#717 Wielenberg sobre Deus e o tempo

Dr. Craig responde

O prof. R. T. Mullins, editor do número da revista Theologica em que Erik Wielenberg publicou a sua crítica, convidou-me para escrever uma resposta para ser também publicada na revista (01 de janeiro de 2021, DOI: https://doi.org/10.14428/thl.v4i3.58143). Por isso, posso compartilhar com você aqui o que falei ali.

Wielenberg argumentou o seguinte: “Deus deve ser temporal em t1, pois o universo existe em t1; todavia, Ele deve ser atemporal em t1 a fim de ter o poder para criar o universo em t1. Os diversos compromissos de Craig, portanto, implicam que, em t1, Deus é tanto temporal quanto atemporal — uma contradição”.

Na minha visão, Deus é, de fato, temporal em t1, mas não penso que, para ter o poder de criar o universo em t1, Ele deva ser atemporal em t1 (isto é, deve ser verdade em t1 que Deus é atemporal). Mesmo em mundos possíveis nos quais Deus livremente se abstenha da criação, de modo que não há nenhum tempo em que Deus exista, Ele tem o poder de criar um mundo. A onipotência é propriedade modal que não acarreta nenhum exercício do poder criativo de Deus. Ao existir assim atemporalmente sem o universo, Deus tem o poder de criar o universo. O seu exercício real desse poder é simultâneo ao começo do universo e ao primeiro momento do tempo. Assim, a contradição é ilusória.

Em suma, não consegui discernir na minha hipótese nenhuma incoerência lógica.

PAREM AS IMPRESSORAS!

Acabou de ocorrer uma reviravolta bizarra em relação a esse meu diálogo com Erik Wielenberg. O editor Mullins me contatou, informando que Wielenberg observara uma citação incorreta da minha parte na minha resposta ao artigo dele. Wielenberg está convencido de que a diferença é filosoficamente importante e, por isso, Theologica concordou em lhe dar a oportunidade de escrever uma breve tréplica à minha resposta.

Acontece que, durante o processo editorial, Wielenberg submetera uma versão revisada do seu artigo, como é perfeitamente normal, mas a revista se esqueceu de me enviar o artigo revisado! Por isso, a minha resposta foi ao artigo original, e não ao artigo revisado e publicado. Theologica, então, vai postar uma errata, reconhecendo o próprio erro, em conjunto com a tréplica de Wielenberg. Ufa!

Qual é, então, a diferença entre a versão original e a versão revisada? Aqui vão elas lado a lado:

Versão original: “Deus deve ser temporal em t1, pois o universo existe em t1; todavia, Ele deve ser atemporal em t1 a fim de ter o poder para criar o universo em t1”.

Versão revisada: “Deus deve ser temporal em t1, pois o universo existe em t1; todavia, Ele deve ser atemporal em t1 a fim de ter, em t1, o poder de criar o universo”.

O original não especifica quando Deus tem o poder em questão, ao passo que a versão revisada o faz; além disso, o original especifica o poder de criar o universo em t1, enquanto a versão revisada especifica simplesmente o poder de criar o universo. Será que a revisão faz alguma diferença?

Não vi a tréplica de Wielenberg. No entanto, ao que me parece, a mudança serve apenas para introduzir incoerência lógica à qual não subscrevo. É logicamente incoerente dizer que um Deus atemporal tem, em t1, certo poder. Um Deus atemporal nem sequer existe em t1, quanto menos possui quaisquer propriedades naquele tempo! O que digo é que Deus deve existir em t1 a fim de ter, em t1, o poder de criar o universo. Sem problemas!