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A questão última sobre as origens: Deus e o começo do universo

Summary

A origem absoluta do universo, de toda a matéria e energia, até mesmo do próprio espaço físico e tempo, na singularidade do Big Bang, contradiz a perene suposição naturalista de que o universo sempre existiu. Um após o outro, modelos concebidos para evitar a singularidade cosmológica inicial — o modelo do estado estacionário, o modelo oscilante, modelos de flutuação no vácuo — vêm e vão. Modelos de gravidade quântica atuais, tais como o modelo de Hartle-Hawking e o modelo de Vilenkin, precisam apelar para o dispositivo fisicamente ininteligível e metafisicamente duvidoso de "tempo imaginário" para evitar o início do universo. A contingência implícita em um começo absoluto ex nihilo aponta para uma causa transcendente do universo além do espaço e do tempo. Objeções filosóficas para a causa do universo são incapazes de convencer.

Fonte: Astrophysics and Space Science 269-270 (1999): 723-740.

A pergunta fundamental

Desde tempos imemoráveis, os homens voltam seu olhar para o céu e se maravilham. Tanto a cosmologia quanto a filosofia encontram suas raízes no deslumbre sentido pelos antigos gregos ao contemplar o cosmo. Segundo Aristóteles,

é devido a seu deslumbre que os homens, tanto agora quanto no princípio, começaram a filosofar; eles indagavam originalmente acerca das dificuldades óbvias e, então, avançaram pouco a pouco e expressaram dificuldades sobre os assuntos mais importantes — por exemplo, sobre os fenômenos da lua, do sol e das estrelas e sobre a origem do universo. [1]

A pergunta de por que o universo existe permanece o mistério último. Derek Parfit, filósofo contemporâneo, declara que "nenhuma pergunta é mais sublime do que por que é que há um universo: por que existe algo, em vez de nada". [2]

Esta pergunta levou o grande matemático e filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz a postular a existência de um ser metafisicamente necessário que carrega dentro de si a razão suficiente para a sua própria existência e que constitui a razão suficiente para a existência de tudo mais no mundo. [3] Leibniz identificou esse ser como Deus. Os críticos de Leibniz, por outro lado, alegaram que o universo de espaço-tempo pode ser em si o ser necessário exigido pelo argumento de Leibniz. Assim, o cético escocês David Hume perguntou: "Por que o universo material não pode ser o Ser necessariamente existente...?". Deveras, "como é que algo que exista desde a eternidade pode ter uma causa, uma vez que essa relação implica uma prioridade no tempo e um início de existência?". [4] Não há justificação para ir além do universo para postular uma razão sobrenatural para sua existência. Como Bertrand Russell expressou de forma sucinta em seu debate na rádio BBC com Frederick Copleston, "o universo apenas está aí, e isto é tudo”. [5]

A origem do universo

Este impasse persistiu inalterado até 1917, ano em que Albert Einstein fez uma aplicação cosmológica de sua recém-descoberta Teoria Geral da Relatividade. [6] Para seu desgosto, ele descobriu que a TGR não permitiria um modelo estático do universo, a menos que ele introduzisse em suas equações de campo gravitacional um certo "fator de correção" L a fim de contrabalançar o efeito gravitacional da matéria. O universo de Einstein foi equilibrado no fio da navalha. No entanto, a menor perturbação faria com que o universo implodisse ou expandisse. Ao tomar esta característica do modelo de Einstein a sério, Alexander Friedman e Georges Lemaître foram capazes de formular de forma independente, na década de 1920, soluções para as equações de campo, que previam um universo em expansão. [7]

A importância monumental do modelo de Friedman-Lemaître está em sua historicização do universo. Como um comentarista observou, até este momento a ideia da expansão do universo "estava absolutamente além da compreensão. Ao longo de toda a história humana, o universo foi considerado como fixo e imutável, e a ideia de que ele pode realmente estar mudando era inconcebível”. [8] Se, porém, o modelo de Friedman-Lemaître estivesse correto, o universo não poderia mais ser adequadamente tratado como uma entidade estática, existindo, de fato, atemporalmente. Pelo contrário, o universo tem uma história, e o tempo não será um assunto indiferente para a nossa investigação do cosmo. Em 1929, as medições de Edwin Hubble do desvio para o vermelho no espectro ótico de luz de galáxias distantes, [9] que foi considerado como indicador de um movimento de recessão universal das fontes de luz na linha de visão, proporcionaram uma verificação dramática do modelo de Friedman-Lemaître. Incrivelmente, o que Hubble descobriu foi a expansão isotrópica do universo, prevista por Friedman e Lemaître, marcando realmente um ponto decisivo na história da ciência. "De todas as grandes previsões que a ciência já fez ao longo dos séculos", exclama John Wheeler, "será que já houve uma maior do que esta, a de prever, e prever corretamente, e prever contra todas as expectativas, um fenômeno tão fantástico quanto a expansão da universo?". [10]

O modelo padrão do Big Bang

Enquanto teoria baseada na TGR, o modelo de Friedman-Lemaître não descreve a expansão do conteúdo material do universo em um espaço vazio, pré-existente, newtoniano, mas, sim, a expansão do espaço em si. Isto tem a implicação surpreendente de que, à medida que se inverte a expansão e se extrapola de volta no tempo, a curvatura do espaço-tempo torna-se progressivamente maior até finalmente chegar a um estado singular em que a curvatura do espaço-tempo se torna infinita. Este estado constitui, portanto, uma borda ou limite para o próprio espaço-tempo. P. C. W. Davies comenta:

Uma singularidade cosmológica inicial... forma uma extremidade temporal no passado para o universo. Não podemos continuar o raciocínio físico ou nem mesmo o conceito de espaço-tempo, através de tal extremidade... Deste ponto de vista, o Big Bang representa o evento de criação; a criação não só de toda a matéria e energia do universo, mas também do próprio espaço-tempo. [11]

A expressão popular "Big Bang", originalmente um termo de escárnio cunhado por Fred Hoyle para caracterizar o início do universo previsto pelo modelo de Friedman-Lemaître, é, portanto, potencialmente enganosa, uma vez que a expansão não pode ser visualizada do lado de fora (não havendo "fora", assim como não há "antes" em relação ao Big Bang). [12]

O modelo padrão do Big Bang descreve, assim, um universo que não é eterno no passado, mas que veio a existir um tempo finito atrás. Além disso — o que merece ser ressaltado —, a origem que ele postula é uma origem ex nihilo absoluta. Pois não só toda a matéria e energia, mas o próprio espaço e tempo, passam a existir na singularidade cosmológica inicial. Como Barrow e Tipler enfatizam: "Nesta singularidade, o espaço e o tempo vieram à existência; literalmente nada existia antes da singularidade, de modo que, se o universo se originou em tal singularidade, nós realmente temos uma criação ex nihilo”. [13] Assim, podemos representar graficamente o espaço-tempo como um cone (Fig. 1).

Fig. 1: Representação cônica do modelo padrão de espaço-tempo. O espaço e o tempo começaram na singularidade cosmológica inicial, antes da qual literalmente nada existia.

Tempo

Espaço

Singularidade cosmológica inicial

Em tal modelo, o universo se origina ex nihilo no sentido de que, na singularidade inicial, é verdade que não há nenhum ponto de espaço-tempo anterior ou é falso que algo existia antes da singularidade.

Pois bem, tal conclusão é profundamente perturbadora para quem pondera a seu respeito, pois não é possível suprimir a pergunta: por que o universo existe, em vez de nada? À luz da origem do universo ex nihilo, já não se pode descartar a pergunta com um encolher de ombros e um lema: "O universo apenas está aí, e isto é tudo”. O universo não está "apenas aí"; antes, ele veio a existir. O começo revela que o universo não é, como Hume pensou, um ser necessariamente existente, mas é contingente em sua existência. Os filósofos que analisam o conceito de existência necessária concordam que as propriedades essenciais de qualquer entidade existente necessariamente incluem ser eterna, incausada, incorruptível, e indestrutível [14] — pois, doutro modo, seria capaz de não-existência, o que é contraditório. Assim, se o universo começou a existir, falta-lhe pelo menos uma das propriedades essenciais da existência necessária — eternidade. Portanto, a razão para a sua existência não pode ser imanente, mas deve, de alguma forma misteriosa, ser ultramundana ou transcendente. Caso contrário, deve-se dizer que o universo simplesmente surgiu incausado a partir de absolutamente nada, o que parece absurdo. Sir Arthur Eddington, contemplando o início do universo, opinou que a expansão do universo era tão absurda e incrível que "eu me sinto quase indignado que alguém deva acreditar nela — exceto eu mesmo”. [15] Ele, enfim, sentiu-se forçado a concluir que "o começo parece apresentar dificuldades insuperáveis, a menos que concordemos em olhar para ele como algo francamente sobrenatural”. [16]

Acho que a maioria dos cientistas não reflete filosoficamente sobre as implicações metafísicas de suas teorias. Porém, nas palavras de uma equipe de astrofísicos, "o problema da origem [do universo] envolve certo aspecto metafísico que pode ser tanto atraente quanto revoltante”. [17]

O modelo do estado estacionário

Revoltado com as rígidas alternativas metafísicas a nós apresentadas por um começo absoluto do universo, certos teóricos ficam compreensivelmente ansiosos em subverter o modelo padrão e restaurar um universo eterno. Sir Fred Hoyle, por exemplo, não poderia tolerar nem um universo incausado nem uma origem sobrenatural. Com respeito à primeira alternativa, ele escreveu: "Esta situação tão peculiar é tido por muitos astrônomos como que representasse a origem do universo. O universo deve ter começado neste momento particular. De onde? A resposta habitual, certamente insatisfatória, é esta: a partir do nada!". [18] Igualmente insatisfatória na mente de Hoyle era a postulação de uma causa sobrenatural. Notando que alguns aceitam alegremente o começo absoluto do universo, Hoyle lamentou:

Para muitas pessoas, esse processo de pensamento parece muitíssimo satisfatório porque um "algo" fora da física pode, então, ser introduzido em t = 0. Por uma manobra semântica, a palavra "algo" é, então, substituída por "deus", exceto que a primeira letra se torna maiúscula, Deus, a fim de nos alertar que não devemos levar adiante a investigação. [19]

Para o crédito de Hoyle, ele levou adiante a investigação, ajudando a formular, em 1948, o primeiro concorrente ao modelo padrão, isto é, o modelo do estado estacionário do universo. [20] De acordo com esta teoria, o universo está em estado de expansão cósmica isotrópica, mas, à medida que as galáxias recuam, nova matéria é arrastada para a existência ex nihilo nos interstícios de espaço criados pela recessão galáctica (Fig. 2).

Fig. 2: Modelo do estado estacionário. À medida que as galáxias mutuamente recuam, nova matéria passa a existir para substituí-las. O universo se renova constantemente e, assim, nunca começou a existir.

Se extrapolarmos a expansão do universo de volta no tempo, a densidade do universo nunca aumenta, porque a matéria e energia simplesmente desaparecem à medida que as galáxias se aproximam mutuamente!

A teoria do estado estacionário não garantiu uma única peça de verificação experimental; seu apelo era puramente metafísico. [21] A descoberta de cada vez mais radiogaláxias a distâncias cada vez maiores minou a teoria, mostrando que o universo teve uma história evolutiva. Contudo, a refutação decisiva do modelo do estado estacionário veio com duas descobertas que constituíam, além da desvio galáctico vermelho, o indício mais significativo para a teoria do Big Bang: a nucleossíntese cosmogônica dos elementos de luz e a radiação de fundo de micro-ondas. Como resultado, nas palavras de Ivan King, "a teoria do estado estacionário foi agora colocada para descansar, em decorrência de observações claras de como as coisas mudaram com o tempo”. [22]

Modelos oscilantes

O modelo padrão foi baseado nos pressupostos de homogeneidade e isotropia. Alguns cosmólogos especularam que, negando homogeneidade e isotropia, pode-se conseguir criar um modelo oscilante do universo. [23] Se a força gravitacional interna da massa do universo fosse capaz de vencer a força da sua expansão, então a expansão pode ser revertida em uma contração cósmica, um Big Crunch. Se não fosse homogêneo e isotrópico, então o universo em colapso poderia não se aglutinar em um ponto, mas o seu conteúdo material poderia passar um ao outro, de modo que o universo pareceria recuperar-se da contração em uma nova fase de expansão. Se este processo de expansão e contração pudesse ser repetido indefinidamente, então um início absoluto do universo poderia ser evitado (Fig. 3).

Fig. 3: Modelo de oscilação. Cada fase de expansão é precedida e sucedida por uma fase de contração, de modo que o universo em forma de sanfona existe sem começo e sem fim.

Raio do universo

Tempo

Tal teoria é extremamente especulativa, mas novamente houve motivações metafísicas para adotar este modelo. [24] As perspectivas do modelo oscilante foram severamente esmaecidas em 1970, no entanto, pela formulação de Penrose e Hawking dos teoremas da singularidade que carregam seus nomes. [25] Os teoremas revelaram que, sob condições muito generalizadas, uma singularidade cosmológica inicial é inevitável, até mesmo para universos não-homogêneos e não-isotrópicos. Refletindo no impacto desta descoberta, Hawking observa que os Teoremas de Singularidade de Hawking-Penrose "levaram ao abandono das tentativas (principalmente pelos russos) de argumentar que houve uma fase de contração anterior e um salto não-singular para a expansão. Em vez disso, quase todos agora acreditam que o universo e o próprio tempo tiveram seu começo no Big Bang”. [26]

Apesar do fato de que os términos de um universo fechado devem ser singularidades e de que nenhuma trajetória de espaço-tempo pode ser estendida através de uma singularidade, o modelo oscilante exibiu uma persistência teimosa. Três novas críticas foram apresentadas contra ele. Em primeiro lugar, não há física conhecida que poderia fazer um universo em colapso se recuperar para uma nova expansão. Em segundo lugar, os indícios observacionais apontam que a densidade da massa média do universo é insuficiente para gerar atração gravitacional capaz de deter e reverter a expansão. [27] Terceiro, uma vez que se conserva a entropia de ciclo para ciclo em tal modelo, que tem o efeito de gerar maiores e mais longas oscilações com cada ciclo sucessivo, as propriedades termodinâmicas de um modelo oscilante implicam o próprio começo que seus defensores procuraram evitar (Fig. 4). [28]

Fig. 4: Modelo oscilante com aumento da entropia. Em razão da conservação de entropia, cada oscilação sucessiva tem um raio cada vez maior de tempo de expansão.

Raio do universo

Tempo

Embora estas dificuldades sejam bem conhecidas, os defensores do modelo oscilante tenazmente se agarraram a ele até que uma nova alternativa ao modelo padrão emergiu durante a década de 1970. [29] A teoria manteve-se viva por sua evasão de um começo absoluto do universo; porém, uma vez que outros modelos se tornaram disponíveis, alegando oferecer o mesmo benefício, o modelo oscilante afundou sob o peso de suas próprias deficiências.

Modelos de flutuação no vácuo

Os cosmólogos perceberam que uma descrição física do universo antes do tempo de Planck exigiria a introdução da física quântica, além da TRG. Em 1973, Edward Tryon especulou sobre a possibilidade de que o universo fosse uma partícula virtual de longa vida, cuja energia total é zero, nascida do vácuo primordial. [30] Esta especulação aparentemente bizarra deu origem a uma nova geração de teorias cosmogônicas que podemos chamar de modelos de flutuação no vácuo. Em tais modelos, a hipótese é de que, antes de uma era inflacionária, o universo-como-um-todo é um vácuo primordial que existe não em estado de expansão, mas eternamente em estado estável. Ao longo deste vácuo, flutuações de energia subatômicas ocorrem constantemente, por meio das quais a matéria é criada e miniuniversos nascem (Fig. 5).

Fig. 5: Modelos de flutuação no vácuo. Dentro do vácuo do universo mais amplo, ocorrem flutuações que se tornam miniuniversos. O nosso é apenas um deles, e seu início relativo não implica um começo para o universo-como-um-todo.

Tempo

Espaço

O nosso universo em expansão é apenas um de um número indefinido de miniuniversos concebidos dentro do útero do universo-como-um-todo maior. Assim, o início do nosso universo não representa um começo absoluto, mas apenas uma mudança no universo-como-um-todo eterno e incausado.

Modelos de flutuação no vácuo não sobreviveram à década de 1980. Não somente havia problemas teóricos com os mecanismos de produção de matéria, mas estes modelos também enfrentaram uma incoerência interna profunda. [31] De acordo com eles, é impossível especificar exatamente quando e onde uma flutuação ocorrerá no vácuo primordial que então desenvolverá num universo. Em qualquer intervalo de tempo finito, há uma probabilidade positiva de tal flutuação ocorrer em qualquer ponto no espaço. Assim, dado o tempo passado infinito, universos eventualmente serão gerados em todos os pontos no vácuo primordial e, à medida que se expandem, eles começarão a colidir e coalescer umas com as outras. Assim, dado o tempo passado infinito, deveríamos agora estar observando um universo infinitamente antigo, e não relativamente recente. Talvez a única maneira de evitar o problema seja postular uma expansão do próprio vácuo primordial; mas então estaremos de volta à origem absoluta subentendida pelo modelo padrão. De acordo com Isham, este problema provou ser "bastante letal" para os modelos de flutuação no vácuo; assim, estes modelos foram "abandonados vinte anos atrás" e "quase nada" foi feito com eles desde então. [32]

Modelo inflacionário caótico

A inflação também forma o contexto para a próxima alternativa a surgir: o modelo inflacionário caótico. Um dos mais férteis dos teóricos da inflação é o cosmólogo russo Andrei Linde. [33] No modelo de Linde, a inflação nunca termina: cada domínio do universo que está inflando, quando atinge certo volume, dá origem mediante inflação a outro domínio, e assim por diante, ad infinitum (Fig. 6).

Fig. 6: Modelo inflacionário caótico. O universo mais amplo produz mediante inflação domínios separados que continuam a recuar um do outro. Uma vez que essas "bolhas" não interagem, elas não podem colidir e coalescer como os miniuniversos postulados pelos modelos de flutuação no vácuo o fariam.

O modelo de Linde, portanto, tem futuro infinito. Linde, porém, fica perplexo com a possibilidade de um começo absoluto. Ele escreve: "O aspecto mais difícil deste problema não é a existência da própria singularidade, mas a questão do que existia antes da singularidade.... Este problema está em algum lugar na fronteira entre a física e a metafísica”. [34] Linde propõe, portanto, que a inflação caótica não é apenas sem fim, mas sem começo. Cada domínio no universo é o produto da inflação em outro domínio, de modo que a singularidade é evitada e com ela também a questão do que veio antes (ou, mais precisamente, o que o causou).

Em 1994, no entanto, Arvind Borde e Alexander Vilenkin mostraram que um universo inflando eternamente para o futuro não pode ser geodesicamente completo no passado, de modo que deve ter existido, em algum momento no passado indefinido, uma singularidade inicial. Eles escrevem:

Um modelo em que a fase inflacionária não tem fim... leva naturalmente a esta pergunta: pode este modelo também ser estendido para o passado infinito, evitando desta forma o problema da singularidade inicial?

... isto, de fato, não é possível em espaços-tempos inflacionários eternos no futuro, a menos que obedeçam a algumas condições físicas razoáveis: esses modelos devem necessariamente possuir singularidades iniciais.

... o fato de que espaços-tempos inflacionários são incompletos no passado força a pessoa a abordar a pergunta do que — se é que houve algo — veio antes. [35]

Em resposta, Linde relutantemente concorda com a conclusão de Borde e Vilenkin: deve ter havido uma singularidade do Big Bang em algum momento no passado. [36]

Modelos de gravidade quântica

No fim de sua análise do modelo inflacionário caótico de Linde, Borde e Vilenkin dizem com respeito à questão metafísica de Linde: "O caminho mais promissor para lidar com este problema é, provavelmente, tratar o quantum do universo mecanicamente e descrevê-lo por uma função de onda, e não por um espaço-tempo clássico”. [37] Eles, assim, fazem alusão à última classe de modelos que tenta evitar a singularidade cosmológica inicial que consideraremos, ou seja, modelos de gravidade quântica. Vilenkin e, mais popularmente, James Hartle e Stephen Hawking propuseram modelos do universo que Vilenkin candidamente chama de exercícios de "cosmologia metafísica”. [38] Na popularização campeã de vendas de sua teoria, Hawking até mesmo revela uma orientação explicitamente teológica. Ele admite que, no modelo padrão, poder-se-ia legitimamente identificar a singularidade do Big Bang como o instante em que Deus criou o universo. [39] Na verdade, ele acha que uma série de tentativas de evitar o Big Bang foi provavelmente motivada pelo sentimento de que um começo do tempo "cheira a intervenção divina”. [40] Ele vê o seu próprio modelo como preferível ao modelo padrão porque não haveria nenhuma borda de espaço-tempo em que "se teria que apelar para Deus ou alguma lei nova”. [41]

Tanto os modelos de Hartle-Hawking quanto de Vilenkin eliminam a singularidade inicial, transformando a hipersuperfície cônica do espaço-tempo clássico numa hipersuperfície lisa e curva sem nenhuma borda (Fig. 7).

Fig. 7: Modelo de gravidade quântica. Na versão de Hartle-Hawking, o espaço-tempo é "arredondado" antes do tempo de Planck, de modo que, embora o passado seja finito, não há nenhuma borda ou ponto inicial.

Tempo

Espaço

10-43 seg

Isto é conseguido mediante a introdução de números imaginários para a variável de tempo nas equações gravitacionais de Einstein, o que elimina eficazmente a singularidade. Hawking vê implicações teológicas profundas no modelo:

A ideia de que o espaço e o tempo podem formar uma superfície fechada sem limite... tem profundas implicações para o papel de Deus nos assuntos do universo... Desde que o universo tenha tido um começo, poderemos supor que teve um criador. Porém, se o universo for de fato completamente autossuficiente, não possuindo nenhum limite ou borda, ele não teria nem começo nem fim. Qual lugar, então, sobra a um criador? [42]

Hawking não nega a existência de Deus, mas acha que seu modelo elimina a necessidade de um criador.

A chave para avaliar esta afirmação teológica é a interpretação física dos modelos de gravidade quântica. Ao postular um tempo finito (imaginário) sobre uma superfície fechada antes do tempo de Planck, em vez de um tempo infinito em uma superfície aberta, tais modelos realmente parecem apoiar, em vez de minar, a ideia de que o tempo teve um começo. Tais teorias, se bem-sucedidas, permitem-nos modelar a origem do universo sem uma singularidade inicial envolvendo infinita densidade, temperatura, pressão e assim por diante. Como Barrow aponta, "este tipo de universo quântico nem sempre existiu; ele vem à existência exatamente como as cosmologias clássicas o fariam, mas não começa em um Big Bang onde quantidades físicas são infinitas. ..”. [43] Barrow destaca que tais modelos são "muitas vezes descritos como se dessem uma imagem de 'criação a partir do nada'", sendo a única ressalva que, neste caso, "não há nenhum ponto definido... de criação”. [44] Os próprios Hartle-Hawking interpretam seu modelo como se desse "a amplitude para o universo aparecer do nada", e Hawking afirmou que, de acordo com o modelo, o universo "seria literalmente criado a partir do nada: não apenas do vácuo, mas de absolutamente nada, porque não há nada fora do universo”. [45] Tomadas literalmente, estas afirmações implicam o começo do universo. A alegação de Hawking citada acima relativa às implicações teológicas de seu modelo deve, portanto, ser entendida no sentido de que, em tais modelos, não há pontos de começo e de fim, e, portanto, não há necessidade de um criador. Porém, ter um início não implica ter um ponto de partida. Até mesmo no modelo padrão, os teóricos, por vezes, "cortam fora" o ponto singular inicial sem pensar que, portanto, o espaço-tempo não começa a existir e que o problema da origem do universo é assim resolvido. O tempo começa a existir apenas no caso de que, para qualquer intervalo de tempo finito, haja apenas um número finito de intervalos temporais iguais antes disso. Esta condição é preenchida pelos modelos de gravidade quântica, bem como pelo modelo padrão. Também não devemos pensar que, ao dar margem para que o universo apareça do nada, cosmólogos quânticos tenham eliminado a necessidade de um criador, pois essa probabilidade é condicional a diversas escolhas que só o criador poderia fazer (como selecionar a função de onda do universo) e só é aplicada de forma muito dúbia ao nada absoluto. [46]

Talvez se diga que tal interpretação dos modelos de gravidade quântica não levam a sério a noção de "tempo imaginário”. Introduzir números imaginários para a variável de tempo na equação de Einstein tem o efeito peculiar de tornar a dimensão do tempo indistinguível do espaço. Porém, neste caso, o regime do tempo imaginário antes do tempo de Planck não é um espaço-tempo, mas um espaço euclidiano de quatro dimensões. Interpretado de forma realista, um quadri-espaço desses seria esvaziado de toda temporalidade e simplesmente existiria atemporalmente. Assim, Hawking descreve-o como "completamente autossuficiente e não afetado por nada fora de si. Não seria nem criado nem destruído. Simplesmente SERIA”. [47]

A pergunta que surge para essa interpretação do modelo é se tal interpretação deve ser tomada de forma realista ou instrumentalmente. Nesta questão, não pode haver dúvida de que o uso de quantidades imaginárias para o tempo é um mero artifício matemático sem significado ontológico. Barrow observa que "os físicos têm muitas vezes usado este procedimento 'mudança de tempo para espaço' como um truque útil para resolver alguns problemas na mecânica quântica comum, apesar de não imaginar que o tempo era realmente como o espaço. No final do cálculo, eles apenas mudam de volta para a interpretação usual de haver uma dimensão de tempo e três... dimensões de... espaço”. [48] Em seu modelo, Hawking simplesmente se recusa a reconverter para números reais. Se o fizermos, a singularidade reaparecerá. Hawking admite que "somente se pudéssemos imaginar o universo em termos de tempo imaginário é que não haveria singularidades.... Quando se volta para o tempo real em que vivemos, no entanto, ainda apareceriam singularidades”. [49] O modelo de Hawking é, portanto, um modo de redescrever um universo com um ponto de início singular, de tal maneira que essa singularidade é transformada para desaparecer; tal redescrição, porém, não tem caráter realista.

Hawking recentemente declarou de modo explícito que ele interpreta o modelo de Hartle-Hawking de forma não-realista. Ele confessa: "Eu sou positivista... Não exijo que uma teoria corresponda à realidade, porque eu não sei o que ela é”. [50] Ainda mais extremo: "Adoto o ponto de vista positivista de que uma teoria física é apenas um modelo matemático e que não faz sentido perguntar se ela corresponde à realidade”. [51] Ao avaliar o valor de uma teoria, "tudo com que me preocupo é que a teoria preveja os resultados das medições”. [52] O exemplo mais claro do instrumentalismo de Hawking é sua análise da criação de par de partículas, a partir de um tunelamento quântico de elétrons no espaço euclidiano (com o tempo sendo imaginário) e um par de elétron/pósitron acelerando para longe um do outro no espaço-tempo de Minkowski. [53] Esta análise é diretamente análoga ao modelo cosmológico de Hartle-Hawking; ainda assim, ninguém interpretaria a criação de par de partículas como se fosse literalmente o resultado da transição de elétrons de um quadri-espaço atemporalmente existente para dentro do nosso espaço-tempo clássico. É apenas uma descrição alternativa empregando números imaginários, em vez de números reais.

É significativo que o uso de quantidades imaginárias para o tempo é característica inerente a todos os modelos de gravidade quântica. [54] Isto impede que possam ser interpretados de forma realista como descrições da origem do universo do espaço-tempo em um quadri-espaço atemporalmente existente. Na verdade, eles são formas de modelar o verdadeiro começo do universo ex nihilo, de tal forma que não envolva uma singularidade. O que trouxe o universo à existência permanece inexplicado em tais descrições.

Resumo

Com cada fracasso sucessiva das teorias cosmogônicas alternativas, o modelo padrão foi corroborado. Pode-se dizer com segurança que nenhum modelo cosmogônico foi verificado tão repetidamente em suas previsões e tão corroborado por tentativas de sua falsificação, ou tão concordante com descobertas empíricas e tão filosoficamente coerente, quanto o modelo padrão do Big Bang. Isto não prova que esteja correto, mas mostra que ele é a melhor explicação para os indícios que temos, merecendo, portanto, a nossa aceitação provisória.

Além do Big Bang

A descoberta de que o universo não é eterno no passado, mas teve um começo, tem profundas implicações metafísicas. Implica que o universo não é necessário em sua existência, mas, antes, tem seu fundamento em um ser metafisicamente necessário e transcendente. A única maneira de evitar esta conclusão seria negar a convicção de Leibniz de que tudo que existe deve ter uma razão para a sua existência, seja na necessidade de sua própria natureza, seja fundamento externo. Refletindo sobre a situação atual, P. C. W. Davies sugere:

'O que causou o Big Bang?' ... Pode-se considerar que alguma força sobrenatural, alguma agência além do espaço e do tempo tenha sido responsável pelo Big Bang, ou pode-se preferir a consideração de que o Big Bang tenha sido um evento sem causa. Parece-me que não temos muita escolha. Ou... algo fora do mundo físico... ou... um evento sem causa. [55]

O problema em dizer que o Big Bang é um evento sem causa é que isto implica que o universo surgiu incausado do nada, o que parece metafisicamente absurdo. O filósofo da ciência Bernulf Kanitscheider admoesta: "Se levada a sério, a singularidade inicial está em colisão frontal com o compromisso ontológico mais bem-sucedido que serviu de linha orientadora da pesquisa desde Epicuro e Lucrécio" — ou seja, a partir do nada nada surge —, o que Kanitscheider chama de "uma hipótese metafísica que se revelou tão fecunda em todos os cantos da ciência que o melhor conselho é tentarmos tanto quanto possível evitar processos de origem absoluta”. [56] Porém, se o universo começou a existir, estamos, portanto, impulsionados à segunda alternativa: uma agência sobrenatural além do espaço e do tempo.

A alternativa sobrenaturalista

Se seguimos a rota de postular alguma agência causal além do espaço e do tempo como responsável pela origem do universo, a análise conceitual nos permite recuperar inúmeras propriedades impressionantes que devem ser possuídas por um ser ultramundano desse tipo. Porque, sendo a causa do espaço e do tempo, esta entidade deve transcender espaço e tempo e, portanto, existir atemporalmente e não-espacialmente — pelo menos, sem o universo. Esta causa transcendente deve, portanto, ser sem mudança e imaterial, uma vez que atemporalidade implica ser sem mudança, e ser sem mudança implica imaterialidade. Essa causa deve ser sem começo e incausada, pelo menos no sentido de lhe faltarem quaisquer condições causais antecedentes. A navalha de Occam raspará fora novas causas, pois não se deve multiplicar causas além da necessidade. Esta entidade deve ser inimaginavelmente poderosa, uma vez que criou o universo sem nenhuma causa material.

Por último — e de modo mais notável —, tal causa transcendente é plausivelmente considerada pessoal. Como Richard Swinburne, filósofo de Oxford, aponta, existem dois tipos de explicações causais: explicações científicas a partir de leis e condições iniciais e explicações pessoais a partir de agentes e suas vontades. [57] Um primeiro estado do universo não pode ter uma explicação científica, uma vez que não há nada antes dele, e, portanto, só pode ser explicado a partir de uma explicação pessoal. Além disso, a pessoalidade da causa do universo é subentendida por sua atemporalidade e imaterialidade, uma vez que as únicas entidades que conhecemos que podem possuir tais propriedades são mentes ou objetos abstratos, e objetos abstratos não se interpõem em relações causais. Consequentemente, a causa transcendente da origem do universo deve ser da ordem da mente. Esta mesma conclusão também está subentendida no fato de que temos neste caso a origem de um efeito temporal a partir de uma causa atemporal. Se a causa da origem do universo fosse um conjunto impessoal de condições necessárias e suficientes, seria impossível a causa existir sem o seu efeito. Pois, se as condições necessárias e suficientes do efeito são atemporalmente dadas, em seguida o seu efeito deve ser determinado também. A única maneira para que a causa seja atemporal e sem mudança, mas seu efeito tenha se originado de novo um tempo finito atrás, é que a causa seja um agente pessoal que livremente escolhe trazer um efeito sem condições antecedentes determinantes. Assim, somos levados não apenas a uma causa transcendente do universo, mas a seu criador pessoal.

Objeções naturalistas

Muitas pessoas, naturalmente, relutarão em aceitar tal bagagem metafísica. Mas que objeção existe ao postulado de uma agência causal pessoal além do universo? Algumas críticas podem ser facilmente descartadas. Por exemplo, o metafísico John Post obviamente incorre em petição de princípio quando afirma que não pode haver uma causa da origem do universo, uma vez que, "por definição, o universo contém tudo o que há ou já foi ou será”. [58] Novamente, é um óbvio non sequitur quando ele infere que, porque "a singularidade não pode ser causada por algum evento ou processo natural anterior", "a cosmologia física contemporânea não pode ser citada em apoio à ideia de uma causa divina ou criador do universo”. [59]

Por outro lado, Smith percebe que o metafísico deve levar a sério a "questão mais difícil" da possibilidade de que "a singularidade ou o Big Bang é provavelmente um efeito de uma causa sobrenatural ou não”. [60] Que problema, então, existe com uma perspectiva sobrenaturalista? Adolf Grünbaum argumentou vigorosamente contra o que ele chama de "o argumento da nova criação" para uma causa sobrenatural da origem do universo. [61] Seu Ansatz básico é baseado na suposição de que a prioridade causal implica prioridade temporal. Como não havia instantes de tempo antes do Big Bang, segue que ele não pode ter uma causa. [62]

Parece-me que há uma série de opções para lidar com esta objeção, uma delas sendo a a percepção de que o Criador do universo é causal, mas não temporalmente, anterior à singularidade do Big Bang, de tal forma que seu ato de causar o começo da existência do universo é simultâneo ou coincidente com o começo da existência do universo. Grünbaum não propõe nenhuma justificativa para sua suposição de que prioridade causal implica prioridade temporal. Discussões sobre direcionalidade causal rotineiramente lidam com casos em que causa e efeito são simultâneos. Pode-se afirmar que o criador sem o universo existe sem mudança e, portanto, atemporalmente; na singularidade do Big Bang, ele criou o universo, bem como o tempo e o espaço. Para o criador sem o universo, simplesmente não há tempo, porque não há eventos de qualquer tipo; o tempo começa com o primeiro evento, no momento da criação.

O tempo do primeiro evento não seria apenas no primeiro momento em que o universo existe, mas também, tecnicamente, o primeiro momento em que o criador existe, já que sem o universo o criador é atemporal. [63] O ato de criação é, portanto, simultâneo à origem do universo.

O cenário que esbocei do estado do criador sem o universo requer que o criador seja agente tanto atemporal quanto pessoal. Alguns filósofos, porém, argumentam que tal noção é contraditória. [64] É condição necessária da pessoalidade que um indivíduo seja capaz de lembrar, antecipar, refletir, deliberar, decidir e assim por diante, mas estas são atividades inerentemente temporais. Logo, não pode haver pessoas atemporais.

A fraqueza neste raciocínio é que ele confunde as propriedades comuns das pessoas com propriedades essenciais das pessoas. Os tipos de atividades delineados acima são certamente propriedades comuns de pessoas temporais, o que não implica, porém, que tais propriedades sejam essenciais para a pessoalidade. Indiscutivelmente, o que é necessário e suficiente para a pessoalidade é autoconsciência e livre-arbítrio, e estas não são noções inerentemente temporais. Em seu estudo de atemporalidade divina, John Yates escreve:

O teísta clássico pode conceder imediatamente que conceitos tais como reflexão, memória e antecipação não poderiam se aplicar a um ser atemporal (nem a qualquer ser onisciente), mas isso não é admitir que os principais conceitos de consciência e conhecimento não sejam aplicáveis a tal divindade... não parece haver nenhum elemento temporal essencial em palavras como... 'entender', 'estar ciente,' 'saber' e assim por diante... uma divindade atemporal poderia possuir entendimento, consciência e conhecimento máximos em uma única visão abrangente de si mesmo e da soma da realidade. [65]

Da mesma forma, o criador poderia possuir uma intenção livre e sem mudança da vontade de criar um universo com um começo temporal. Assim, parece que nem a autoconsciência nem a vontade livre implicam temporalidade. Porém, uma vez que estas são plausivelmente suficientes para pessoalidade, não há incoerência na noção de um criador atemporal pessoal do universo.

Todas as objeções acima foram propostas como tentativas de justificar a posição aparentemente incrível de que o universo surgiu incausado a partir do nada. Pessoalmente, no entanto, acho as premissas dessas objeções muito menos perspícuas do que a proposição de que tudo o que começa a existir tem uma causa. É muito mais plausível negar uma dessas premissas do que afirmar o que Hume chamou de "proposição absurda" de que algo possa surgir sem uma causa, [66] de que o universo, neste caso, devesse aparecer sem causa, do nada.

Conclusão

Podemos resumir o nosso argumento da seguinte forma:

1. Tudo que existe tem uma razão para a sua existência, seja na necessidade de sua própria natureza, seja num fundamento externo.

2. Tudo que começa a existir não é necessário em sua existência.

3. Se o universo tem um fundamento externo para sua existência, existe um criador pessoal do universo, que, sem o universo, é atemporal, sem espaço, sem começo, sem mudança, necessário, incausado e tremendamente poderoso.

4. O universo começou a existir.

De (2) e (4), segue que:

5. Logo, o universo não é necessário em sua existência.

De (1) e (5), segue ainda que:

6. Portanto, o universo tem um fundamento externo para sua existência.

De (3) e (6), podemos concluir que:

7. Logo, existe um criador pessoal do universo, que, sem o universo, é atemporal, sem espaço, sem começo, sem mudança, necessário, incausado e tremendamente poderoso.

E isto, como Tomás de Aquino observou laconicamente, [67] é o que todos entendem por Deus.

  • [1]

    Metafísica A. 2. 982b10-15.

  • [2]

    Derek Parfit, "Why Anything? Why This?", London Review of Books 20/2 (22 de janeiro de 1998), p. 24.

  • [3]

    Gottfried Wilhelm Leibniz, "The Principles of Nature and of Grace, Founded on Reason”, em The Monadology and Other Philosophical Writings, trad. Robert Latta (Londres: Oxford University Press, 1951), p. 415; idem, "The Monadology”, em Monadology and Other Philosophical Writings, pp. 237-39.

  • [4]

    David Hume, Dialogues concerning Natural Religion, ed. com introdução de Norman Kemp Smith, Library of Liberal Arts (Indianápolis: Bobbs-Merrill, 1947), pt. IX, p. 190.

  • [5]

    Bertrand Russell e F. C. Copleston, "The Existence of God”, em The Existence of God, ed. com introdução de John Hick, Problems of Philosophy Series (Nova Iorque: Macmillan, 1964), p. 175.

  • [6]

    A. Einstein, "Cosmological Considerations on the General Theory of Relativity”, em The Principle of relativity, de A. Einstein et al., com notas de A. Sommerfeld, trad. W. Perrett e J. B. Jefferey (ed. reimpr.: Nova Iorque: Dover Publications, 1952), pp. 177-88.

  • [7]

    A. Friedman, "Über die Krümmung des Raumes”, Zeitschrift für Physik 10 (1922): 377-86; G. Lemaître, "Un univers homogène de masse constante et de rayon croissant, rendant compte de la vitesse radiale des nébuleuses extragalactiques”, Annales de la Société scientifique de Bruxelles 47 (1927): 49-59.

  • [8]

    Gregory L. Naber, Spacetime and Singularities: an Introduction (Cambridge: Cambridge University Press, 1988), pp. 126-27.

  • [9]

    E. Hubble, "A Relation between Distance and Radial Velocity among Extra-galactic Nebulae”, Proceedings of the National Academy of Sciences 15 (1929): 168-73.

  • [10]

    John A. Wheeler, "Beyond the Hole”, em Some Strangeness in the Proportion, ed. Harry Woolf (Reading, Mass.: Addison-Wesley, 1980), p. 354.

  • [11]

    P. C. W. Davies, "Spacetime Singularities in Cosmology”, em The Study of Time III, ed. J. T. Fraser (Berlin: Springer Verlag).

  • [12]

    Como Gott, Gunn, Schramm, e Tinsley escrevem:

    "o universo começou a partir de um estado de densidade infinita aproximadamente um tempo de Hubble atrás. O espaço e tempo foram criados naquele evento, assim como toda a matéria no universo. Não faz sentido perguntar o que aconteceu antes do Big Bang; é como perguntar o que existe ao norte do Pólo Norte. Da mesma forma, não é sensato perguntar onde o Big Bang ocorreu. O ponto-universo não era um objeto isolado no espaço; era o universo inteiro e, assim, a única resposta pode ser que o Big Bang aconteceu em todos os lugares" (J. Richard Gott III, James E. Gunn, David N. Schramm e Beatrice M. Tinsley, "Will the Universe Expand Forever?", Scientific American [março de 1976], p. 65).

  • [13]

    John Barrow e Frank Tipler, The Anthropic Cosmological Principle (Oxford: Clarendon Press, 1986), p. 442.

  • [14]

    Para essa análise, ver John Hick, "God as Necessary Being”, Journal of Philosophy 57 (1960): 733-34.

  • [15]

    Arthur Eddington, The Expanding Universe (Nova Iorque: Macmillan, 1933), p. 124.

  • [16]

    Ibid., p. 178.

  • [17]

    Hubert Reeves, Jean Audouze, William A. Fowler e David N. Schramm, "On the Origin of Light Elements”, Astrophysical Journal 179 (1973): 909-30.

  • [18]

    Fred Hoyle, Astronomy Today (Londres: Heinemann, 1975), p. 165.

  • [19]

    Fred Hoyle, Astronomy and Cosmology: A Modern Course (São Francisco: W. H. Freeman, 1975), p. 658.

  • [20]

    H. Bondi and T. Gold, "The Steady State Theory of the Expanding Universe”, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society 108 (1948): 252-70; F. Hoyle, "A New Model for the Expanding Universe”, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society 108 (1948): 372-82.

  • [21]

    Como Jaki indica, Hoyle e seus colegas foram inspirados por "motivações abertamente antiteológicas, ou melhor, anticristãs" (L. Stanley Jaki, Science and Creation [Edimburgo: Scottish Academic Press, 1974]), p. 347. Martin Rees lembra o compromisso obstinado de seu mentor Dennis Sciama com o modelo do estado estacionário: "Para ele, como para os seus inventores, tinha um apelo filosófico profundo — o universo existia, de eternidade a eternidade, em um estado exclusivamente autoconsistente. Quando surgiram indícios conflitantes, Sciama, portanto, procurou uma brecha (até aparentemente improvável), assim como um advogado de defesa se agarra a qualquer argumento para refutar a acusação” (Martin Rees, Before the Beginning, com prefácio de Stephen Hawking [Reading, Mass.: Addison-Wesley, 1997], p. 41). A frase "de eternidade a eternidade" é a descrição que o salmista faz de Deus (Sl 90.2). Rees faz uma boa descrição das descobertas que conduzem ao desaparecimento do modelo do estado estacionário.

  • [22]

    Ivan R. King, The Universe Unfolding (São Francisco: W. H. Freeman, 1976), p. 462.

  • [23]

    Ver, por exemplo, E. M. Lifschitz and I. M Khalatnikov, "Investigations in Relativist Cosmology”, Advances in Physics 12 (1963): 207.

  • [24]

    Como é evidente a partir dos sentimentos expressos por John Gribbin:

    "O maior problema com a teoria do Big Bang para a origem do universo é filosófico, talvez até mesmo teológico: o que havia antes da explosão? Este problema sozinho foi suficiente para dar um grande impulso inicial à teoria do estado estacionário; porém, com esta teoria agora infelizmente em conflito com as observações, a melhor maneira de evitar a dificuldade inicial é proposta por um modelo em que o universo se expande a partir de uma singularidade, regride de volta e repete o ciclo indefinidamente" (John Gribbin, "Oscillating Universe Bounces Back”, Nature 259 [1976]: 15).

    Os cientistas não raramente expressam mal a dificuldade colocada pelo começo do universo, quanto ao que existia antes do Big Bang (o que convida a resposta fácil de que não houve "antes"). A verdadeira pergunta diz respeito às condições causais deste evento, por que o universo existe em vez de nada.

  • [25]

    R. Penrose, "Gravitational Collapse and Space-Time Singularities”, Physical Review Letters 14 (1965): 57-59; S. W. Hawking e R. Penrose, em The Large-Scale Structure of Space-Time, ed. S. W. Hawking e G. F. R. Ellis (Cambridge: Cambridge University Press, 1973), p. 266.

  • [26]

    Stephen Hawking e Roger Penrose, The Nature of Space and Time, The Isaac Newton Institute Series of Lectures (Princeton, N. J.: Princeton University Press, 1996), p. 20.

  • [27]

    Comunicado de imprensa da Associated Press, 9 de janeiro de 1998.

  • [28]

    I. D. Novikov e Ya. B. Zeldovich, "Physical Processes near Cosmological Singularities”, Annual Review of Astronomy and Astrophysics 11 (1973): pp. 401-02; Joseph Silk, The Big Bang, 2. ed. (São Francisco: W. H. Freeman, 1989), pp. 311-12..

  • [29]

    Olhando para trás, o cosmólogo quântico Christopher Isham reflete:

    "Talvez o melhor argumento a favor da tese de que o Big Bang apoia o teísmo é o desconforto óbvio com o qual ele é recebido por alguns físicos ateus. Às vezes isso levou a ideias científicas, como a criação contínua ou o universo oscilante, sendo avançadas com uma tenacidade que excede em tanto o seu valor intrínseco que só se pode suspeitar da operação de forças psicológicas que são muito mais profundas do que o desejo acadêmico usual de um teórico para amparar sua teoria" (Christopher Isham, "Creation of the Universe as a Quantum Process”, em Physics, Philosophy and Theology: a Common quest for Understanding, ed. R. J. Russell, W. R. Stoeger e G. V. Coyne [Vaticano: Observatório do Vaticano, 1988], p. 378).

    Pode-se recordar, por exemplo, do saudoso Carl Sagan, em sua série de televisão Cosmos, propondo o modelo oscilante e lendo nas escrituras hindus sobre ciclos de anos bramas a fim de ilustrar o modelo, mas com quase nenhuma indicação a seus telespectadores sobre as dificuldades que este modelo enfrenta.

  • [30]

    Edward Tryon, "Is the Universe a Vacuum Fluctuation?", Nature 246 (1973): 396-97.

  • [31]

    Ver Isham, "Creation of the Universe”, pp. 385-87.

  • [32]

    Christopher Isham, "Space, Time, and Quantum Cosmology”, artigo apresentado na conferência "God, Time, and Modern Physics”, março de 1990; Christopher Isham, "Quantum Cosmology and the Origin of the Universe”, palestra apresentada na conferência "Cosmos and Creation”, Universidade de Cambridge, 14 de julho de 1994.

  • [33]

    Ver, por exemplo, A. D. Linde, "The Inflationary Universe”, Reports on Progress in Physics 47 (1984): 925-86; idem, "Chaotic Inflation”, Physics Letters 1298 (1983): 177-81. Para uma crítica recente aos cenários inflacionários, incluindo o de Linde, ver John Earman e Jesus Mosterin, "A Critical Look at Inflationary Cosmology”, Philosophy of Science 66 (1999): 1-49.

  • [34]

    Linde, "Inflationary Universe”, p. 976.

  • [35]

    A. Borde e A. Vilenkin, "Eternal Inflation and the Initial Singularity”, Physical Review Letters 72 (1994): 3305, 3307.

  • [36]

    Andrei Linde, Dmitri Linde e Arthur Mezhlumian, "From the Big Bang Theory to the Theory of a Stationary Universe”, Physical Review D 49 (1994): 1783-1826.

  • [37]

    Borde e Vilenkin, "Eternal Inflation”, p. 3307.

  • [38]

    A. Vilenkin, "Birth of Inflationary Universes”, Physical Review D 27 (1983): 2854. See J. Hartle e S. Hawking, "Wave Function of the Universe”, Physical Review D 28 (1983): 2960-75; A. Vilenkin, "Creation of the Universe from Nothing”, Physical Letters 117B (1982): 25-28.

  • [39]

    Stephen Hawking, A Brief History of Time (Nova Iorque: Bantam Books, 1988), p. 9.

  • [40]

    Ibid., p. 46.

  • [41]

    Ibid., p. 136.

  • [42]

    Ibid., pp. 140-141.

  • [43]

    John D. Barrow, Theories of Everything (Oxford: Clarendon Press, 1991), p. 68.

  • [44]

    Ibid., pp. 67-68.

  • [45]

    Hartle e Hawking, "Wave Function of the Universe”, p. 2961; Hawking e Penrose, Nature of Space and Time, p. 85.

  • [46]

    Ver meu artigo "Hartle-Hawking Cosmology and Atheism”, Analysis 57 (1997): 291-95. Com respeito à determinação da função de onda do universo, DeWitt diz: "Aqui o físico deve brincar de Deus" (B. DeWitt, "Quantum Gravity”, Scientific American 249 [1983]: 120).

  • [47]

    Hawking, Brief History of Time, p. 136.

  • [48]

    Barrow, Theories of Everything, pp. 66-67.

  • [49]

    Hawking, Brief History of Time, pp. 138-39.

  • [50]

    Hawking e Penrose, Nature of Space and Time, p. 121.

  • [51]

    Ibid., pp. 3-4. Ver seu comentário, "Eu... sou positivista que acredita que as teorias físicas são apenas modelos matemáticos que construímos, não fazendo sentido perguntar se eles correspondem à realidade, mas apenas se preveem observações" (Stephen Hawking, "The Objections of an Unashamed Positivist”, em The Large, the Small, and the Human, de Roger Penrose [Cambridge: Cambridge University Press, 1997], p. 169).

  • [52]

    Hawking e Penrose, Nature of Space and Time, p. 121; cf. pp. 4, 53-55.

  • [53]

    Ibid., pp. 53-55.

  • [54]

    Como indicado por Christopher Isham, "Quantum Theories of the Creation of the Universe”, em Quantum Cosmology and the Laws of Nature, ed. R. J. Russell, N. Murphey e C. J. Isham (Vaticano: Observatório do Vaticano, 1993), p. 56.

  • [55]

    Paul Davies, "The Birth of the Cosmos”, em God, Cosmos, Nature and Creativity, ed. Jill Gready (Edimburgo: Scottish Academic Press, 1995), pp. 8-9.

  • [56]

    Bernulf Kanitscheider, "Does Physical Cosmology Transcend the Limits of Naturalistic Reasoning?", em Studies on Mario Bunge's "Treatise”, ed. P. Weingartner e G. J. W. Doen (Amsterdam: Rodopi, 1990), p. 344.

  • [57]

    Richard Swinburne, The Existence of God, ed. rev. (Oxford: Clarendon Press, 1991), pp. 32-48.

  • [58]

    John Post, Metaphysics: a Contemporary Introduction (Nova Iorque: Paragon House, 1991), p. 85.

  • [59]

    Ibid., p. 87.

  • [60]

    Quentin Smith, "The Uncaused Beginning of the Universe”, em Theism, Atheism, and Big Bang Cosmology, de William Lane Craig e Quentin Smith (Oxford: Clarendon Press, 1993), p. 120.

  • [61]

    Adolf Grünbaum, "The Pseudo-Problem of Creation in Physical Cosmology”, Philosophy of Science 56 (1989): 373-94. Para uma resposta, ver William Lane Craig, "The Origin and Creation of the Universe: A Reply to Adolf Grünbaum”, British Journal for the Philosophy of Science 43 (1992): 233-40.

  • [62]

    Adolf Grünbaum, "Creation as a Pseudo-Explanation in Current Physical Cosmology”, Erkenntnis 35 (1991): 233-54. Para uma resposta, ver William Lane Craig, "Prof. Grünbaum on Creation”, Erkenntnis 40 (1994): 325-41.

  • [63]

    Brian Leftow descreve isso bem quando escreve:

    "Se Deus existisse no tempo assim que o tempo veio a existir e o tempo teve um primeiro momento, Deus teria um primeiro momento de existência: haveria um momento antes do qual Ele não existiria, porque não havia nenhum 'antes' daquele momento... No entanto, mesmo se Ele... tivesse um primeiro momento de existência, poder-se-ia ainda chamar a existência de Deus ilimitada, caso fosse entendido que Ele teria existido mesmo se o tempo não existisse. Pois, desde que isto seja verdade, não podemos inferir a partir do fato de que Deus teve um primeiro momento de existência que Deus veio à existência ou não teria existido, exceto se o tempo existisse" (Brian Leftow, Time and Eternity, Cornell Studies in Philosophy of Religion [Ithaca, N.Y.: Cornell University Press, 1991], p. 269; cf. p. 201).

    Senor cunhou tal modelo de eternidade divina como "temporalismo acidental" (Thomas D. Senor, "Divine Temporality and Creation ex nihilo”, Faith and Philosophy 10 [1993]: 88). Ver mais em William Lane Craig, "Timelessness and Creation”, Australasian Journal of Philosophy 74 (1996): 646-56.

  • [64]

    Ver discussão e referências em William Lane Craig, "Divine Timelessness and Personhood”, International Journal for Philosophy of Religion 43 (1998): 109-24.

  • [65]

    John C. Yates, The Timelessness of God (Lanham, Md.: University

  • [66]

    David Hume para John Stewart, fevereiro de 1754, em The Letters of David Hume, 2 vols., ed. J. Y. T. Greig (Oxford: Clarendon Press, 1932), 1: 187.

  • [67]

    Tomás de Aquino, Summa theologiae 1a.2.3.