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#175 Academicismo Irrelevante

October 28, 2014
Q

Pergunta #1:

Caro Dr. Craig,

Eu li o capítulo de amostra do seu livro On Guard [Em Guarda] e ele levantou algumas perguntas que tenho sobre a eficácia da apologética.

Na p. 17 você escreve: "No caso de pessoas inteiramente secularizadas, dizer para crer em Jesus é como dizer para acreditar em fadas ou duendes! É assim absurda que a mensagem de Cristo soa aos seus ouvidos. "

Eu concordo que a cultura determina em grande parte quais crenças vamos achar plausíveis. Você diz que uma das principais razões para a apologética é a de moldar a cultura para que as reivindicações do evangelho soem plausíveis. Isso é bom, mas como especificamente se faz isso? Todos os argumentos cosmológicos do mundo não irão mover as pessoas se eles acharem que Deus não é mais plausível do que um bule de chá celestial, ou um monstro de espaguete voador. O fato de que alguns apologetas cristãos têm sentido a necessidade de responder seriamente a essas caricaturas, não faz o cristianismo parecer mais plausível. E isso é só quando se trata de existência de Deus, muito menos as reivindicações mais específicas do cristianismo.

Eu costumava ter grandes esperanças para a eficácia da apologética, mas ao longo dos anos aquela esperança diminuiu. E eu não posso necessariamente culpar meus interlocutores seculares, porque eu igualmente desconsidero os Mórmons e Testemunhas de Jeová que ocasionalmente vêm à minha porta.

Apesar de você contar algumas anedotas onde a apologética tem sido eficaz, você também diz na p. 22 "não devemos esperar que um incrédulo, já na primeira vez que ouvir nossa defensa apologética de fé." Se este for o caso, em grande parte porque o cristianismo parece, prima facie, implausível para pessoas seculares, não parece ter muito sentido tecer argumentos logicamente impenetráveis, ou montar evidências para a ressurreição. Estes argumentos não vão superar a implausibilidade inicial da alegação.

Eu não tenho me atualizado na literatura apologética por algum tempo. A ascensão do Neo Ateísmo e a "conversão" de Antony Flew me fizeram pensar e ler sobre o assunto novamente. Mas eu simplesmente não posso afastar a sensação de que os argumentos que uma vez eu considerei tão importantes simplesmente não parecem muito convincentes mais. Quão otimista você está de que essa cultura vai mudar tão cedo, ou de que os argumentos apologéticos são destinados a serem ouvidos contra esta presunção de improbabilidade?

Obrigado,

Dan

Estados Unidos

Pergunta #2:

Ao considerar a paisagem contemporânea de questões que incomodam os crentes e não crentes; por que o Craig foca em temas como "temporalidade divina" ou "molinismo" (onde menos de 0.01% dos leigos irá se beneficiar das visões de Craig) em vez de questões como a inerrância Bíblica, CTA contra CTJ, e o debate das origens onde Craig tem passado muito pouco tempo? Como um grandes pensadores cristãos do mundo, Craig não deveria estar redirecionando seus esforços? Sim, eu sei que ele aborda outros temas em suas obras (ainda secundários em relevância em comparação com os tópicos acima); e eu não acredito que essas áreas do campo de batalha não estão sendo tratados por aqueles do calibre de Craig.

(Por favor, note: Eu tenho o maior respeito por Dr. Craig e li quase tudo que ele escreveu [alguns de seus livros duas e três vezes] antes que alguém pense que estou levantando esta pergunta com qualquer motivo que não seja sincera preocupação com o que as pessoas estão realmente lutando lá fora.)

Brian

Estados Unidos

United States

Dr. Craig responde


A

Oh céus, Dan, eu estava falando sobre a preservação do clima de plausibilidade que ainda existe nos Estados Unidos quanto ao cristianismo! Se você acha que é ruim aqui, você deveria tentar viver em uma cultura como a da Bélgica ou da Turquia, ou mesmo do Canadá. Você não tem ideia de quão positivamente disposta a cultura americana ainda é para o teísmo e até mesmo em relação ao cristianismo.

Desde que o cristianismo bíblico deslizou para os armários intelectuais do fundamentalismo temos perdido terreno na cultura americana. Não que os fundamentalistas acreditassem nas coisas erradas; e sim que a sua retirada da cultura e instituições principais que se mostrou tão prejudicial para a causa de Cristo. Deixamos as principais denominações e seminários se afastarem e deixamos as universidades seculares a fim de nos separarmos em nossas próprias instituições. O que você está sentindo agora sobre a deriva da cultura americana para longe da fé cristã é, em parte, o produto de décadas de negligência por parte da igreja americana. O problema não é que a apologética rigorosa foi tentada e falhou; o problema é que ela não foi tentada. Na década de 1950 que literatura apologética estava disponível para a formação da igreja? Carnell, Van Til, Clark - e era isso!

Leia as obras dos Neo Ateus. Essas pessoas estão interagindo com uma forma de cristianismo que é quase desprovida de qualquer argumentação apologética. Lembro-me do espanto de Christopher Hitchens assim que ele começou a confrontar cristãos intelectualmente engajados que poderiam dar argumentos para a fé e responder às suas objeções. Ele achava que isso era algo novo, uma forma até então não experimentada de cristianismo! O Neo Ateísmo é o fruto amargo de um cristianismo intelectualmente desengajado que foi dominante por décadas na cultura americana.

Agora isso está mudando. O atual renascimento do interesse em apologética é, em grande parte, o efeito da revolução na filosofia cristã que vem acontecendo desde o final da década de 1960. O impacto desta revolução está apenas começando a ser sentida na igreja através dos trabalhos de quem pode popularizar o pensamento de acadêmicos cristãos como Alvin Plantinga e outros. O seu impacto na cultura como um todo ainda não foi sentido. Então, não se desespere desistindo cedo demais! Se você fizer isso, então você vai ter uma cultura em suas mãos neste país como a que prevalece em toda a Europa: um secularismo enraizado.

Então, como vamos impactar a cultura através da apologética? Como tenho enfatizado repetidamente, não através de apologética do nível popular, mas por meio de bolsas de estudos cristão. Precisamos ajudar os alunos a ver que tornar-se professor universitário é um chamado do Senhor para ser sal e luz em um ambiente por vezes hostil. Se acadêmicos cristãos mostram que eles merecem um lugar na mesa em nossas melhores universidades, então seus colegas vão tratar suas crenças com maior respeito na sala de aula, e a percepção do cristianismo entre os estudantes irá mudar. A universidade é a instituição mais importante, formando a cultura ocidental, e por isso a universidade deve ser a arena na qual damos testemunho de Cristo pelo calibre da nosso academicismo cristão.

Agora, esta conclusão diz respeito à sua pergunta, Brian. Em meu trabalho como um acadêmico cristão, decidi publicar nas melhores revistas profissionais de filosofia e teologia que eu podia e com editoras acadêmicas não-evangélicas. Fazer filosofia de qualidade a partir de uma perspectiva cristã é, talvez, a forma mais importante que um filósofo cristão como eu pode impactar sua disciplina favoravelmente para Cristo. No meu trabalho eu tenho me concentrado nos dois pilares centrais da fé cristã: a existência de Deus e a ressurreição de Jesus. Defender essas duas verdades é fundamental para todo o resto que fazemos. As questões que você menciona são quase irrelevantes em comparação com essas, e de pouca importância para a cultura em geral, por mais importantes que possam parecer na subcultura evangélica isolada.

Quando eu me tornei um filósofo, eu tinha que decidir sobre uma área de especialização. Eu escolhi a doutrina de Deus, especificamente uma análise filosófica dos principais atributos de Deus. Eu nunca sonhei que seria uma investigação tão vasta! Até agora eu tenho escrito sobre a onisciência divina e eternidade divina e atualmente estou envolvido na investigação sobre a aseidade divina. Eu escolhi temas pelas quais eu sou apaixonadamente interessado, não temas "relevantes", porque eu queria que meu trabalho fosse um trabalho de amor em vez de trabalho penoso, e porque eu queria que a minha contribuição ultrapassasse a minha existência. A ironia é que repetidas vezes eu vejo que, na minha sessão de perguntas e respostas com estudantes, as perguntas que surgem eu posso responder justamente porque eu tenho estudado intensamente a natureza do tempo ou teorias do conhecimento divino como molinismo ou filosofia da matemática. Eu só tenho que rir de como o Senhor tem usado o meu estudo desses temas "irrelevantes" para impactar a vida dos outros para Cristo.

Tome, por exemplo, a pergunta de Frédéric da semana passada. Ele é um cristão francês, uma raça muito rara. Ele está pensando sobre questões relativas à natureza do tempo e do espaço. Ele precisa saber que existem pensadores cristãos que se engajaram seriamente com tais perguntas no trabalho deles, e procuraram integrar as respostas em uma cosmovisão cristã defensável. Devo redirecionar os meus esforços e deixar Frédéric torcer no vento? Nunca!

Finalmente, Dan, seus pontos sobre a relativa ineficácia da apologética na evangelização confunde dois papéis diferentes que eu estabeleci para a apologética: moldar a cultura e a evangelização dos incrédulos. Sucesso no segundo NÃO é uma condição prévia para o primeiro! Nós moldamos a cultura de modo que quando as pessoas ouvem a apresentação do Evangelho elas podem responder a ele com a consciência limpa intelectualmente. Relativamente poucos podem chegar à fé por causa dos argumentos, mas os argumentos ajudaram a moldar um ambiente cultural no qual o Evangelho pode ser ouvido como uma opção real. Apologética tem, por assim dizer, lhes dado permissão para acreditar quando seus corações são movidos.

Claro que, como eu disse, algumas pessoas vêm a Cristo através de argumentos apologéticos (olhe alguns dos depoimentos que recebemos!). Cristo os ama e morreu por eles também, e por isso não devemos ignorá-los. Além disso, como já expliquei, o número dessas pessoas desmente sua importância porque elas muitas vezes são os agitadores na cultura americana. Portanto, ganhar essas pessoas pode ter um grande impacto para o Reino.

Agradeço a Deus todos os dias por esta incrível vocação que tenho o privilégio de cumprir.

- William Lane Craig