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#678 Criação e causação simultânea

July 17, 2020
Q

Bonjour, Dr. Craig.

Obrigado por seu trabalho e por tudo o que faz pela fé cristã. Minha pergunta diz respeito à causação temporal. Muitos céticos dirão que Deus não pode ter criado o universo, pois não havia tempo no qual ele poderia tê-lo criado. Eu subscrevo, porém, à sua noção de que, em vez de dizer que “Deus existia antes do universo existir”, digamos que “Deus existia atemporalmente sem o universo”. No entanto, estou lutando com uma analogia que foi dada por Trent Horn, e esperava que o senhor a abordasse.

Horn diz que “a causa de um efeito nem sempre tem de ocorrer antes de um efeito”, isto amparando com Kant: “A maior parte das causas operantes na natureza são simultâneas aos seus efeitos... se a causa tivesse um só momento antes de cessar de existir, o efeito não poderia ter surgido”. Horn, então, usa a analogia do tijolo atravessando a janela: “Neste caso, é evidente que o tijolo é jogado antes da janela quebrar, e a janela não quebra antes do tijolo a atingir. Note, porém, que há uma breve sobreposição em que a causa (o tijolo que atravessa o ar) é simultâneo ao efeito (a janela a quebrar). Se o tijolo desaparecesse mesmo um microssegundo antes de encostar na janela, o efeito nunca aconteceria. Assim, deve haver um momento em que a causa e o efeito aconteçam ao mesmo tempo”. Neste exemplo, seria a causa não o tijolo em si, mas a ação de jogar o tijolo, fazendo que causa e efeito não sejam eventos simultâneos? Se sim, quais outros exemplos podemos dar aos nossos amigos céticos de que causas e efeitos sejam eventos simultâneos?

Merci et que Dieu vous bénisse.

Paul

Canadá

Canada

Dr. Craig responde


A

Obrigado por seus votos de sucesso, Paul! Escolhi a sua pergunta principalmente porque você argumentou com tanta persuasão que a simultaneidade de causa e efeito é não apenas plausível, mas praticamente inescapável, puxando o tapete de debaixo de críticos populares da doutrina da criação e, em especial, do argumento cosmológico kalam.

Vale a pena observar, de passagem, que não defendo causação atemporal, a visão segundo a qual, na criação, a causa (Deus) é atemporal e o efeito (o mundo), temporal. Pelo contrário, argumento contra tal visão. Porém, vale também observar que, caso alguém acredite que causas são, por necessidade, temporariamente anteriores aos seus efeitos, o teísta tem a liberdade de manter que, embora o tempo físico (tempo enquanto executa o seu papel na física) possa ter começado no Big Bang, Deus existia literalmente antes do Big Bang, num tempo metafísico e não-métrico em que não se pode distinguir segundos, minutos, horas e dias, uma visão defendida por John Lucas, Richard Swinburne e Alan Padgett.

Minha própria visão é que, na criação, a causa é simultânea ao efeito, ou seja, os dois ocorrem no mesmo momento de tempo, a saber, o primeiro momento de tempo. Deus, em sua existência sozinho, sem o mundo, é atemporal, mas, em sua coexistência com o mundo, é temporal. O momento em que Deus causa o universo a vir a existir é o momento em que o universo vem a existir. O que é mais óbvio do que isto? Como é que a causa e o efeito não seriam simultâneos?

Portanto, concordo plenamente com a afirmação kantiana de Horn de que “a causa de um efeito nem sempre tem de ocorrer antes de um efeito”. De fato, como é que a causa e o seu efeito não seriam simultâneos? Como disse Horn, “Se o tijolo desaparecesse mesmo um microssegundo antes de encostar na janela, o efeito nunca aconteceria”. Adoraria ver os críticos da causação simultânea nos explicar como uma influência causal pode saltar por tal lacuna temporal para produzir um efeito num tempo posterior. Numa cadeia causal, o último elo nela tem de ser simultâneo ao efeito, ou o efeito não ocorreria.

Neste exemplo, seria a causa não o tijolo em si, mas a ação de jogar o tijolo, fazendo que causa e efeito não sejam eventos simultâneos?” Não, a causa da quebra da janela é a colisão do tijolo contra ela. Você é responsável por jogar o tijolo que atingiu a janela e, por isso, talvez seja criminalmente culpável por quebrar a janela. Você é a causa agente que deu início à cadeia causal, levando a janela a quebrar-se. Você, ao jogar o tijolo, é a causa remota da quebra da janela, mas a causa aproximada é a colisão do tijolo contra a janela.

Pois bem, na criação, não há nenhuma diferença entre causa remota e causa aproximada, pois não há nenhum nexo causal entre Deus e o mundo: Deus imediatamente traz à existência o mundo. Os seus atos são como ações básicas que adoto em relação ao meu próprio corpo. Se quiser pensar sobre minhas férias de verão, faço-o imediatamente, sem ter, primeiramente, de causar algo no meio.

A única advertência a acrescentar, no caso, é que o ato de Deus de criar é a causa evento do universo vir a existir, enquanto o próprio Deus é a causa agente responsável pelo universo vir a existir. Imagine, por analogia, que você tenha quebrado a janela não por jogar um tijolo, mas por bater nela sozinho. Assim, o seu bater na janela seria a causa evento para a janela quebrar, e você seria a causa agente responsável pela janela quebrar. Igualmente, Deus é a causa agente que atua para trazer à existência o universo.

- William Lane Craig