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#176 Verdadeiro Amor

October 28, 2014
Q

Caro Craig,

Muito obrigado por ter este site para compartilhar o que você aprendeu para ajudar os outros com suas perguntas. Tenho pensado muito recentemente sobre vários temas, mas eu acho que tudo se resume a conhecer o amor de Deus verdadeiramente.

Será que realmente sei que o mundo foi criado por motivos puramente amorosos:. O verdadeiro amor não espera nada em troca, então foi isso o que Deus fez?

1. Ao criar o mundo, ele não esperava nada em troca (como em resposta a Ele)?

2. Isto leva a "Jesus teria morrido pelo mundo se ninguém tivesse vindo a Ele?" Eu sei que Ele teria morrido pelo mundo inteiro mesmo que apenas uma pessoa fosse salva (a partir de um livro que li sobre alguém a quem foi dada essa série de visões de Deus).

3. Mas então isso leva a que grau Cristo realmente sofreu na cruz. Ele pagou pelos pecados do mundo, mas isso significa que ele tomou sobre si a experiência COMBINADA de todos os seres humanos vivos, e todos os que já viveram, indo para o inferno por toda a eternidade? Porque se houvesse um limite no Seu sofrimento, então o que você faz com isso?

Tipo, se eu soubesse que eu estava na estrada para o céu, e todos os meus amigos, família e todo o resto do mundo iria para o inferno por seus pecados a menos que, em vez disso, eu decidisse ir para lá, eu faria isso. Eu acho que é melhor uma pessoa ir para o inferno do que todas as pessoas irem para lá.

Portanto, o que eu estou dizendo é que, se Jesus literalmente assumiu o peso eterno do castigo do pecado de todos juntos (que os seres humanos não podem realmente compreender), então realmente, que tipo de dúvidas eu ainda teria!?

Obrigada!

Nancy

Australia

Dr. Craig responde


A

Como eu disse em resposta à pergunta de Mark algumas semanas atrás (#172), parece-me que a motivação de Deus ao criar é verdadeiramente amorosa. Eu não tenho certeza que concordo com você, Nancy, que o verdadeiro amor não espera nada em troca. Uma mulher que ama verdadeiramente seu marido, por exemplo, espera, corretamente, que ele a trate com respeito, que não a menospreze ou a abuse. Certamente tais expectativas são totalmente consistentes com ela realmente amando-o!

Mas deixemos isso passar. Acho que o que você quer dizer é que o verdadeiro amor é incondicional, e a Bíblia ensina que o amor de Deus é incondicional. Isso implica que Ele não espera nada em troca? Isso não segue. Pois Deus poderia ter outras propriedades que emitiriam obrigações para aqueles que Ele criou. Você esqueceu que Deus também é justiça perfeita, assim como amor perfeito. Como resultado temos certas obrigações morais para com Deus para cumprir, como adorá-Lo e amá-Lo como a fonte e origem da bondade suprema.

Eu acho que a piedade popular cristã muitas vezes ignora o fato de que somos moralmente obrigados a acreditar em Deus. Costumamos dizer a incrédulos que Deus os ama e lhes oferece uma relacionamento que eles podem livremente aceitar ou rejeitar. Isso é verdade até um certo ponto, mas não vai suficientemente longe. O que está faltando aqui é o fato de que, por causa de quem Deus é, temos o dever moral de acreditar, amar, e adorar a Deus com toda a nossa mente, coração e força, e quando deixamos de fazê-lo, estamos moralmente culpados diante dEle, e assim caímos sob a justa sentença de Sua justiça. Se Deus simplesmente piscasse para o pecado, então Ele não seria perfeitamente justo e, portanto, não seria perfeitamente bom.

Ao ignorar o fato de nossas obrigações morais para com Deus, a piedade popular cristã convida a resposta: "Que tipo de amor é esse? 'Acredite em mim, ou eu vou te mandar para o inferno!'" Essa réplica é inteiramente apropriada para um ser a quem não temos a obrigação moral de amar e obedecer. Mas quando entendemos a plenitude da natureza de Deus, quando vemos que enquanto temos a capacidade de rejeitar o amor de Deus e assim nos separar dEle para sempre, isso não implica que não haja consequências para tal escolha. Porque essa escolha é profundamente má, um Deus perfeitamente justo deve puni-la. Assim como podemos dizer que, enquanto eu tenho a liberdade de acelerar pela estrada a 100 quilômetros por hora, mas não tenho a desobrigação de fazer isso porque é contra a lei, então eu tenho a liberdade, mas não a desobrigação de não acreditar em Deus.

Agora, à luz disso, vamos pensar sobre suas perguntas:

1. Ao criar o mundo, Deus não esperava nada em troca (como em resposta a Ele)? Não, Ele esperava em troca que nós o amaríamos e O adoraríamos como o bem mais elevado. (Por "esperar" nós obviamente queremos dizer não "antecipar", mas "exigir." A pergunta é, temos certos requisitos ou obrigações morais para com Deus, e a resposta é claramente "Sim".) Na verdade, o primeiro e maior mandamento da lei judaica, de acordo com Jesus, foi: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento, e com todas as tuas forças" (Mc 12:30).

2. Será que Jesus morreria pelo mundo se ninguém tivesse vindo a Ele? Ninguém sabe ao certo a resposta a uma pergunta tão hipotética. Eu suspeito fortemente que Deus não iria criar um mundo no qual ninguém se salva. Na verdade, eu suspeito que, necessariamente, Deus não criaria um mundo assim, caso em que tal mundo é metafisicamente impossível, ou seja, não existe um mundo possível como você descreve.

3. Será que Cristo tomou sobre si a experiência COMBINADA de todos os seres humanos vivos e todos os que já viveram, indo para o inferno por toda a eternidade? Mais uma vez, ninguém sabe como é experimentalmente suportar a gravidade da ira de Deus sobre todos os pecados da humanidade combinados, exceto dizer que foi tão terrível que o próprio Jesus escondeu-se disso no Jardim do Getsêmani. O que queremos afirmar é que Cristo sofreu a penalidade pelos pecados de toda a humanidade (I João 2:2) e, portanto, todo o peso da justiça de Deus. Na cruz, vemos a reconciliação da justiça e do amor de Deus: Seu amor por nós ao Cristo tomar sobre si a punição pelo pecado que nós merecíamos, e a justiça de Deus como a punição para o pecado é paga integralmente. A cruz revela como Deus pode ser tanto perfeitamente justo quanto perfeitamente amoroso.

Isso é bom da sua parte, Nancy, de estar disposta a dar a sua salvação para o bem daqueles a quem você ama. Paulo disse a mesma coisa sobre seus companheiros judeus que haviam rejeitado o Messias Jesus (Romanos 9:1-5). Tenha a certeza de que Deus os ama ainda mais do que você. Quando compreendemos a profundidade do amor de Deus como mostrado na morte sacrificial de Cristo, e nossa obrigação moral de amar e adorar a Deus como o paradigma da própria bondade, então, como você diz, por que hesitar?

- William Lane Craig