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#612 Como encontrar a Cristo

April 01, 2019
Q

Oi, Dr. Craig.

Vou tentar ser breve. Em minha busca pela verdade, acho que as provas a favor de Deus e do cristianismo que o senhor e outros apologistas apresentam parecem muito coerentes, bem estruturadas e inteligentes. Depois de muitos meses assistindo a seus debates e vídeos no YouTube e lendo várias obras suas, comparando-as com muitas outras cosmovisões, pessoalmente, cheguei à conclusão que as provas de que o cristianismo é verdadeiro fazem mais sentido do que qualquer outra cosmovisão, científica, histórica e moralmente. Sendo assim, decidi dar ouvidos a seu conselho de ler uma cópia do Novo Testamento por conta própria; de colocá-lo à prova para ver se nele encontrava a Deus, mas, após muito tempo de busca e oração, trombei com uma bela barreira.

O senhor mencionou muitas vezes em seu testemunho pessoal que, em dado momento, depois de ler as histórias de Jesus quanto adolescente, clamou a Deus e, então, veio a conhecê-lo, além de dizer que Deus pode ser experimentado e que o senhor, de fato, o experimenta. O que mais me deixa em dúvida da verdade do cristianismo é que eu não tenho certeza de que já experimentei a Deus, apesar de clamar por ele e perguntar se é mesmo real e que as Escrituras são verdadeiras. Ainda me vejo com muita incerteza de que eu possa depositar plena confiança num Jesus que me é tão calado e que não me concedeu a experiência que o senhor e muitos outros cristãos afirmam ter tido. João 14.13 diz: “E eu farei tudo o que pedirdes em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho”. Isto não inclui pedir-lhe por fé ou algum tipo de prova ou certeza de que ele é real? (E não quero dizer um sinal como uma carruagem de fogo no céu, pois meus sentidos poderiam, ainda assim, enganar-me.)

Se Jesus é verdadeiro, adoraria entregar-lhe minha vida, servi-lo e agradá-lo. Ele parece incrível, e as mensagens que ele pregou vão tão ao encontro do que julgo ser certo e errado, mas, se é para eu dedicar minha vida a algo, é melhor ter certeza ABSOLUTA de que seja verdade.

Por favor, se puder, diga-me como posso experimentar a Deus em minha vida do mesmo modo como o senhor e muitos cristãos alegam ter feito. Suspeito que a forma mais simples de expressar meu problema é a seguinte: confio que a gravidade funciona porque a experimento pessoalmente, a cada dia em minha vida. Confio na minha família porque experimento seu amor pessoalmente, todos os dias. Como, porém, depositar minha confiança e esperança para a vida após a morte e para o propósito e sentido últimos, contando com alguém que jamais experimentei? Seus principais argumentos são ótimos, a Bíblia é excelente, mas sinto que preciso do mesmo tipo de experiência pessoal para, enfim, crer. Já que Deus (se for real) se mantém tão calado, apesar da minha busca, onde estou errando? Confessei-lhe meus pecados. Tento andar em seu caminho. Na sua opinião, o que devo fazer? Obrigado.

Joe

Estados Unidos

United States

Dr. Craig responde


A

Muito admiro sua determinação em buscar a Deus, Joe. Embora suas perguntas demandem uma conversa cara a cara para entender tudo que você está enfrentando, vou tentar ser o mais claro possível nesta resposta.

Entendo que já sabe um pouco da minha luta pessoal para encontrar a Deus. Simpatizo muito com sua luta para preencher a lacuna entre mente e coração, para encontrar experimentalmente aquilo que intelectualmente acredita ser verdade. Um versículo bíblico que me serviu de consolo durante aquele período de minha vida foi: “em meio a muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus” (Atos 14.22). Como alguém que busca a Deus com sinceridade, você deve afirmar e se apegar à promessa de Jesus: “Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e a porta vos será aberta; pois todo o que pede, recebe; quem busca, acha; e ao que bate, a porta será aberta” (Lucas 11.9-10).

Um erro que você parece estar cometendo é exigir uma experiência de Deus antes de se comprometer com ele. A promessa de Jesus que você cita em João 14.13 foi, diferentemente da promessa dada aos que o buscam, entregue aos discípulos, e não aos que estão do lado de fora. Ele nunca promete dar “algum tipo de prova ou certeza de que ele é real”. Pense em Tomé, o cético. Quando Jesus lhe apareceu, disse: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20.29). Tomé deveria ter crido com base no testemunho apostólico da ressurreição de Jesus. Do mesmo modo, temos esse mesmo testemunho (sem contar o testemunho do Espírito Santo) e devemos crer a partir desse fundamento. Além disso, você está se preparando para um baque ao exigir que tal experiência seja indubitável: “se é para eu dedicar minha vida a algo, é melhor ter certeza ABSOLUTA de que seja verdade”. Eu diria exatamente o contrário! Se você se vir perdido nas montanhas e perceber que uma terrível tempestade está se formando, você não vai exigir certeza absoluta ao encontrar um montanhista que lhe indica o caminho que, segundo ele diz, o levará à segurança. Diante de sua situação desesperadora, você não está em posição para exigir certeza absoluta de que ele lhe indicou o caminho verdadeiro. Quando estava em busca de Deus, ocorreu-me que, mesmo que as chances da veracidade do cristianismo fossem uma em um milhão, valia a pena crer, por causa da grande recompensa que estava em jogo.

Parece confusa sua exigência por uma experiência com Deus, Joe. Você está pedindo uma experiência como meio de saber que o cristianismo é verdade, de modo a assumir um compromisso? Então, como expliquei, é inapropriado e desnecessário. Pergunte a si mesmo: creio ou não que o cristianismo é verdadeiro? Se você pensa que o cristianismo é verdadeiro, nenhuma experiência a mais é necessária para atestar sua verdade. Você pode assumir seu compromisso com Cristo com base naquilo que sabe ser verdadeiro (ainda que não tenha certeza absoluta).

Ou será que você está frustrado porque, depois de chegar a crer intelectualmente, você deseja que isto seja real na sua experiência também? Aí é outra história! É neste caso que precisaríamos, de fato, ter uma conversa pessoal, Joe, para entender exatamente quais passos você deu para encontrar a Deus. Obviamente, já leu o Novo Testamento. Excelente! O que fez a partir do que descobriu ali? Você disse: “Confessei-lhe meus pecados. Tento andar em seu caminho”. Confessar os pecados é um bom primeiro passo. Porém, parece que, a partir daí, você está tentando viver a vida cristã. É como pôr o carro à frente dos bois, Joe. Antes de podermos viver a vida cristã, precisamos, conforme o disse Jesus, “nascer de novo” (João 3.1-15). Em nosso estado pecaminoso de alienação em relação a Deus, somos espiritualmente mortos. Somos como um telefone celular sem bateria. Os sinais de Deus estão por toda parte ao nosso redor, mas não podemos recebê-los porque estamos mortos, espiritualmente falando. Precisamos ser recarregados, ou melhor, precisamos receber uma bateria novinha em folha. Como isto se dá? Ao receber o Espírito Santo, que habita em nós e nos regenera, trazendo nova vida espiritual e restaurando nosso relacionamento com Deus. Como o Espírito Santo atua no lugar de Cristo, costumamos falar desse evento como “receber a Cristo”.

Portanto, fica a seguinte questão, Joe: você já nasceu de novo? Você talvez diga: mas como é que posso saber? Bem, vou explicar assim: além de confessar seus pecados, você já dedicou sua vida a Cristo como seu Salvador e Senhor? Dedicar-lhe a vida como seu Salvador significa que você não está confiando em sua própria bondade ou esforços para salvar-se, mas confiando inteiramente no sacrifício substitutivo que ele fez por você na cruz como o fundamento para seu perdão. Dedicar-lhe a vida como Senhor significa reconhecê-lo como Deus e dono de sua vida e destino. Se ainda não assumiu este compromisso, é isto que precisa fazer antes de ter uma experiência com Cristo.

Para ajudá-lo a dar esse passo, proponho um modelo de oração que costumo usar para alguém que está nessa busca assumir tal compromisso de vida. As palavras não têm nenhuma propriedade mágica; é a atitude de seu coração que conta.

Deus, realmente preciso de ti. Reconheço que deixei minha vida num caos e que pequei contra ti em pensamentos, palavras e ações. Creio que enviaste Cristo ao mundo para tirar meu pecado por meio de sua morte na cruz e que o ressuscitaste dentre os mortos. Por isso, da melhor forma que consigo, dedico minha vida a ele como meu Salvador e Senhor. Entra na minha vida, perdoa meus pecados, transforma minha vida e faz de mim a pessoa que queres que eu seja. Agradeço por ouvires esta oração.

Pois então, talvez você faça esta oração, Joe, e de imediato nada sinta de diferente. Onde está, então, a experiência com Deus? Seja paciente. Todos somos diferentes do ponto de vista emocional e psicológico. Nossa fé em Cristo se baseia em fatos, e não em nossos sentimentos. Algumas pessoas têm uma experiência quando assumem tal compromisso. Para outros conhecidos meus, a experiência não chegou até que se batizaram em obediência ao mandamento de Cristo. Para outros, talvez venha por meio do culto ou da oração. Concentre-se em Deus e deixe com ele os sentimentos. Na verdade, concentrar-se na busca por uma experiência, em vez de Deus, é uma sutil forma de idolatria, a saber: colocar nossa experiência com Deus à frente do próprio Deus. A autenticidade de nosso compromisso se mostra com mais clareza quando perseveramos a despeito da ausência de uma experiência com Deus.

Ainda assim, existem disciplinas espirituais que você deve praticar como discípulo de Cristo para ajudá-lo a continuar em sua caminhada com Cristo:

Batismo

Oração frequente

Leitura bíblica frequente

Meditação

Confissão imediata de pecado conhecido

Assiduidade na igreja e culto coletivo significativo

Serviço num corpo eclesiástico

Compartilhar a fé com descrentes

Mais uma vez, quero enfatizar, Joe, que estas disciplinas são primariamente para quem já assumiu um compromisso com Cristo, e não um meio para se tornar cristão.

Oro para que minhas palavras o ajudem em algo, Joe, e que você venha a conhecer a Cristo pessoalmente como Salvador e Senhor.

- William Lane Craig