#714 O Jesus zigótico
February 03, 2021Olá, Dr. Craig.
Quero agradecer do fundo do coração por seu trabalho. O senhor tem sido um dos meios mais importantes que Deus tem usado para me impedir de me desviar! Também tem sido um herói pessoal intelectualmente e por seu caráter cristão.
Agora que aguardamos o Natal neste período de advento, decidi fazer duas perguntas relacionadas à encarnação de Cristo. A primeira é esta: em que sentido Jesus era onisciente enquanto estava na forma de zigoto ou feto? Faz sentido usar conceitos de subliminar, subconsciente ou pré-consciente para quando ele era adulto, já com um cérebro, mas como é que um zigoto pode ter subconsciência?
A segunda pergunta é a seguinte: se, no presente, após a sua ascensão ao céu, Cristo não está em seu corpo físico ressurreto, e, se a natureza humana de Cristo é formada apenas pela união da sua alma divina com seu corpo humano, isto significaria que, no presente, ele não tem natureza humana? Além disso, se ele vai reassumir o seu corpo glorificado somente na sua segunda vinda, isto seria uma segunda encarnação?
Agradeço por responder à minha pergunta!
Rodrigo
Dr. Craig responde
A
Obrigado por enviar perguntas apropriadas para esta época do ano, Rodrigo, e que perguntas interessantes!
Em relação a Jesus quando ele era ainda zigoto no ventre de Maria, quero afirmar que ele era plenamente onisciente. A razão é que ele era plenamente divino, a segunda pessoa da trindade, agora em forma humana. É crucial entendermos que, segundo a cristologia ortodoxa, Jesus não é pessoa humana. Há apenas uma pessoa que é Jesus, e esta pessoa é o Logos, a segunda pessoa trinitária, eterna e pré-existente. Pensar que, além dessa pessoa divina, exista outra pessoa humana, Jesus, é cair no erro do nestorianismo e, assim, dividir a pessoa única de Cristo em duas pessoas, uma humana e uma divina. A igreja rejeitou o nestorianismo, afirmando que, no estado encarnado de Cristo (mesmo como zigoto), existe uma pessoa, uma pessoa divina, que tem duas naturezas, uma humana e uma divina. Não devemos dividir a pessoa nem confundir as naturezas. Assim, como pessoa divina, Jesus tinha todas as propriedades essenciais de Deus, incluindo onisciência. Obviamente, enquanto zigoto e mesmo posteriormente, ele não estava conscientemente ciente de tudo que sabia. Não precisamos dizer que o zigoto tinha um subconsciente, mas que ele era simplesmente inconsciente, e isto não precisa afetar a natureza ou pessoa divina.
Quanto à segunda pergunta, queremos afirmar que Jesus tem natureza humana mesmo em seu estado assunto. A encarnação não é estado temporário dos trinta e poucos anos de Jesus na terra. Antes, a sua ressurreição mostra que ele assumiu permanentemente natureza humana, a afirmação mais forte possível do valor da corporeidade humana.
Pode-se dizer que, em seu estado assunto, Jesus está localizado espacialmente em algum lugar, talvez em outro espaço-tempo distinto do nosso. Porém, como você, fico inclinado a dizer que, entre a sua ascensão e retorno corpóreo, Jesus, embora tenha natureza humana, não tem corpo. A razão é que ele saiu da nossa multiforma de espaço-tempo. A título de analogia, imagine um diapasão colocado dentro de um jarro de vácuo. Se você tocasse no diapasão, ele vibraria, mas não haveria nenhum som, porque não há nenhum meio para conduzir as ondas sonoras. Se você introduzisse ar dentro do jarro, as vibrações se manifestariam como som. O diapasão em vibração permanece intrinsicamente o mesmo nas duas situações, mas as suas manifestações são diferentes, a depender do meio. Igualmente, a natureza humana de Jesus agora não é manifesta como corpo físico, porque, uma vez que ele não está no espaço-tempo, não há nenhum meio para a expressão da sua natureza humana de forma tridimensional. Quando Cristo adentrar novamente na nossa multiforma de espaço-tempo, voilà: o seu corpo físico se tornará manifesto de novo. Será, em sentido literal, uma re-encarnação, mas não uma segunda assunção de natureza humana, já que esta se mantém constante do princípio ao fim.
- William Lane Craig