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#194 Jacob Kremer sobra a Tumba Vazia de Jesus

October 28, 2014
Q

Re: O “fato” da Tumba Vazia ser baseado em academicismo ultrapassado?

Um amigo meu, e alguns, como Richard Carrier estão argumentando que a sua afirmação de que a maioria dos acadêmicos críticos aceitam o fato do túmulo vazio está desatualizado baseado na obra de Jacob Kremer (1977). Aparentemente até mesmo Kremer mudou sua visão sobre o túmulo (cf. http://war-on-error.xanga.com/700536947/infidel-guy-radio-richard-carrier-william-lane-craig-jacob-kremer-and-the-empty-tomb/).

Você pode oferecer qualquer defesa sobre a afirmação?

Bênçãos,

Rob

United States

Dr. Craig responde


A

Fiquei surpreso com a afirmação de que Jacob Kremer havia mudado de ideia sobre a historicidade do túmulo vazio de Jesus. Por um lado, eu suponho, ele ter mudado de ideia não importa, já que o ponto em que eu o cito era o estado da opinião acadêmica em relação à historicidade do túmulo vazio (independentemente do que ele acreditava sobre o assunto). Ainda assim, a afirmação de que ele não poderia mais ser contado entre a maioria dos estudiosos a este respeito merecia exploração. Isso parecia suspeito para mim.

Quando eu verifiquei a fonte em que se baseia a afirmação, não passou "no teste do cheiro." É uma entrevista privada e não publicada por um estudante sul-africano chamado Ferdie Mulder com o Prof Kremer. Além disso, o inglês de Kremer é simplesmente horrível (e o de Mulder está longe de ser perfeito), de modo que a entrevista é uma bagunça ilegível. A situação é ainda agravada pela aparente ignorância do alemão de Mulder, de modo que quando Kremer começa fazendo uma distinção entre o Leib (corpo) e Leichnam (cadáver), Mulder não entende do que ele está falando, como é evidente por seus erros brutos de ortografia. Então, eu tinha motivos para suspeitar que Kremer estava sendo mal interpretado aqui.

Eu decidi enviar uma pergunta para o professor Kremer na Áustria, mas quando eu perguntei ao meu professor assistente Joe Gorra para obter o seu endereço de e-mail, Joe descobriu que o professor Kremer morreu no último fevereiro! http://www.austriantimes.at/news/Panorama/2010-02-15/20644/Biblical_scholar_Jacob_Kremer_dies

Implacável, voltei para a entrevista de Mulder para uma outra olhada. No final da entrevista Kremer se refere à sua contribuição para um futuro Festschrift que é seu "último" (ou que ele quis dizer "mais recente"?) trabalho sobre o assunto, intitulado “Auferstehung Jesu – das grosse Geheimnis, Hinführung zum Glauben an die Osterbotschaft heute – ein Versuch.

Mulder gentilmente me forneceu uma cópia deste artigo. Ao ler, eu descobri rapidamente que Mulder tinha, de fato, compreendido mal Kremer. Na página 2 Kremer diz:

Aus den unterschiedlichen und zum Teil uneinheitlichen, ja widersprüchlichen Angaben über eine Entdeckung des leeren Grabes kann allenfalls gefolgert werden, dass das Grab am Ostermorgen wahrscheinlich leer war, mehr aber nicht.

--que, traduzido, significa,

Dos dados diferentes e em parte sem harmonia, até mesmo contraditórios, sobre a descoberta do túmulo vazio pode no máximo se inferir que o túmulo na manhã de Páscoa provavelmente estava vazio, e mas nada mais.

Ele não poderia ter sido mas claro.

Além disso, a preocupação de Kremer é teológica, isto é, o desenvolvimento de uma teologia da ressurreição. Ele está inclinado a rejeitar o dualismo antropológico em favor de uma antropologia monista. Ele não acredita na distinção entre a alma e o corpo. É por isso que ele não quer descrever a ressurreição como o reencontro da alma de Jesus com o seu corpo ou cadáver.

O que é intrigante aqui é que Kremer partilha da opinião de Tomás de Aquino que a alma é a forma do corpo e, portanto, por mais estranho que pareça, um cadáver inanimado não é um corpo humano. O meu colega J. P. Moreland defende essa mesma visão. Se você perde seu braço em um acidente, então aquele objeto separado de você é, apesar das aparências, não é um braço humano (porque já não é animado por uma alma). É por isso que Kremer faz sua distinção entre o Leichnam (cadáver) e o Leib (corpo). Ele acha que o Leichnam de Jesus foi retirado e enterrado no túmulo, mas já que sua alma continuou vivendo e a alma não é distinta do Leib, o corpo continua vivendo também, e assim a ressurreição de Jesus ocorreu imediatamente após a sua morte! Toda esta linha de pensamento é, obviamente, teologicamente conduzida, não historicamente motivada. Como um exegeta, Kremer ainda pensa que é historicamente provável que o túmulo em que o Leichnam de Jesus foi enterrado foi encontrado vazio, como dizem os Evangelhos. Na verdade, a afirmação da historicidade do túmulo vazio de Jesus de Kremer é ainda mais impressionante, precisamente porque sua perspectiva filosófico-teológica não o exige. Dada a sua teologia, o túmulo vazio se torna quase inútil. A evidência, e nada mais, obriga-o a aceitá-lo.

O que podemos aprender com este episódio infeliz? Duas coisas, eu penso: Primeiro, é importante dominar línguas estrangeiras ao lidar com escritores que não usam o inglês. Um conhecimento de alemão teria prevenido toda esta confusão. Em segundo lugar, é importante compreender os pressupostos filosófico-teológicos da visão de um escritor. Uma vez que se percebe que Kremer está abordando isso de uma perspectiva tomista, sua diferenciação de outra forma desconcertante entre Leichnam e Leib torna-se perspicaz. --da mesma forma, sua afirmação desconcertante que a ressurreição de Jesus é simultânea com a morte de Jesus.

No que diz respeito às tendências no academicismo atual, como a chamada terceira busca do Jesus histórico continua inabalável, erudição do Novo Testamento continua achando nos Evangelhos fontes historicamente dignos de confiança para a vida de Jesus, incluindo o que aconteceu com o corpo de Jesus após a crucificação. (Veja a pergunta #143.) Quem pensa que houve uma reversão do academicismo sobre o túmulo vazio desde que Jacob Kremer escreveu seu Die Osterevangelien em 1977 só mostra que ele não conhece a literatura (sobre quais ver mais recentemente Michael Licona, The Resurrection of Jesus [A Ressurreição de Jesus] [IVP: 2010], pp 461-2).

- William Lane Craig