English Site
back
5 / 06

#215 A Resposta e Perspectiva de Lawrence Krauss

October 28, 2014
Q

Hey Dr. Craig. Dr. Krauss escreveu um pós-mortem do debate dele com você na semana passada. Nele, ele levanta uma série de objeções ao seu método e seus argumentos. Eu queria saber se você poderia responder a ele. Eis a nota:

Lawrence Krauss vs William Lane Craig por Lawrence Krauss

Às vezes me surpreende, embora não deva, como devotos religiosos sentem a necessidade de reforçar regularmente suas próprias convicções em grupos de indivíduos que pensam da mesma forma. Acho que este é o objetivo dos serviços regulares da igreja os domingos, por exemplo, para reforçar a comunidade da crença durante o resto da semana em que o mundo real pode não mostrar nenhuma evidência de Deus, bondade, justiça, ou propósito.

No entanto, eu não estava preparado para a campanha publicitária de auto-felicitação que vi jorrando na internet e nem ter recebido e-mails, incluindo um tipicamente hipócrita de Wiliam Lane Craig para seus seguidores a respeito de um debate que tive com ele na Carolina do Norte, na semana passada. Realizar o debate, em primeiro lugar, foi algo que quebrou minhas regras normais. Como eu disse durante o debate, eu prefiro a conversa civil e o discurso como uma forma de iluminar o conhecimento e a realidade. Eu vou quebrar outra regra e escrever esta nota estilo blog sobre minhas próprias perspectivas, com a esperança de que possa circular e ir contra alguns dos disparates que têm se propagado nos blogs fundamentalistas e religiosos dos últimos tempos. Talvez Craig irá postar isso em seu blog e distribui-lo também.

Acredito que, se errei, foi em esforço de considerar as sensibilidades dos sorridentes 1200 rostos jovens na platéia, que sinceramente vieram principalmente para ouvir Craig, e a quem eu decidi mostrar respeito indevido. Como frisei na época, eu não vim para debater a existência de Deus, mas, sim, para debater sobre evidências da existência de Deus. Eu também queria demonstrar a necessidade de nuance, explicar como esses problemas são muito mais complexos do que Craig, em sua visão simplista do mundo, acha que são. Por esta razão, como eu percebi que eu não iria mudar muitas mentes, decidi também tentar ilustrar para esses jovens a natureza da ciência, com a esperança de que o que eles vissem pudesse levá-los a pensar. Infelizmente qualquer esforço que fiz para mostrar nuance e realmente explicar os fatos foi sistematicamente distorcido no esforço contínuo de Craig em demonstrar como silogismos do ensino médio aparentemente demonstram evidência definitiva para Deus.

Deixe-me agora comentar, sem luvas, as distorções insinceras, simplificações e puras mentiras que considero que Craig jorrou. Fiquei muito decepcionado, porque eu tinha ouvido falar que Craig era mais um filósofo do que um pregador, mas isso não foi evidente na outra noite.

Craig começou com uma tentativa de demonstrar suas credenciais científicas e matemáticas, escrevendo uma equação sem sentido neste primeiro slide, que ele então argumentou que seria a base para a sua "evidência". A equação, em palavras, disse que se a probabilidade, tendo em conta os dados, fosse superior a 50% para a existência de Deus, então isso era uma evidência. Ele até apresentou isso como um argumento pseudo-Baysiano.

O problema é que o uso de probabilidades matemáticas desta forma SÓ faz sentido se você tem uma medida de probabilidade bem definida e se pode-se verificar que as conclusões não são sensíveis a seus posteriores. Ele não explicou nada disso, nem acho que ele entendeu isso quando eu tentei explicar a ele. Pelo resto da noite, Craig simplesmente começou a jorrar sua suposta evidência e depois passou a afirmar que cada uma lhe dava uma crença maior do que 50% em Deus. Todo o propósito do absurdo matemático no início era dar algum tipo de credibilidade científica a uma discussão que não era nada disso. Eram fumaça e espelhos hipócritas. (Além disso, como eu tentei explicar, em experimentos científicos modernos, apenas encontrar um resultado inesperado com (vamos dizer) apenas 20% de chance de estar errado, não é suficiente para estabelecer evidências. É preciso ir a níveis mais elevados de confiança, especialmente se a afirmação feita está em desacordo com todas as outras evidências. É difícil pensar em uma afirmação maior do que evidência de um ser divino que cria o universo sem propósito aparente, um universo dominado pela matéria e energia escura e com centenas de bilhões de galáxias, permite que evolua intocado por bilhões de anos e que depois de aproximadamente um milhão de anos após o começo da evolução humana, este ser decide intervir em um momento antes de que o Youtube ou qualquer outra ferramenta objetiva de gravação e arquivamento estivesse disponível.)

Em seguida, se alguém vai enquadrar o argumento cientificamente, como argumentei, é essencial quando se discute a evidência empírica, que mais tarde Craig fez um grande esforço para negar, deve-se salientar que em ciência quando se está tentando explicar e predizer dados, tenta-se explorar todas as possíveis causas físicas para algum efeito antes de recorrer ao sobrenatural. Felizmente é precisamente este progresso em nossa filosofia natural que acabou com tais atrocidades religiosas como a queima de bruxas. Em cada caso, o silogismo real a que se chegava era:

1. Ou o Craig não entende como algo poderia acontecer, ou em vez disso acredita que eventos aconteceram que confirmaram seu sistema de crenças pré-existentes.

2. Na ausência de compreender as causas físicas ou explorar alternativas, isto implica evidência para a existência de Deus.

3. Portanto, há evidências de que Deus existe.

Isto é o que eu chamo de argumento do "Deus das Lacunas” e eu continuo a ver, depois de alguma reflexão, a maioria das afirmações de Craig como caindo nesta conhecida armadilha teológica.

Deixe-me trabalhar de trás pra frente através de seus cinco "argumentos":

1. A ressurreição de Jesus, e o fato de que os seguidores de Jesus estavam dispostos a morrer por suas crenças fornece evidências de Deus: Eu admito que essa afirmação é tão desleixada e fátua que, em um esforço para demonstrar alguma margem de respeito por Craig, eu tentei evitá-la por tanto tempo quanto eu poderia. Craig argumenta que a maioria dos estudiosos do Novo Testamento acredita na ressurreição. Mesmo se isso fosse verdade, embora Craig não tenha fornecido nenhuma evidência, isso, claro, é simplesmente a prova de que os estudiosos do Novo Testamento têm uma fé a priori que os guia. É como afirmar que a maioria dos estudiosos islâmicos podem acreditar que Maomé realmente subiu ao céu em um cavalo. Em primeiro lugar, não há relatos de testemunhas definitivas destes eventos e, no caso da ressurreição afirmada, as escrituras foram escritas décadas após o evento alegado, e os diferentes relatos não são nem consistentes. Não somente há teólogos sérios que duvidam da ressurreição, mas há historiadores que duvidam da existência histórica do próprio Jesus. Seja qual for o ponto de vista de alguém a este respeito, no entanto, deve-se perguntar a si mesmo algo simples: é mais provável que todas as leis físicas conhecidas fossem suspensas para que Deus pudesse demonstrar a divindade [e além disso, demonstrar isso de uma forma banal que recriou mitos de ressurreição anteriores, até no número de dias antes de ser ressuscitado dentre os mortos, de vários cultos religiosos antigos que agora já não existem ] ou é mais provável que aqueles que estavam pregando para converter fabricaram um mito de ressurreição a fim de convencer aqueles a quem eles estavam pregando da divindade de Cristo? Por fim, a alegação notável, e completamente banal que o fato de os cristãos estarem dispostos a morrer por suas crenças demonstra a validade dessas crenças seria risível, se não fosse tão lamentável. Especialmente, como indiquei durante o evento, tendo em vista o fato de que as pessoas estavam recentemente dispostas a chocar aviões contra arranha-céus por causa de suas crenças em uma estrutura religiosa, que eu sei que Craig tem repudiado publicamente. Ao longo da história as pessoas se dispuseram a morrer por suas crenças e é muitas vezes as crenças pelas quais se está disposto a morrer que são mais suspeitas. Será que os soldados romanos acreditavam em Rômulo e Remo? Será que os guerreiros Vikings (viquingues) acreditavam em Thor? Será que soldados nazistas acreditavam na superioridade da raça ariana? Eu achei e continuo a achar a declaração de Craig não só fácil, mas nem mesmo digna de um debatedor de ensino médio, uma reivindicação ofensiva.

2. Ajuste Fino: A aparência de design é um dos aspectos mais sutis e confusos do nosso Universo. Charles Darwin, com seu livro A Origem das Espécies, de forma brilhante e magistral explicou como o mundo moderno, com sua notável diversidade de formas de vida pode ter a aparência de design, sem qualquer design. Essa foi um das maiores e mais notáveis descobertas científicas de todos os tempos e é a base da biologia moderna e da medicina, levando a inúmeras outras descobertas que continuaram a salvar inúmeras vidas. Craig está tão ciente de sua leitura superficial da cosmologia, dos problemas do ajuste fino na cosmologia, que ele então argumenta imediatamente que exige a existência de vida inteligente, implicando propósito para o universo. Não somente ele cai na mesma falácia que aqueles que antes de Darwin nos iluminaram a respeito, ele também continuamente deturpa a natureza de qualquer ajuste fino aparente de quantidades que atualmente não podemos entender a partir de primeiros princípios. Tentei explicar-lhe que a entropia do universo atual não é finamente ajustada, e a entropia inicial não necessita ser ajustada, porque a inflação fornece um mecanismo para acabar com as condições iniciais e produzir grandes quantidades de entropia sem Deus. Tentei explicar-lhe que a constante cosmológica, que é talvez o parâmetro de ajuste fino mais confuso que conhecemos no Universo é ajustado finamente no sentido matemático, em comparação com o valor ingênuo que poderíamos esperar com base em nossa compreensão atual da teoria física. Embora seja também verdade que, se fosse muito maior, as galáxias não se formariam e, portanto, as formas de vida que sobrevivem com energia solar provavelmente não se formariam com qualquer abundância significativa no universo, eu também expliquei que, se a constante cosmológica fosse de fato zero, que é o que a maioria dos teóricos haviam previsto com antecedência, as condições de vida seriam mais favoráveis para o desenvolvimento e persistência da vida no cosmos. Finalmente, mesmo que alguns parâmetros no nosso modelo atual incompleto do universo pareçam afinados para que a vida humana seja possível, (a) não temos ideia se outros valores permitiriam que outras formas de vida inteligente não-humana evoluíssem, já que nós não temos nenhuma compreensão do locus de todas as formas possíveis de vida inteligente. E, além disso, assim como as abelhas são finamente ajustadas para ver as cores das flores que podem polinizar ao elas seguirem seu rumo, não indica design, mas a seleção natural, no momento não temos ideia se as condições do nosso universo representam um tipo de seleção natural cósmica. Se existem muitos universos, por exemplo, como pode ser o caso e como se prevê em uma variedade de modelos, nenhum dos quais foram desenvolvidos para tratar de questões sobre Deus, nós certamente esperaríamos encontrar-nos apenas naqueles em que poderíamos viver. Todas estas são questões sutis e interessantes que merecem discussão por intelectos experientes e honestos. Achei que faltou em Craig ambas as qualidades durante sua discussão sobre esta questão.

3. Moralidade absoluta: Craig argumentou que a existência de moralidade absoluta dá evidência de Deus. Mais uma vez, isto é simplista. Na verdade, em um encontro que tivemos em meu Projeto Origens de filósofos e neurocientistas ilustres, debatemos as questões sutis da moralidade e evolução humana, as variantes possíveis da moralidade e uma série de outras questões sem nunca ter que recorrer a Deus. Como eu tentei explicar para Craig, parafraseando Steven Pinker, se houvesse um Deus, Ele teria a opção de determinar o que é certo e errado ou não. Mas, neste caso, se Deus tivesse determinado que estuprar e matar crianças de 2 anos fosse moralmente aceitável, seria esse o caso? Se não, como a razão e a experiência sugerem, então Deus realmente tem de recorrer a outras considerações, bondade, compaixão, etc (exceto para o Deus do Antigo Testamento!), sobre as quais basear as decisões de Deus. Mas se esse é o caso, por que não dispensar o homem do meio? Por último, se há evidência de que Deus provê a moralidade absoluta, está faltando no mundo de nossa experiência, onde diferentes grupos religiosos, os quais todos reivindicam inspiração divina, têm pontos de vista morais incompatíveis, muitas vezes levando a atos horrendos e violentos contra mulheres e crianças, por exemplo. De fato, o Antigo Testamento está cheio de tais atos.

4. Contingência: Francamente o argumento de que os seres humanos ou o universo não têm que existir, mas existem fornecendo evidências para Deus é algo que considero infundado. Por isso não vou dedicar mais palavras aqui a este assunto. Muitos fenômenos 'contingentes' ocorrem por causas naturais, de terremotos a flocos de neve e eu não tenho que invocar a vontade de Deus para explicá-los. O que se aplica a terremotos e flocos de neve se aplica ao Universo. Só porque eu ainda não posso explicar a origem do Universo isso não implica a existência de Deus [...] de novo o Deus das Lacunas.

5. Nosso universo teve um começo, portanto, Deus o deve ter criado: na verdade a questão do começo do Universo é a única questão verdadeiramente interessante que vale a pena discutir aqui. Uma série de argumentos científicos precisam ser discutidos aqui e não há nenhuma dúvida que a questão do ovo e da galinha é irritante para os cosmólogos e os teólogos. No entanto, deixe-me colocar alguns pontos aqui: (1) Todas as coisas que começam podem ter uma causa, mesmo que a causa seja bastante obscura e sem propósito. No entanto, o que é importante notar é que todo efeito físico conhecido, cuja causa entendemos, tem uma causa física. Não há motivo, portanto, para assumir que o mesmo não será verdade no nosso próprio universo. (2) Não há argumentos de que o nosso universo precisa ser único, e não derivado, de algo pré-existente, ou mesmo eterno. Na verdade, o Universo ecpirótico promovido por Turok e Steinhardt, não que eu não ache convincente, argumenta por períodos potencialmente eternos de expansão e contração. Craig não entende a física. (2) Eu continuei a tentar explicar que a gravidade quântica pode implicar que o próprio espaço e o tempo foram criados no momento do Big Bang. Esta é uma declaração bastante notável, se for verdadeira. Mas se for verdadeira, na ausência do próprio tempo, não é claro como se pode atribuir argumentos baseados na causalidade.

Este último ponto ilustra o que eu tanto tentei explicar. Razão humana clássica, definida em termos de noções de senso comum, seguida de nossa própria experiência míope da realidade, não é suficiente para discernir o funcionamento do Universo. Se o tempo começa no big bang, então teremos de voltar a explorar o que se entende por causalidade e o fato de que elétrons podem estar em dois lugares ao mesmo tempo, fazendo duas coisas diferentes ao mesmo tempo quando nós não os estamos medindo seja completamente absurdo, mas é verdade, tem sido necessário que repensemos o que entendemos por partículas. Argumentos semelhantes, a propósito, implicam que muitas vezes precisamos repensar o que realmente queremos dizer com "nada", desde espaço vazio à ausência do próprio espaço.

O que eu esperava que eu pudesse transmitir aos verdadeiros intelectos de mente aberta na platéia, dos quais, naturalmente, Craig não era um, era que o esforço incrível para entender como o universo funciona revela maravilhas muito mais notáveis do que os apresentados pelos mitos da idade de bronze, desenvolvidos antes que tivéssemos qualquer entendimento claro de como o universo funciona. Simplesmente argumentar que não se entende os resultados, ou que não gosta dos resultados e, portanto, deve-se recorrer a explicações sobrenaturais, que foi o ponto crucial da repetição monótona de Craig de seus silogismos, é de fato intelectualmente preguiçoso, como eu disse na hora.

Fiz um grande esforço para descrever a nossa compreensão atual do Universo e suas implicações para a compreensão de como pode ser possível que algo venha do nada, ou seja, não-existência, no meu novo livro, que será lançado em janeiro de 2012.

http://scienceblogs.com/pharyngula/2011/04/lawrence_krauss_vs_william_lan.php

Graça,

Kiefer

United States

Dr. Craig responde


A

O Dr. Krauss estava, evidentemente, sofrendo depois do nosso debate sobre “Is There Evidence for God?” [Existe evidência para Deus?] no North Carolina State! Eu tenho postergado uma resposta aos seus comentários, de modo que cabeças frias possam prevalecer.

Quando Existe Evidência para Deus?

Percebi desde o início que a pergunta proposta para debate não era comum, pois ela não perguntava se Deus existe, mas apenas se há evidências para [a existência de] Deus. Então, o que significa dizer que não há evidência para a hipótese de que "Deus existe"? A teoria da probabilidade define isso como dizendo que a probabilidade da existência de Deus é maior dado certos fatos do que teria sido sem eles (Pr (D| E & I)> Pr (D|I)). Longe de ser "sem sentido", esta interpretação da questão em debate deve ser não-controversa. Além disso, não pressupõe um modelo de probabilidade de freqüência, como o Dr. Krauss parece supor.

O Dr. Krauss parece pensar que eu estava discutindo com base no que precede que a probabilidade da existência de Deus é maior do que 50% (Pr (D|E & I)> 0.5). Mas eu disse explicitamente na minha declaração de abertura que eu não estaria discutindo essa probabilidade. Pois isso implicaria avaliar a chamada probabilidade prévia Pr (D|I) da existência de Deus dada a informação de fundo apenas, assim tornando o debate em um debate sobre a existência de Deus, o que não era o tema. O Dr. Krauss parece pensar que a probabilidade prévia da existência de Deus é muito baixa. Acontece que eu discordo; mas essa avaliação era irrelevante para o nosso tópico de debate naquela noite.

O Dr. Krauss caricatura meus argumentos como raciocínio "Deus das lacunas". Mas, como expliquei, qualquer evidência científica que apresentei não era para Deus, mas para as declarações religiosamente neutras como "O universo começou a existir" ou "O ajuste fino não é devido à necessidade física ou acaso." Estas são, obviamente, declarações para as quais a evidência científica é relevante. Então, elas podem servir como premissas em um argumento filosófico para uma conclusão que tem significado religioso. Não há nenhuma lacuna aqui querendo ser preenchida. Além disso, como o segundo destes dois exemplos ilustra, uma defesa dessas premissas obviamente envolve a exploração de alternativas. Em vez de interpretar mal os meus argumentos, o Dr. Krauss precisa se envolver diretamente com as evidências que apresentei para estas duas premissas.

A existência de seres contingentes

É angustiante para mim ver quão completamente um físico inteligente compreendeu mal esse argumento clássico a favor da existência de Deus. Se nem mesmo ele pode compreendê-lo, que esperança há para alunos de graduação? Podemos apenas esperar que eles tenham achado o argumento em um curso de Introdução à Filosofia, em algum momento, e por isso tenham alguma ideia do que se trata. Obviamente, não se pode explicar por que há quaisquer seres contingentes apelando, como o Dr. Krauss faria, para um ser contingente além do universo.

O Começo do Universo

O Dr. Krauss apresenta, tardiamente, três objeções a esse argumento que ele não levantou durante o debate: (1) Cada evento físico tem uma causa física. Note que esta não é uma objeção a nenhuma das duas premissas na formulação dedutiva do argumento que eu dei. Portanto, ele não faz nada para derrotar ou invalidar a conclusão de que o universo tem uma causa. Uma vez que tenhamos chegado a essa conclusão, a pergunta então que surge é se esta causa pode ser física. No modelo padrão do Big Bang não pode ser uma causa física, já que o espaço-tempo começa em uma singularidade cósmica antes do qual não havia nada, ou seja, nem uma coisa. Isso nos daria uma boa razão para pensar que nem todo efeito físico deve ter uma causa física. Argumentei que, até mesmo em modelos cosmogônicos não-padrão viáveis, a implicação do teorema Borde-Guth-Vilenkin é que o universo e até mesmo o multiverso, se é que existe tal coisa, teve um começo absoluto. Portanto, temos boas razões para pensar que a causa não é física.

(2) O modelo ecpirótico cíclico de Paul Steinhardt e Neil Turock (que nem Krauss aceita!) irá evitar o começo do universo. O modelo ecpirótico cíclico é precisamente uma dessas cosmogonias de maiores dimensões "brana" abrangidos pelo teorema Borde-Guth-Vilenkin. [1] Portanto, ele não pode ser eterno no passado. (E eu não entendo a física?)

(3) Em alguns modelos de gravidade quântica, o espaço e o tempo são criados no momento do próprio Big Bang. Exatamente! É por isso que os modelos semi-clássicos como a proposta "sem limite" de Hartle-Hawking ou o modelo "tunelamento quântico" de Vilenkin apoiam a premissa de que o universo começou a existir. O que não fazem e não podem fazer é explicar como a existência pode vir da não-existência. O Dr. Krauss promete nos dizer em janeiro de 2012. Eu espero ansiosamente.

O Dr. Krauss acrescenta que se o tempo começa no Big Bang, então pode ser que precisemos repensar o que queremos dizer com causalidade em si. Eu suspeito que ele pensa assim porque ele está trabalhando com algumas análises de causalidade fisicamente reducionistas. Ele está, sem dúvida, correto que tais análises serão expostas como insustentáveis quando chamados para explicar a origem do universo. [2] Mas, não importa quão desafiante o começo do universo possa ser para tais análises reducionistas, isso não fará nada para derrubar o princípio metafísico que da nada, nada vem. Já que eu defendo que o universo surgiu através de um exercício de um agente de causalidade simultâneo com o começo do universo, o Dr. Krauss teria que mostrar que desafios semelhantes surgiriam para o minha visão.

O Ajuste Fino do Universo

Prof Krauss agora parece negar (não apenas tenta explicar) o ajuste fino do universo. Isso é muito surpreendente, pois cientistas que normalmente são sóbrios não estariam migrando para hipóteses dos Muitos Mundos para explicar o ajuste fino se não houvesse realmente nada clamando por uma explicação. No próprio debate, eu dei como exemplos de ajuste fino a força subatômica fraca, a constante cosmológica e a condição de baixa entropia do universo primordial.

O Dr. Krauss iria recorrer ou apelar a cenários inflacionários para explicar a condição inicial de baixa entropia. Mas, como Roger Penrose tem insistido, tal explicação é "equivocada", já que a segunda lei da termodinâmica requer que qualquer que fosse a condição existente antes da inflação em um cenário de universo único terá uma entropia mais baixa do que a fase pós inflação. [3] E em um cenário de multiverso é preciso lidar com a "invasão dos cérebros de Boltzmann," uma objeção que eu pressionei no debate e em que o Dr. Krauss estava estranhamente e visivelmente silencioso.

Quanto à constante cosmológica, que o Prof. Krauss deixa de apreciar, é aquela constante que apresenta o que Robin Collins chama ajuste fino "unilateral", o qual é dizer, que embora possa ser reduzida sem prejuízo à vida, não pode ser muito aumentada sem catástrofe. É requintadamente ajustada para agentes interativos inteligentes em que a sua gama que permite a vida é incomensuravelmente pequena quando se compara com a sua gama de valores possíveis.

O Dr. Krauss não respondeu ao exemplo da força fraca. Estes três exemplos são apenas algumas das muitas constantes e quantidades que devem ser ajustadas se o universo deve permitir a vida interativa inteligente.

O Dr. Krauss também nega que o universo seja ajustado para permitir a vida, porque "não temos ideia se outros valores permitiriam que outras formas de vida inteligente não-humana evoluíssem". Por que essa simples resposta não convenceu a maioria dos cosmologistas hoje, para simplesmente descartar a ajuste fino? A razão é que, na ausência de ajuste fino nem mesmo química, nem mesmo matéria existiriam, e muito menos planetas onde a vida pudesse evoluir e florescer. A resposta simples subestima o efeito verdadeiramente desastroso de alterar as constantes e quantidades. O Dr. Krauss pode perceber isso, pois ele tenta justificar a resposta simples, dizendo: "não temos nenhuma compreensão do locus de todas as formas de vida inteligente possíveis." Agora temos aqui um mal-entendido comum de sua parte. Em se tratando de ajuste fino não estamos preocupados com o loci de todas as formas de vida possíveis, mas apenas com loci regido pelas mesmas leis da natureza como as nossas (mas com diferentes valores das constantes e quantidades). É por isso que podemos prever como o mundo seria se fossem ligeiramente alterados os valores das constantes e quantidades. E o ponto é que quase todos esses mundos são desprovidos de agentes interativos inteligentes de modo que um mundo, escolhido aleatoriamente do conjunto de mundos, não tem chance significativo de permitir a vida.

Finalmente, o Dr. Krauss apela para a hipótese de Muitos Mundos para explicar qualquer ajuste fino que existe. Ele opina: "Se existem muitos universos, [...] nós certamente esperaríamos nos encontrar apenas naqueles em que podemos viver". Esta afirmação é ou trivial ou patentemente falsa. O sentido em que o consequente é verdadeiro, ou seja, não podemos observar um universo incompatível com a nossa existência, é trivial e independente da cláusula antecedente. Mas se o Dr. Krauss quer dizer que a nossa observação de um universo altamente improvável, finamente ajustado é explicado por um efeito de auto-seleção, ou seja, que os observadores devem observar o universo para ser ajustado, então sua afirmação é falsa porque, como expliquei no debate, mundos observáveis povoados com cérebros de Boltzmann não foram demonstrados improváveis, então no caso não temos nenhuma razão para esperar para nos encontraríamos em um mundo em que agentes corpóreos interativos podem viver.

Valores e Deveres Objetivos Morais

O Dr. Krauss, aparentemente, considera a minha Teoria do Mandamento Divino como uma espécie de voluntarismo, de acordo com a qual Deus arbitrariamente compõe deveres morais. Mas pensar assim é estar desatento ao que eu disse. No minha visão, Deus é o paradigma (não apenas uma exemplificação) da bondade perfeita. Ele é essencialmente amável, compassivo, imparcial, generoso, e assim por diante, e os Seus mandamentos refletem necessariamente Seu caráter. Portanto, não existe um mundo possível em que Ele ordena o assassinato e estupro como nossos deveres morais.

Por que não dispensar Deus? Porque, então, se perdeu qualquer fundamento para os valores e deveres morais objetivos. Observe que o Dr. Krauss estava completamente perdido para nos dizer por que, na sua visão naturalista, a moralidade não seria nada mais do que o subproduto subjetivo do condicionamento biológico e social.

A última afirmação do Dr. Krauss de que diferentes grupos religiosos têm diferentes pontos de vista morais é simplesmente irrelevante, em primeiro lugar, porque estamos lidando não com a epistemologia moral, mas com a ontologia moral. Segundo, é irrelevante porque a existência de pontos de visões morais incorretas não faz nada para invalidar o ponto de vista que é, de fato, correto.

Os Fatos Históricos concernentes a Jesus de Nazaré

É realmente decepcionante encontrar um eminente físico que ensina em uma grande universidade estadual afirmando tal absurdo como "há historiadores que duvidam da existência histórica de Jesus." Se uma pessoa tão inteligente pode ser tão ignorante dos estudos históricos, e tão facilmente induzido a adotar este tipo de asneira da internet e YouTube, que esperança há para o homem comum?

Prof Krauss mais uma vez mostra-se desatento ao meu argumento. Eu não afirmei que "a maioria dos eruditos do Novo Testamento acreditam na ressurreição". Eu não tenho ideia se isso é verdade. Em vez disso, eu disse que a maioria dos estudiosos do Novo Testamento aceitam a historicidade dos três fatos que mencionei a respeito do destino de Jesus: (1) a descoberta de seu túmulo vazio, (2) as aparições pós-morte de Jesus e (3) o fato de que seus discípulos chegaram a acreditar que Deus o havia ressuscitado dentre os mortos. Esses três fatos são múltiplas vezes e independentemente atestados em fontes muito antigas e são consistentes em seu núcleo. É por isso que a maioria dos acadêmicos históricos os aceitam por razões históricas, não por convicção teológica.

Eu, então, afirmei que a ressurreição de Jesus é a melhor explicação para estes fatos. O Dr. Krauss, evidentemente, não compreende as duas etapas do argumento. A vontade dos discípulos de morrer em nome da verdade de sua proclamação da ressurreição é evidência para o fato (3) que mencionei acima, não para a própria ressurreição. A sua vontade de morrer mostra a sinceridade de sua crença, em contraste com as antigas teorias de conspiração. O Dr. Krauss afirma que é mais provável que alguma teoria da conspiração seja verdadeira do que um verdadeiro milagre ter ocorrido. Isso apenas reafirma sua lealdade ao argumento de Hume contra a identificação de milagres, que ele mencionou em seu primeiro discurso e que, como expliquei, tem sido exposta como demonstravelmente falaciosa à luz da teoria da probabilidade moderna, mais recentemente, por exemplo, pelo filósofo da ciência agnóstico John Earman da Universidade de Pittsburgh em seu Hume’s Abject Failure[4] (A propósito, a insinuação do Dr. Krauss de que a crença na ressurreição de Jesus deriva da influência dos mitos pagãos, também é baseada em academicismo que está mais de 100 anos atrasado. [5]) O Dr. Krauss realmente não sabe do que ele está falando nesta área.

Notas Conclusivas

Eu acho que é evidente que todas as refutações fáceis do Prof. Krauss falham. Dr. Krauss está absolutamente correto que esses argumentos envolvem questões sutis e interessantes e espero que no futuro ele faça um verdadeiro esforço para envolver-se mais substantivamente com elas. [6]

  • [1]

    Veja discussão sobre este e outros modelos em William Lane Craig e James Sinclair, “The Kalam Cosmological Argument,” em The Blackwell Companion to Natural Theology, ed. Wm. L. Craig and J. P. Moreland (Oxford: Wiley-Blackwell, 2009), pp. 101-201; além disso veja William Lane Craig e James Sinclair, “On Non-Singular Spacetimes and the Beginning of the Universe,” em Scientific Approaches to Classical Issues in Philosophy of Religion, ed. Yujin Nagasawa (London: Macmillan, a ser impresso).

  • [2]

    Veja Quentin Smith, “The Concept of a Cause of the Universe,” Canadian Journal of Philosophy 23 (1993) 1-24.

  • [3]

    Roger Penrose, The Road to Reality (New York: Alfred A. Knopf, 2005), pp. 762-5.

  • [4]

    John Earman, Hume’s Abject Failure: The Argument against Miracles (Oxford: Oxford University Press, 2000).

  • [5]

    Para uma exposição no nível popular interessante dessa hipótese, veja Mark Foreman, “Challenging the ZEITGEIST Movie: Parallelomania on Steroids,” em Come, Let Us Reason, ed. Paul Copan and William Lane Craig (Nashville: Broadman and Holman, a ser publicado).

  • [6]

    Todos os cinco desses argumentos são explorados em considerável profundidade em The Blackwell Companion to Natural Theology, ed. William L. Craig e J. P. Moreland (Oxford: Wiley-Blackwell, 2009). Sobre o argumento da contingência ver Alexander Pruss, “The Leibnizian Cosmological Argument,” pp. 24-100; sobre o começo do universo ver William Lane Craig and James Sinclair, “The Kalam Cosmological Argument,” pp. 101-201; sobre o ajuste fino ver Robin Collins, “The Teleological Argument: An Exploration of the Fine-Tuning of the Universe,” pp. 202-281; sobre o argumento moral ver Mark D. Linville, “The Moral Argument,” pp. 391-448; e sobre a ressurreição de Jesus ver Timothy e Lydia McGrew, “The Argument from Miracles: A Cumulative Case for the Resurrection,” pp. 593-662. Por mais difícil que seja para o iniciante acreditar, Dr. Krauss mal encostou na superfície desses argumentos.

- William Lane Craig