argumento cosmológico kalam, a tentativa de Carroll para evitar o começo do universo por meio de seu modelo de tempo reversão de não fornece uma resposta convincente para o problema do Cérebro de Boltzmann. Há duas razões para isso. Em primeiro lugar, já que o espaço Sitter gera Cérebros de Boltzmann e universos bebês, e cada universo bebê torna-se um espaço Sitter, todos os observadores comuns em qualquer universo acabarão morrendo e Cérebros de Boltzmann irão dominar a longo prazo. Em segundo lugar, mesmo se em universos finamente ajustados como o nosso, os observadores comuns dominam, a verdade é que nos mundos que não são finamente ajustado, Cérebros de Boltzmann irão dominar, de forma que o multiverso (ou hipótese dos Muitos Mundos) será dominado por universos cujos observadores, se houver, são Cérebros de Boltzmann. Este resultado desconfirma fortemente o modelo de Carroll como uma tentativa de minar a evidência da termodinâmica para o começo do universo.

Com relação à tentativa de resgatar a alternativa do acaso como uma explicação da sintonia fina do universo por meio do apelo à hipótese dos Muitos Mundos, Carroll apenas nos pede para confiar nele de que há modelos viáveis ​​que podem evitar o problema do Cérebro de Boltzmann. Pessoalmente, eu não tenho nenhuma confiança nas garantias de Carroll porque ele disse algo semelhante no que diz respeito aos modelos viáveis ​​de um universo sem começo, e quando se chega às especificidades, todos esses modelos acabam sendo muito problemáticos e implausíveis. Mas não importa; o ponto mais importante é que, em um contexto de debate uma afirmação não é nenhum substituto para o argumento. Carroll precisa nos dar evidência específica para as suas reivindicações se suas afirmações devem ter qualquer peso.

 
  • [1]

    A acusação de Carroll de que o meu raciocínio é de Deus-das-lacunas é claramente errada, uma vez que faço um apelo à evidência termodinâmica apenas para mostrar que o universo teve um começo. Se este início tem uma causa de qualquer tipo é uma questão independente, discutido na Pergunta # 368. Carroll, portanto, fundamentalmente me entende mal quando ele alega que eu estou oferecendo o teísmo como um modelo cosmológico alternativo.

     
  • [2]
  • [3]

    Respondendo às três alternativas de Carroll, Collins escreveu,

    "As soluções Carroll propõe [...] para os Cérebros de Boltzmann decorrentes no futuro de nosso universo, parecem apresentar dois problemas. Nas soluções de Higgs e massa quark, é necessário que haja uma severa sintonia fina dessas massas como Carroll observa [...] Este ajuste fino [...] não pode ser explicado por um multiverso, já que em um multiverso a grande proporção de universos serão aqueles em que a massa é diferente, e, portanto, um número indefinido de Cérebros de Boltzmann irão surgir no futuro desses universos, e, portanto, Cérebros de Boltzmann voltarão a dominar todo o multiverso.

    "Além disso, a adoção desta linha irá apresentar um grande problema para uma explicação multiverso das outras constantes: teria-se-ia que fazer a hipótese de um multiverso especial, que variasse as outras constantes, mas era tal que não variou essas massas de universo a universo. Isso é muito ad hoc e implausível.

    "Quanto à solução medida, a pergunta aqui é se a medida necessária é contingente ou a priori. Se contingente, então surge a pergunta se isso varia de universo para universo, assim como outros parâmetros. Se varia, o problema é o mesmo que o anterior para o Higgs e massas de quark. Se não, nós precisaríamos de uma boa justificação a priori que esta foi a medida certa".

- William Lane Craig