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#182 A Causa do Universo é um Criador não causado, Pessoal que sem o Universo não tem Começo, é Imutável

October 28, 2014
Q

Caro Dr. Craig,

Sua pesquisa acadêmica em teologia natural tem sido uma grande ajuda para mim em minhas explorações espirituais. Eu já não sou ateu, mas hoje um humilde agnóstico graças ao impacto que você e outros filósofos têm gerado. No entanto, eu ainda tenho alguns problemas em aceitar a sua conclusão do Argumento Cosmológico Kalam. As duas primeiras premissas e a conclusão realmente não são tão problemáticas para mim, mas tenho dificuldade em aceitar a quarta premissa, que você afirma explicitamente no Blackwell Companion to Natural Theology [Companheiro Blackwell à Teologia Natural] como:

4. Se o universo tem uma causa, então existe um Criador não causado, pessoal do universo, quem sem o universo é sem começo, imutável, imaterial, atemporal, sem espaço, e extremamente poderoso.

Eu não acho que você pode conceitualmente deduzir qualquer uma destas propriedades da premissa 3 por diversas razões que vou enumerar por conveniência. (Sim, os contra-argumentos são longos, lamentavelmente. Mas já que você recebe um grande volume de e-mails, eu percebi que poderia muito bem lhe enviar todas as minhas dúvidas sobre o Argumento Cosmológico Kalam (ACK) em uma pergunta Godzilla, em vez de uma série, já que você provavelmente não seria capaz de abordar todas como perguntas separadas.)

1. Se a conclusão final do ACK passa no teste, então temos a existência de uma mente incorpórea em nossas mãos. No entanto, como muitos de seus críticos ateus têm apontado, isso parece ser incoerente! Agora, eu provavelmente consigo adivinhar que você iria responder dizendo que não há nada explicitamente incoerente em uma mente atemporal e sem (limite de) espaço e empurrar o ônus da prova para mim para mostrar que é. Esta resposta, no entanto, falha por duas razões. Em primeiro lugar, mesmo que eu não consiga mostrar que uma mente incorpórea é lógica ou metafisicamente impossível, isso não significa que existe. Pode-se dizer a mesma coisa para tartarugas atemporais, sem (limite de) espaço e imateriais que seguram a terra e causam terremotos, tal conceito não é explicitamente incoerente, mas você não acreditaria em tal coisa por causa disso! Mas em segundo lugar, eu acho que há evidências de que uma mente incorpórea é impossível. Cada exemplo de uma mente que já vimos é espaço-temporal e limitada a um corpo, de modo que, por razões indutivas apenas, somos justificados em rejeitar a existência de uma mente incorpórea. Por que postular algo que literalmente vai contra toda a nossa experiência anterior? Além disso, podemos entender mentes apenas em termos temporais e espaciais; amar, decidir, agir e criar são todos fenômenos espaço-temporais, de modo que uma mente atemporal, sem limite de espaço não poderia ter criado o universo. Para mostrar o contrário, você teria que desenvolver um modelo em que traços pessoais poderiam ser estendidos para mentes atemporais e sem espaço, o que então colocaria o ônus da prova diretamente sobre seus ombros.

2. Em seguida você afirma que a causa do universo deve ser atemporal e sem (limite de) espaço ou de outra forma você teria a existência de espaço e tempo antes da existência do espaço e do tempo, o que é uma contradição. Mas esta jogada faz uma série de suposições. Como você sabe que o nosso universo é a única região espaço-temporal que existe? Como você sabe que não poderia ter tido outras regiões do espaço-tempo fora do universo? Você precisaria responder a estas perguntas para provar este ponto. Mas, pior ainda, você implica durante todo o seu artigo que os seus argumentos contra um infinito real aplicam-se apenas a tempo diferenciado; ainda é possível que a causa do universo seja temporal num sentido indiferenciado, o que significa que todos os seus outros sub-argumentos para a pessoalidade da causa fracassaria, uma vez que eles pressupõem que a causa do universo seja atemporal.

3. Você diz que a causa do universo deve ser imutável, mas há um pequeno problema com isso. Quando Deus criou o universo, um ser atemporal, houve uma mudança de um estado das coisas atemporal, sem espaço para um estado espaço-temporal das coisas, o que mostra que a atemporalidade não implica falta de mudança.

4. Você então apela para a Navalha de Occam, para mostrar que só deve haver uma causa para o universo. Mas por exemplo, considere o seguinte:

1. Eu tenho exatamente um filho.

2. Eu tenho exatamente dois filhos.

Se você não estivesse ciente dos dados demográficos de filhos nos EUA, você não estaria justificado em aceitar qualquer uma dessas afirmações, uma vez que ambas têm o mesmo escopo (a maioria das pessoas têm, de fato, 2 filhos). Agora, considere:

1. Eu tenho exatamente um filho.

2’. Eu tenho mais de um filho.

Aqui, o escopo de [2'] é maior do que [1], porque existem mais casos em que [2'] é verdade do que [1]. Mas se aplicarmos o mesmo raciocínio para a causa do universo, nós então veríamos que deveria haver múltiplas causas em vez de uma, já que é mais provável que o universo poderia ser criado por dois, três ou quatro pessoas em vez de apenas uma. Isso mostra que a simplicidade é apenas um guia para a verdade em casos muito particulares.

5. Em seguida, você usa um dilema para ajudar a mostrar que a causa do universo deve ser pessoal. Você diz que as únicas entidades atemporais e sem espaço conhecidas são os objetos abstratos e as mentes, e já que objetos abstratos não possuem causalidade, a causa do universo deve ser uma mente. Mas eu tenho várias dificuldades com esse salto. Primeiro de tudo, você dá um falso dilema. Como você afirma, com razão, em seu podcast sobre o dilema Eutífron, a premissa maior de um verdadeiro dilema é a disjunção de uma proposição e sua negação. O dilema objeto abstrato/mente que você apresenta certamente não se encaixa nessa descrição. Em seguida, eu acho possível que objetos abstratos tenham poderes causais. Por exemplo, a segunda lei da termodinâmica e a lei do meio excluído são objetos abstratos, mas que causam o aumento de entropia do universo e as proposições barras serem verdadeira e falsa. Como Pruss aponta em seu artigo Blackwell:

"Uma resposta radical para isso é questionar o dogma de que proposições e números são causalmente ineficazes. Por que eles devem ser? A forma do Bem de Platão parece muito com um dos abstrata, mas nós o vemos nos diálogos intermediários como explicativamente eficaz, com a República usando seu papel como analogia do sol na produção de vida. Pode parecer um erro categórico falar de uma proposição ou um número como causando qualquer coisa, mas por que deveria ser? Evidentemente, as proposições e os números são muitas vezes considerados como não sendo espaço-temporais. Mas de onde vem a noção de que uma causa deve ser espaço-temporal? Se estamos de acordo com Newton contra Leibniz, que a ação à distância é pelo menos uma possibilidade metafísica, embora a física atual possa não apoiá-la como uma realidade, a pressão para ver espacialidade, ou mesmo espaço-temporal como essencial para a causalidade, é capaz de dissipar - a restrição que exige relacionamento de espaço-temporalidade e a relata causal é tão injustificada quanto a restrição que exige contato físico.

É certo que, uma avaliação de Hume de causalidade, em que causalidade não é nada senão conjunção constante, só funciona para as coisas no tempo, uma vez que Hume distingue a causa do efeito por prioridade temporal. Mas a menos que sejamos dogmaticamente presos com esta avaliação de Hume, de tal forma que nos faça negar, dogmaticamente a priori, a existência de divindades e outros seres causalmente eficazes não-espaço-temporais, isso não deve preocupar-nos.

Além disso, há realmente alguma razão para supor que proposições e números entram em relações causais. O principal problema na epistemologia da matemática é de como podemos conhecer algo como um número, uma vez que um número não pode ser uma causa de qualquer sensação ou crença em nós. É plausível que a nossa crença de que algum item x existe apenas pode constituir conhecimento se o próprio x tem um papel causal em nossa formação dessa crença ou se alguma causa de x tem um papel causal. O primeiro caso ocorre quando sabemos por causa da fumaça que houve um incêndio, e este último quando sabemos a partir do som de um fósforo riscado que haverá um incêndio. Mas se algo não entra em qualquer relação de causalidade, então parece que a nossa crença sobre ele não é de qualquer forma afetada por ele ou por qualquer coisa relacionada com ele, e, portanto, a nossa crença, se coincide com a realidade, somente o faz por coincidência, e, portanto, não como conhecimento. É claro que existem tentativas de resolver o enigma nos livros. Mas o quebra-cabeça nos dá alguma razão para repensar o dogma de que os números não podem nem causar nem serem causados."

Além disso, mesmo se a causa do universo pudesse ser coerentemente uma mente (embora mentes precisem de corpos e tempo para agir), isto não indica que a causa é pessoal. Poderia ser o caso de que a mente que criou o universo seja impessoal, como um indivíduo com morte cerebral ou falta de livre-arbítrio libertariano, muito parecido com uma máquina. Se assim fosse, então, mesmo mostrando que a causa do universo foi uma mente, não iria mostrar que foi Deus.

6. Finalmente, o seu uso do princípio islâmico de determinação, que afirma que apenas um agente libertariano (ou particularizador), querendo a criação do universo desde a eternidade, pode explicar por que o universo começou a existir ao invés de não existir, para provar que a causa do universo é pessoal, é falho. Em primeiro lugar, nós parcimoniosamente devemos aceitar pela Navalha de Occam a singularidade inicial do Big Bang como a causa do universo em vez de estender a cadeia causal ainda mais até Deus. Agora, você não pode recorrer ao princípio de determinação para refutar que a singularidade seja a causa final do universo, porque ele não funciona como um conjunto mecânico de condições necessárias e suficientes. Pelo contrário, ele é, para citar Greg Scorzo, "um ponto sem lei e indeterminista que potencialmente pode emitir qualquer configuração de partículas a qualquer momento com igual probabilidade." Para ser justo, porém, você rejeita a existência da singularidade, dizendo em seu livro com Quentin Smith que é ontologicamente equivalente a nada e que "um objeto que não tem dimensões espaciais e duração temporal parece não se qualificar como um objeto físico, mas como uma conceituação matemática"(199). No entanto, isso é pouco convincente para mim. Primeiramente, só porque algo é um conceito matemático não significa que não existe; como eu tenho certeza que você sabe, muitos filósofos têm argumentado que objetos abstratos existem, embora sejam não-espaciais e não-temporais. Além disso, Deus também é atemporal e não-espacial, mas você não rotula Deus como um formalismo conceitual. Mas ainda mais prejudicial é que esta posição anti-realista contradiz seus outros argumentos para o início do universo. Isto porque, na cosmologia do Big Bang, a singularidade inicial é uma consequência ontológica da expansão termodinâmica do universo, ou seja, se você adotar uma posição anti-realista com a singularidade, então você deve jogar fora o seu argumento a partir da segunda lei da termodinâmica para a premissa 2 do ACK com ela.

Em seguida, você usa o princípio de determinação para explicar porque o universo começou a existir 13 bilhões de anos atrás, ou antes, depois, ou até mesmo nenhuma das alternativas. Isto, no entanto, sofre de vários problemas. Para começar, isso pressupõe uma visão absolutista Newtoniana do tempo, em que o tempo existia infinitamente, mesmo antes do universo. De acordo com este ponto de vista, quando Deus quer que o universo exista desde a eternidade, "eternidade" é definida como "um tempo infinito." Agora, você pergunta em seu livro original, de 1979, “se o big bang ocorreu em uma massa super densa existente desde a eternidade, então por que o big bang ocorreu há apenas 15 bilhões de anos? Por que a massa de matéria esperou por toda a eternidade para explodir?"(117). No entanto, se adotarmos, como você faz, uma visão relacional de tempo e, consequentemente, designamos "eternidade" como sinônimo de "atemporal," então essa pergunta não faz sentido porque o universo não poderia ter explodido "antes", ou poderia "esperar", uma vez que teria existido em um estado atemporal das coisas. Só faz sentido sob uma visão Newtoniana do tempo, que seus argumentos filosóficos e científicos para a premissa 2 do ACK refutam. Além disso, sua análise de eternidade enfraquece o caso para Deus como a causa do universo, pois a singularidade atemporal também pode ser uma causa eterna que gera um efeito temporal. E já que você diz que, porque Deus é eterno, ele não requer uma causa, pode-se usar a Navalha de Occam, e aplicá-la para a singularidade, isentando-a de ter uma causa também. Então, para usar a sua defesa filosófica da premissa dois, bem como o seu compromisso com o teísmo ortodoxo e a conclusão final do ACK, você involuntariamente equivoca-se entre as visões relacionais e Newtonianas de eternidade.

Mas, mesmo se deixarmos tudo isso passar, um criador pessoal não é a única maneira de explicar o início do universo existindo desde a eternidade. Afinal de contas, uma causa indeterminista, impessoal poderia resolver o problema ou poderia ser algo totalmente diferente que ninguém tenha pensado ainda. Para mostrar dedutivamente que um agente libertariano causou o universo a existir, seria preciso esgotar todas as outras opções possíveis, que eu acho que não pode ser feito. E este ponto é fundamental porque se você não pode fazer isso, então você não tem um argumento dedutivo primordial com que destruir os argumentos indutivos que mencionei contra uma mente incorpórea.

Então, em suma, acho que o ACK falha, ironicamente, não por causa de suas premissas científicas ou filosóficas em que você tem colocado mais esforço para defender, mas na sua premissa teológica, a que você dedica apenas cerca de 5 páginas para defender no Blackwell Companion to Natural Theology [Companion Blackwell]. Agora, não me interprete mal, não é que eu não queira acreditar em Deus, pelo contrário, eu realmente gostaria que Deus existisse. Mas até que essas objeções, que em minha mente são irrespondíveis, sejam tratadas de forma adequada, eu não posso aceitar o ACK, e muito menos o teísmo em cheio. Então, Doutor Craig, se você tiver quaisquer insights para responder a estas, eu ficaria mais do que feliz em ouvir. Como eu disse, tenho você em alta estima e ficaria muito grato se você pudesse considerar estas objeções infelizmente longas.

Obrigado por seu tempo,

Cyrus

Estados Unidos

United States

Dr. Craig responde


A

Wow, Cyrus, quanta coisa! Embora algumas dessas objeções me pareçam equivocadas, muitas delas levantam perguntas substantivas que merecem uma resposta. Para que eu consiga passar por todas elas, minhas respostas vão ter que ser muito concisas.

É importante tomar essas objeções em uma ordem diferente da que você apresentou, uma vez que os meus argumentos constroem-se um sobre o outro. Por exemplo, um dos meus argumentos para a causa ser pessoal é sua atemporalidade e imaterialidade, por isso deve-se considerar essas propriedades antes de olharmos para os argumentos para a pessoalidade da causa. Então, precisamos considerar as objeções na ordem lógica apropriada.

Mas, antes, vamos observar o que você não contesta: de que há uma causa do começo do universo e que esta causa é no causada, sem começo, e extremamente poderosa. Até aí estamos de acordo.

Então, em primeiro lugar, essa primeira causa no causada é sem mudança? A resposta é "Sim", se os meus argumentos contra a possibilidade de uma regressão infinita de eventos são sólidos. Já que você não contesta esses argumentos, podemos concordar que há um evento absolutamente primário. Uma vez que mudança é um evento, a causa do primeiro evento deve ser, portanto, sem mudança.

A isso você retruca:

3. Quando Deus criou o universo, um ser atemporal, houve uma mudança de um estado das coisas atemporal, sem (limite de) espaço para um estado espaço-temporal das coisas, o que mostra que a atemporalidade não implica falta de mudança.

Concordo que Deus mudou na criação do universo. Mas isso só prova que Ele não é imutável. Não confunda sem mudança com imutabilidade. Um ser atemporal deve ser sem mudança, mas isso não implica que é imutável (incapaz de mudar). Você está confundindo uma propriedade de facto com uma propriedade modal. Deus pode ser sem mudança, mas mutável sem o universo.

Portanto, agora sabemos que a causa do universo é sem mudança sem o universo. Algumas importantes propriedades seguem. Em primeiro lugar, sua imaterialidade. Qualquer coisa material está em constante mudança, pelo menos no nível molecular e atômico. Então, nós estamos lidando com um ser imaterial aqui. Em segundo lugar, sua atemporalidade. Em uma visão relacional de tempo, o tempo não existe na ausência absoluta de eventos. Assim, um estado sem mudança deve ser um estado atemporal. Mesmo em uma visão não-relacional de tempo, o tempo poderia, no máximo, ser um tempo indiferenciado, em que, literalmente, nada aconteceu; nenhuma mudança ocorre. Em terceiro lugar, ser sem espaço. Tudo o que existe no espaço deve ser temporal, pois sofre mudança pelo menos extrínseca, em relação às coisas em torno dele. Então a nossa causa deve transcender o espaço e tempo, pelo menos sem universo.

Isto imediatamente desqualifica sua objeção:

2. A causa poderia ter existido em outras regiões do espaço-tempo fora do universo.

Pois elas não se caracterizam pela falta de mudança, imaterialidade, atemporalidade e sem (limite de) espaço. Além disso, esta especulação já foi prejudicada pelos argumentos contra uma regressão infinita de eventos (inclusive em outras regiões do espaço-tempo) e tornou improvável à luz da nossa discussão de cenários de multiverso.

Então nós temos um causa do universo sem causa, sem começo, sem mudança, imaterial, atemporal, sem (limite de) espaço, e enormemente poderosa. Já não há nada como isso em uma visão naturalista do mundo, mas se encaixa bem com o teísmo clássico. Mas há mais! Considere agora se esta causa é pessoal. Eu dou três argumentos para a pessoalidade da primeira causa.

Em primeiro lugar, o argumento, inspirado pelo Princípio Islâmico de Determinação, que apenas um agente livre poderia explicar a origem de um efeito temporal com um começo a partir de uma causa sem mudança e atemporal. (Veja a exposição do argumento tanto no Companion Blackwell, pp. 193-4 ou no Reasonable Faith [Wheaton, Illinois: Crossway, 2008], pp. 153-4.)

Você objeta:

6. Nós parcimoniosamente devemos aceitar pela Navalha de Occam a singularidade inicial do Big Bang como a causa do universo em vez de estender a cadeia causal ainda mais até Deus.

Esta réplica é fútil porque se a singularidade cosmológica inicial é um estado físico das coisas, como você pensa, então é o primeiro estado do universo (o seu ponto-limite inicial) e, por isso, começou a existir um tempo finito atrás. Não poderia ter surgido do nada, como você concorda. Portanto, deve haver uma causa transcendente do primeiro estado do universo. Aqui o meu segundo argumento, emprestado de Swinburne, para a pessoalidade da primeira causa torna-se relevante. Como eu explico,

existem dois tipos de explicação causal: explicações científicas em termos de leis e condições iniciais e explicações pessoais em termos de agentes e suas vontades... Agora, um primeiro estado do universo não pode ter uma explicação científica, uma vez que não há nada antes dele, e, portanto, não pode ser explicado em termos de leis que operam nas condições iniciais. Ele só pode ser explicado em termos de um agente e suas volições, uma explicação pessoal (Companheiro Blackwell à Teologia Natural, pp. 192-3).

A Navalha de Ockham não tem nada a ver com isso. A pergunta é se tudo o que começa a existir tem uma causa.

Por outro lado, é claro, se a singularidade é apenas uma idealização matemática, então não existe e, por conseguinte, não podem ser a causa de qualquer coisa. Sua resposta de que os objetos matemáticos são vistos por alguns filósofos como objetos reais evidencia um mal-entendido sobre a natureza de idealizações na ciência. Idealizações, como um ponto no infinito em que duas linhas paralelas se encontram, são tidas como inexistentes; que é o próprio ponto de serem chamadas de idealizações. Elas são ficções úteis.

Quanto à Segunda Lei da termodinâmica, o que ela requer é a finitude do passado, e não que a singularidade tenha sido um estado físico. Eu acho que você está confundindo a defesa de Penrose, do que ele chama de a hipótese de Curvatura de Weyl, com a validade da Segunda Lei. Muitos cosmólogos aceitam a validade da segunda lei sem aceitar a alegação de Penrose, de que a singularidade inicial explica a Segunda Lei.

Você diz que eu "uso o princípio da determinação para explicar porque o universo começou a existir há 13 bilhões de anos, em vez de antes ou depois." Isso me surpreendeu, pois eu pensava que a minha posição sempre tivesse sido a de que essa pergunta não tem sentido, já que eu defendo uma visão relacional de tempo. Na passagem que você cita, o objetivo era provar justamente que o Big Bang não ocorreu em uma massa super densa existente desde a eternidade! Tempo (e espaço) surgiram com o Big Bang, e por isso é sem sentido perguntar por que isso não aconteceu antes. Assim, tudo que você diz sobre o tempo Newtoniano antes da criação não representa, de forma alguma, o meu ponto de vista.

Finalmente, o seu apelo a "uma causa indeterminista e impessoal ou outra coisa inteiramente que ninguém tenha pensado ainda" simplesmente não tem nenhum mérito como uma explicação alternativa, porque não temos ideia do que você está falando. Se a causa da origem do universo não é uma causa pessoal, indeterminista, então tem que ser uma causa impessoal, indeterminista, que também é sem causa, sem começo, sem mudança, imaterial, atemporal, sem (limite de) espaço e extremamente poderoso. Mas o que é isso? O que você ofereceu não é uma explicação alternativa, mas apenas palavras vazias.

Observe que, se esse tipo de raciocínio fosse permitido para minar uma explicação oferecida, a ciência estaria paralisada, pois quando confrontada com qualquer explicação poder-se-ia sempre recorrer a algum "algo" desconhecido como a causa real. Tenho certeza que você concordaria que seria uma loucura.

Então eu acho que esse argumento é uma razão muito forte para pensar que uma causa não-causada, sem começo, sem mudança, imaterial, atemporal, sem (limite de) espaço, e enormemente poderosa do universo é também um agente livre.

Mais recentemente, o meu trabalho em objetos abstratos me convenceu de que há um argumento muito mais rápido e direto em apoio à pessoalidade da primeira causa do universo. Eu vim a perceber que a descrição " não-causada, sem começo, sem mudança, imaterial, atemporal, sem (limite de) espaço, e extremamente poderoso" é, com exceção da última propriedade, uma descrição que também caracteriza os objetos abstratos como números. Além disso, eu não estou ciente de qualquer coisa além de uma mente ou um objeto abstrato que os filósofos têm considerado possuir as propriedades de um ser sem causa, sem começo, sem mudança, imaterial, atemporal, e sem espaço. Já que objetos abstratos são essencialmente incapazes de causar, no entanto, segue que a causa do universo deve ser uma mente.

Sua resposta é

1. Uma mente incorpórea é incoerente.

Sério? Por que você acha isso? Qual é o seu argumento? A bola está agora do seu lado da quadra.

Você precisa entender que (1) não é tanto uma objeção ao argumento kalam como um argumento positivo para o ateísmo. Já que, de acordo com o teísmo clássico, Deus é uma mente incorpórea, se (1) é verdade, Deus não pode existir. O argumento ateísta é, em efeito,

(1) Deus, se existe, é uma mente incorpórea.

(2) Uma mente incorpórea é incoerente.

(3) Portanto, Deus não existe.

Está nas mãos do ateu dar algum argumento em apoio a sua premissa (2). Simplesmente assumir que uma mente incorpórea é incoerente seria petição de princípio.

Você tem duas respostas a este desafio: "Em primeiro lugar, mesmo que eu não consiga mostrar que uma mente incorpórea é lógica ou metafisicamente impossível, isso não significa que ela existe." Claro que não, Cyrus! Quem pensou que a falha em mostrar que algo é incoerente é um argumento positivo que existe? Eu não! Em vez disso eu dei um argumento que, se sólido, prova que existe uma causa sem causa, sem começo, sem mudança, imaterial, atemporal, sem espaço, e enormemente poderosa do universo. A única coisa que se encaixa nessa descrição é uma mente incorpórea. Agora cabe a você mostrar que isso é incoerente se você pensa assim.

Em segundo lugar, você diz: "Eu acho que há evidências de que uma mente incorpórea é impossível.” Ah, agora estamos chegando a algum lugar! Então, qual é a sua evidência? "Todo exemplo de uma mente que já vimos é espaço-temporal e limitado a um corpo, de modo que, por razões indutivas apenas, somos justificados em rejeitar a existência de uma mente incorpórea." Isto é muito fraco, Cyrus! Você deveria dar uma razão porque uma mente incorpórea é incoerente e, portanto, impossível. Sua prova não faz nada para mostrar isso. Na verdade, se você é um dualista que pensa que os seres humanos são compostos de corpo e mente, então a mente é uma substância distinta de, mesmo se conjugada com o corpo, e a questão da própria sobrevivência humana, mesmo após a morte do corpo torna-se uma questão importante, sem falar do fato de que pode haver mentes que nunca são conjugadas aos corpos. Que evidências existem de que mentes não são substâncias imateriais que podem existir fora de corpos?

Você pergunta: "Por que afirmar algo que, literalmente, vai contra toda a nossa experiência anterior?" Bem, pelas três razões que eu dei do porquê a causa do universo é plausivelmente pessoal. Na verdade, eu dei três argumentos para a existência de pelo menos uma mente incorpórea. Agora é a sua vez de dizer porque esse não pode ser o caso.

Finalmente, você diz, "podemos entender mentes apenas em termos temporais e espaciais; amar, decidir, agir e criar são todos fenômenos espaço-temporais, de modo que uma mente atemporal e sem (limite de) espaço não poderia ter criado o universo." Agora, aqui, finalmente temos um argumento para a incoerência da minha conclusão. O problema é: Eu já o refutei. Veja os capítulos relevantes no Time and Eternity (Wheaton, Illinois: Crossway, 2008), pp 77-86 ou em God, Time, and Eternity (Dordrecht: Kluwer, 2001, pp 43-55, sobre se a noção de uma pessoa atemporal é coerente.

(Eu me pergunto se parte do problema aqui é que quando afirmo que a causa do universo ou é uma mente ou um objeto abstrato, não-filósofos pensam que estou afirmando a existência real de tais coisas. Não, não, estou apenas afirmando que estes são os candidatos conhecidos para algo que poderia se encaixar na descrição. Que eu não estou supondo que essas coisas realmente existem é evidente pelo fato de que eu sou fortemente inclinado a pensar que objetos abstratos não existem de fato. Mas eu os incluo como um candidato porque eles em grande parte se encaixam na descrição.)

Isso nos leva à objeção

5. A Causa do universo poderia ser um objeto abstrato.

No que diz respeito a sua observação sobre dilemas, meu argumento é logicamente válido, mesmo que as alternativas não sejam contraditórias: A ou B; não B; portanto, A. Você contesta a segunda premissa, afirmando que objetos abstratos talvez possam estar em relações causais.

Cyrus, você precisa apreciar quão desesperada essa objeção é. É praticamente reconhecido universalmente entre os metafísicos que impotência causal é característica de e até mesmo definitiva para objetos abstratos. Se este é o caminho que você toma, então o seu desespero para refutar o argumento a qualquer custo se tornará evidente para todos.

Você afirma, "a segunda lei da termodinâmica e a lei do meio excluído são objetos abstratos, mas que causam o aumento de entropia do universo e as proposições barras serem verdadeira e falsa.”Cyrus, por favor! A próprio Segunda Lei não causa nada; é a realidade física descrita pela Segunda Lei que tem efeitos causais. As relações lógicas entre proposições, como implicação, contradição, e assim por diante, não são relações causais. A Lei do Meio Excluído não está em uma relação causal com proposições para impedi-las de alguma forma de tomar valores de verdade contraditórios.

Quanto à citação de Alexander Pruss, vou repetir o que eu disse sobre Alex na Pergunta da Semana 109: Alex é um pensador muito livre que se deleita em lançar argumentos contra a parede e ver se eles grudam. Neste caso, o argumento não cola. As Formas de Platão são muito diferentes do que os teóricos contemporâneos querem dizer com objetos abstratos. Um dos problemas que atormenta a perspectiva de Platão é o famoso argumento do "terceiro homem" de explicar como as Formas poderiam de algum jeito estarem relacionadas, como ele alegou, a objetos físicos concretos. Além disso, deve estar claro até agora que estou de acordo com Pruss que a falta de espaço-temporalidade não implica falta de causalidade. O problema com objetos abstratos não é apenas que eles estão além do espaço e do tempo, mas que eles não são agentes e, portanto, literalmente, não pode fazer nada. Eles não têm poder ou capacidade de agir. Quanto ao argumento epistemológico, ironicamente, este é amplamente considerado o mais poderoso argumento contra a realidade dos objetos abstratos! (Ver meu Creation out of Nothing [Grand Rapids: Baker, 2004], p. 171.) Ninguém acha que isso prova que os objetos abstratos são causalmente relacionados a nós; e sim isso é usado para provar que eles não existem!

Agora, eu concordo com você que esse argumento apenas nos dá uma mente que criou o universo, não uma mente auto-consciente ou pessoa. Mas isso já está muito além de qualquer coisa que o ateísmo ou naturalismo poderia contemplar. Quando suplementado com meus outros argumentos, é parte de um caso acumulativo poderoso para a pessoalidade da primeira causa do universo.

Finalmente, temos objeção

4. O argumento não prova que o monoteísmo é verdade.

Eu admito o ponto. Eu nunca disse que o argumento prova que há exatamente um Criador Pessoal do universo. Mas, como você nota, a Navalha de Occam ordena que nós não multipliquemos as causas além da necessidade. Somos justificados em postular apenas as causas necessárias para explicar o efeito. Tudo que é necessário, neste caso, é um Criador Pessoal. Postular mais seria injustificado.

Quanto à sua ilustração sobre as crianças, eu tenho que confessar que eu não te entendo. Dizer que (2') é mais provável do que (1) requer algumas informações prévias contra as quais a probabilidade é avaliada. Por exemplo, se você é um chinês nativo, então dada a política do filho único da China, (1) é mais provável do que (2'). Da mesma forma, quando você diz que é mais provável que o universo tenha muitas Criadores Pessoais, e não exatamente um, só posso imaginar que informações prévias justificariam uma conclusão tão estranha.

Se me pedissem para justificar o monoteísmo, eu iria fazê-lo através de apelos a outras evidências, como o argumento ontológico e o endosso de Jesus de Nazaré do monoteísmo judaico.

Mais uma vez, ao discutir tais questões nós deixamos o ateísmo muito para trás. Quando eu vejo você pressionando estas últimas acusações, Cyrus, fico confuso porque você parece mais interessado em encontrar uma fuga do argumento do que em encontrar a verdade. Você sempre pode encontrar uma fuga de qualquer argumento, se você estiver disposto a pagar um preço bastante alto. Mas você deveria olhar para o seu próprio coração e se perguntar: "Por que estou tão empenhado em evitar a conclusão deste argumento a qualquer custo? O que está levando a fazer isso?" Espero que a sua mente esteja realmente tão aberta como você diz que está.

- William Lane Craig